O cineasta Osgood Perkins não é comum – e nem quer ser. Filho da lenda Anthony Perkins, o diretor sempre buscou reverter a lógica das histórias que conta, surpreendendo de maneiras nem sempre claras. Isso vai desde o sombrio Maria e João, que dá uma dimensão diferente às bruxas, até chegar ao sucesso Longlegs, que fala de satanismo e maldição de um jeito divertido. E o mesmo se repete agora em O Macaco, estreia desta quinta-feira, 6.
Inspirado em um conto de Stephen King, o longa conta a história de dois irmãos gêmeos que encontram um macaco de brinquedo que pertenceu ao seu pai. Quando percebem coisas sinistras acontecendo à sua volta, os dois se desfazem do boneco e seguem com suas vidas. Anos depois, eventos terríveis começam a se desdobrar – com a volta triunfante do macaco. Uma espécie de It: Capítulo 2, com a maldição atravessando tempo e espaço.
‘O Macaco’: diferenças entre filme e livro
Enquanto o texto de King é sombrio, com os dois pés no terror, Osgood Perkins faz um caminho diferente. Assim como o filme de O Iluminado é gelo enquanto o livro é fogo, o cineasta americano transforma tudo numa comédia histriônica de terror – o tal do terrir, que é o nome dado para essa combinação de gêneros e que caiu em desuso nos últimos anos.

Não há interesse de Oz Perkins em transformar o filme em um novo Annabelle, M3GAN ou O Boneco do Mal. Pelo contrário: a partir desse macaco de brinquedo que espalha o terror e o mal por aí, o cineasta ri desse tipo de filme e de coincidências que tomam conta da trama.
A violência está presente em mortes escandalosas e geralmente chocantes. No entanto, com uma direção que privilegia o tosco, O Macaco mostra como tudo aquilo não é bem um terror, mas sim piadas de mau gosto com maldições, mortes e coincidências bizarras. A própria figura do macaco evoca isso com seus dentes amarelados, olhar vidrado e o tambor tosco (aliás, não é prato, como no conto, por causa de direitos autorais da Disney).
Perkins se vale dessa figura do brinquedo amaldiçoado, enfim, para rir da morte e encher certa pequenez nos seres humanos – que, vejam só, não conseguem enfrentar sequer um macaco com tambor. É, enfim, um filme que ri com o público e ri do público. Tudo junto.
O Macaco perde fôlego em momentos mais centrais de drama, quando tenta encontrar alguma história para contar no relacionamento entre os dois irmãos gêmeos, interpretados na fase adulta por um deslocado Theo James (da série Divergente). Mas isso é uma parte menor da coisa toda, que sabe ser bem humorado e violento mesmo em pontos extremos.

No final, assim, Oz Perkins se prova como um cineasta que tem algo a dizer. Ao ressuscitar o terrir e brincar com as ideias de Stephen King, que aprovou o resultado final do longa, o diretor toma para si uma história, reverte as expectativas e não tem medo de cutucar o cinema, a indústria e até o público, como se fosse uma entidade que aceita tudo e todos.
Afinal, quem tem medo de um macaco com tambor tem medo de qualquer coisa, não é mesmo?