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‘O Agente Secreto’, melhor filme de Cannes 2025 até agora, discute memória e hereditariedade

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Como o Brasil é o país de honra no Marché du Film, o mercado de negociação de projetos em vários estágios de desenvolvimento que acontece paralelamente ao Festival de Cannes, provavelmente a cidade nunca tinha visto tantos brasileiros. A maioria deles, se não todos, estavam na sessão de gala do filme O Agente Secreto, na tarde do domingo, 18. Mas só isso não explica a reação entusiasmada ao filme do diretor Kleber Mendonça Filho, que compete pela Palma de Ouro. A exibição que começou com frevo na Croisette terminou com aplausos genuínos e lágrimas de emoção.

Será O Agente Secreto filme de Palma de Ouro no Festival de Cannes?

As críticas também têm sido positivas para o quarto longa-metragem ficcional do cineasta brasileiro. Wendy Ide, da revista Screen International, chamou o filme de “extremamente agradável”. Na Hollywood Reporter, David Rooney diz que o filme já é, para ele, um dos melhores do ano. Na Variety, Peter Debruge escreveu: “Mendonça demonstra uma capacidade notável não apenas de recriar, mas de nos transportar de volta àquela época, com seu calor opressivo e paranoia”. Para Carlos Aguilar, do site The Playlist, O Agente Secreto é “uma obra-prima imponente, repleta de história e de uma adoração palpável pelo cinema”. No El Mundo, Luis Martínez dá quatro estrelas para o longa e escreve: “O diretor brasileiro oferece um retrato tão cru e angustiante quanto desesperado e terno dos tempos sombrios do Brasil”.

Com metade dos filmes da competição exibidos oficialmente até agora, O Agente Secreto se coloca até aqui entre os favoritos à premiação. Quem sabe, a tão sonhada Palma de Ouro, que o Brasil só ganhou uma vez, com O Pagador de Promessas, em 1962 – em 1959, a coprodução Brasil-França Orfeu Negro levou o troféu máximo em Cannes, mas, mesmo rodado no Brasil, com atores brasileiros, o filme dirigido por Marcel Camus de fato é considerado francês.

E não é papo de torcedor brasileiro emocionado. O Agente Secreto é um filme complexo e maduro, que vai adicionando detalhes e camadas para mergulhar o espectador em uma atmosfera opressiva, calorenta, cheia de texturas, discutir memória – pessoal, de uma cidade, de um país – e demonstrar o amor pelo cinema e por contar histórias.

Com O Agente Secreto, Kleber Mendonça Filho fala de memória e hereditariedade

A brilhante primeira sequência do filme é uma amostra do que vem a seguir. Em 1977, uma época de muita pirraça, como diz o letreiro, Marcelo (Wagner Moura), em seu Fusca amarelo com placa de Brasília, para em um posto de combustível na beira de uma estrada ladeada por plantações de cana-de-açúcar. Um cadáver coberto por papelão está estendido no chão – e já faz alguns dias, como explica o frentista, que precisa conviver com o corpo e espantar os cães que vêm mexer nele de vez em quando. Ele chamou a polícia, mas, como é Carnaval, talvez só apareça na Quarta-Feira de Cinzas. Logo depois surge um carro da Polícia Rodoviária Federal, mas os policiais estão ali para revistar Marcelo e tentar arrancar uma propina, ou caixinha de Carnaval, um daqueles eufemismos que fazem parte do cotidiano brasileiro.

Marcelo está se refugiando no Recife, onde pretende se reencontrar com o filho pequeno. Mas não é de cara que descobrimos por que ele está fugindo. Este thriller leva tempo apresentando o contexto e a atmosfera para aumentar o volume da perseguição só mais tarde, notadamente a partir de uma sequência dentro de um cinema de rua, em que o ex-sogro de Marcelo, Alexandre (o sempre excelente Carlos Francisco), é o projecionista. Alexandre e sua mulher são quem cuidam do pequeno Fernando com a falta da mãe, Fatima (Alice Carvalho, que aparece pouco, mas cuja ausência é sentida durante todo o filme), e a distância de Marcelo. Alexandre também é o projecionista real do Cinema São Luiz que aparece no documentário Retratos Fantasmas (2023), a carta de amor de Kleber Mendonça Filho ao Recife e aos cinemas de rua da cidade.

Wagner Moura em cena de O Agente Secreto, filme de Kleber Mendonça Filho exibido em Cannes 2025
Wagner Moura em cena de O Agente Secreto, de Kleber Mendonça Filho (Crédito: Festival de Cannes)

O que diz Kleber Mendonça Filho sobre o filme O Agente Secreto, com Wagner Moura

Todos os filmes do cineasta têm elementos pessoais e falam de memória, da presença do passado no presente, de hereditariedade. Mas em O Agente Secreto suas memórias estão muito mais evidentes. Em entrevista coletiva para a imprensa brasileira após a gala, Kleber explicou que 1977 é o primeiro ano de que ele se lembra, pois tinha 9 anos de idade. A presença tão desavergonhada de suas memórias pessoais faz com que o longa seja mais quente, emotivo, do coração.

Kleber também sempre usa a memória para recuperar o passado – do Recife, de Pernambuco, do Brasil – em um país que normalmente evita olhar para trás. Mas seu intuito é mostrar como esse passado reverbera no presente. Marcelo está sendo perseguido durante a ditadura militar. Mas “ditadura militar” nunca é mencionada no filme.

Tal como Ainda Estou Aqui, filme O Agente Secreto se passa durante a ditadura

Em 1977, o país estava cansado do regime, e ele dava sinais de perda de força. Mas a ditadura já tinha fincado seus tentáculos de diversas maneiras na sociedade brasileira. Há um clima estranho, claustrofóbico, paranoico no ar, que o diretor capta muito bem.

Só que a ditadura, a essa altura, não precisa mais de seus agentes diretos. Sua violência – e corrupção – já foi terceirizada e disseminada, em uma espiral que persiste até hoje. Os perseguidos não são apenas “os comunistas”, mas qualquer um que possa atrapalhar a vida de alguém ou tenha informações demais. Cadáveres aparecem no chão do posto, nas dezenas de mortos no Carnaval, na boca de um tubarão – um elemento recorrente no filme que o diretor explora com bom humor. São os absurdos com que os brasileiros convivem, tornando um gato de duas caras ou uma perna cabeluda com vida própria coisas que nem parecem tão absurdas assim.

Wagner Moura contracena com Maria Fernanda Candido em filme

No Recife, Marcelo topa com uma série de pessoas, do delegado Euclides (Robério Diógenes), que aparece em uma investigação coberto de confete de Carnaval, a Elza (Maria Fernanda Candido), a misteriosa líder de uma rede de ajuda para refugiados como Marcelo, e a Dona Sebastiana (Tânia Maria), a síndica figuraça que manda no condomínio onde o protagonista vai morar. São muitos personagens, vários com participação modesta em tempo de tela, mas que brilham igualmente.

Wagner Moura em cena de O Agente Secreto, filme de Kleber Mendonça Filho que lida com o passado do Brasil
Filme de Kleber Mendonça Filho lida com o passado do Brasil (Crédito: Festival de Cannes)

O filme também volta a outro tema caro ao diretor: a hereditariedade. Em um país tão desigual e marcado por uma colonização violenta que tentou subjugar os povos originários e por uma economia baseada durante séculos na escravização de pessoas africanas, nem todos têm direito a saber de onde vêm