O cinema brasileiro ganha um novo marco com Vitória, estrelado pela lendária Fernanda Montenegro, indicada ao Oscar em 1999. Baseado em uma história real, o filme retrata a coragem de uma mulher que desafia a criminalidade no Rio de Janeiro. Dirigido por Andrucha Waddington, o longa estreou nos cinemas na última quinta-feira, 13 de março, e promete impactar o público com sua narrativa intensa e atuações brilhantes.
Sobre o que é Vitória?
O novo filme de Fernanda Montenegro, Vitória, acompanha Dona Nina, uma idosa que mora ao lado de uma comunidade no Rio de Janeiro. Indignada com a criminalidade que ameaça os moradores do bairro, ela resolve filmar os crimes que vê da sua janela. Para conseguir justiça, ela conta com a ajuda de um jornalista, Fábio Godoy (Alan Rocha), que vê uma oportunidade de reportagem, mas teme pela segurança da senhora.
Quem está no elenco do filme?
Além de Fernanda Montenegro, o filme conta com Linn da Quebrada, Alan Rocha, Thawan Lucas, Laila Garin e Jeniffer Dias.
A emocionante história real por trás de Vitória
Vitória é baseado na impressionante trajetória de Joana de Paz, uma ex-empregada doméstica e massoterapeuta que, em 2005, passou a registrar em vídeo as atividades de traficantes no Rio de Janeiro, arriscando sua vida em busca de justiça. A história foi descoberta pelo jornalista Fábio Gusmão, que recebeu as gravações enquanto trabalhava no jornal Extra.
No filme, algumas mudanças foram feitas para proteger a identidade dos envolvidos: Joana, que era uma mulher negra e faleceu em 2023 aos 97 anos, foi retratada por Fernanda Montenegro, enquanto Fábio, um jornalista branco, é interpretado por Alan Rocha, um ator negro. A adaptação também serviu para reforçar a narrativa e dificultar a identificação dos personagens reais na época das filmagens – afinal, na época das gravações, a identidade de Joana da Paz ainda não havia sido revelada, para a proteção da mesma.
A trama inspirou o livro Dona Vitória Joana da Paz: O livro que inspirou o filme com Fernanda Montenegro, lançado em 2024.
Uma noite de emoção na pré-estreia do filme
A pré-estreia de Vitória foi um evento memorável, e teve cobertura do Filmelier. Fernanda Montenegro foi ovacionada ao entrar na sala de exibição, acompanhada dos atores Alan Rocha, que interpreta o repórter Flávio Godoy, e Thawan Lucas, jovem revelação que vive o pequeno Marcinho.
Montenegro foi surpreendida com a presença da filha Fernanda Torres, recentemente ganhadora do Globo de Ouro e indicada ao Oscar 2025 por seu papel em Ainda Estou Aqui. As duas protagonizaram momentos de emoção na plateia, conforme registrado no Instagram do Filmelier.
A jornalista que vos fala pede licença para celebrar: assistimos ao que provavelmente é o último filme da carreira de Fernanda Montenegro, ao lado da dama do cinema brasileiro. É para se emocionar! Celebrando a estreia de seu novo longa-metragem — ao lado da roteirista Paula Fiúza, do diretor Andrucha Waddington, e dos atores Thawan Lucas e Alan Rocha — Montenegro, em uma voz sussurrada, apresentou ao público presente:
“Com vocês, o nosso encontro de família de opção. Nós que estamos no filme como artistas, criadores, e vocês como a nossa família de opção que veio nos dar o apoio com a presença. E, sinceramente, acho que vai ter muito aplauso no final”, disse, provocando risos da plateia.
Andrucha Waddington assumiu a direção após morte de Breno Silveira
O evento também contou com o cineasta Andrucha Waddington, que além de dirigir Vitória, também é genro de Fernanda Montenegro – e acompanhou sua esposa, Fernanda Torres, na maratona do Oscar. Ele assumiu a direção do longa-metragem após o falecimento de Breno Silveira (Dois Filhos de Francisco, Dom), idealizador do projeto. Este morreu em maio de 2022, em decorrência de um ataque cardíaco, no início das filmagens de Vitória em Pernambuco.
No palco, Andrucha relembrou a missão de concluir o longa:
“No dia que o Breno se foi, eu encontrei com a Paula [Fiúza, roteirista] à noite e ela disse ‘você termina o filme?’. Ela me deu a missão. A gente parou a produção por quatro meses, se recompôs emocionalmente e voltou com as leituras. Então, essa noite é dedicada ao Breno Silveira, e à dona Joana, que também nos deixou, dois meses depois da filmagem. É um filme que foi feito com muito amor para o Breno, pelo Breno. Viva Breno Silveira!”, afirmou Waddington.
Como foi a maratona do Oscar, ao lado de Fernanda Torres e Walter Salles?
Em entrevista ao Filmelier, o diretor também comentou sobre sua experiência acompanhando Fernanda Torres na maratona do Oscar e o significado desse momento para o cinema brasileiro:
“Eu acho que o momento inusitado foi desde que eu saí daqui do Brasil com ela, em dois de janeiro, até a volta com o filme trazendo o Oscar para o Brasil. Com certeza valeu. É muito emocionante, e acho que para o cinema brasileiro tudo isso que aconteceu, a reconquista do grande público para um drama, de uma história tão importante para o Brasil, e depois a reconquista de um espaço no cinema mundial, é algo fundamental.”
A força da narrativa e a atuação de Fernanda Montenegro
Fábio Gusmão, jornalista cuja história inspirou o filme, falou sobre a força emocional da produção:
“Vitória é um filme que emociona quem quer que seja, seja quem gosta de uma boa história real, mas quem também é gosta da sensibilidade de uma atuação primorosa, como é da dona Fernanda Montenegro, como do Alan Rocha, que encontraram nos dois personagens – eu e a dona Joana – nuances e caminhos para contar essa história de uma forma muito sensível e profunda”, afirmou. Sobre ser representado nas telas, o jornalista riu, sem jeito: “às vezes sinto um pouco de vergonha, mas a alegria é muito maior. A vergonha é por pura defesa mesmo, sou muito tímido. Mas quando vejo o Alan Rocha dando aquela forma ao que eu senti naquele momento, me faz ver que fiz tudo certo”.
A atriz Jeniffer Dias, que interpreta Suelen, destacou o impacto da trama:
“Eu faço a Suelen, uma personagem que tem uma passagem no filme, mas é uma passagem muito importante. Acho que é quando a dona Vitória entende que ela precisa filmar aquilo tudo, precisa denunciar tudo o que está acontecendo em volta dela”, explicou. “Foi muito importante para mim fazer parte disso, porque é uma história que tem que ser vista, deve ser falada. A heroína da vida real precisa ser reverenciada. Quando li o roteiro pela primeira vez, fiquei realmente impressionada com o que essa mulher fez, com a coragem dela.”
Jornalismo e busca pela verdade no filme de Fernanda Montenegro
Alan Rocha, que interpreta o jornalista Flávio Godoy, descreve o impacto da trama:
“Meu personagem é um jornalista que está ali atrás de um furo de reportagem e, de repente, se depara com umas fitas que a dona Nina entrega no departamento especial de polícia. Ao assistir essas fitas, ele se depara com o horror da criminalidade que a dona Nina registrou através de uma câmera”, antecipa o ator. “Ele quer publicar aquela notícia, mas sabe que pode até fazer com que ela corra risco de vida. Ele acaba ajudando, e o resto vocês vão ter que assistir nos cinemas”, disse, rindo.
O ator também celebrou a oportunidade de trabalhar ao lado de Fernanda Montenegro:
“Foi um prazer muito grande fazer esse filme, estar ao lado da dona Fernanda, que é esse poço de generosidade, de talento, de mãe. Esse lado maternal dela é muito bonito. Dona Fernanda é a mãe natureza, que chega no set e a gente está aprendendo tudo com ela. Tem toda aquela magia, toda aquela grandiosidade que ela possui, e ela é uma cachoeira, uma água que joga essa água nessas sementes. Então nós estamos aqui, aprendendo e aproveitando cada momento ao lado dela.”
O impacto de Vitória no cinema nacional
O ator Antonio Pitanga, presente na pré-estreia, comparou Vitória a outros momentos históricos do cinema brasileiro:
“A sensação é todas. Porque esse momento para mim eu já vivi, e continuo vivendo. Vivi com O Pagador de Promessas, com Barravento, com Macunaíma, com São Bernardo. Quando chega agora, com Ainda Estou Aqui, é uma textura do reconhecimento, que estamos no caminho certo. Quando vejo Vitória, é exatamente essa a pegada. É um filme real, que adentra os lares, de uma verdade, não de uma mentira. Está na sua cara, está na sua janela. Essa violência não é só a violência do Rio de Janeiro, é a violência do mundo, na Palestina, em Israel. Esse filme retrata uma verdade gritante, incomoda a gente porque é real. O trabalho da Fernanda Montenegro é magistral. Ela faz com uma gama, uma garra, que comove a gente. Saí do cinema hoje um homem de mais de tantos filmes, tantos anos de vida, e o cinema tem essa capacidade de comover, de mexer, de tirar você da zona de conforto. Vitória é exatamente isso, tirar você da zona de conforto.”
Quando estreia Vitória nos cinemas?
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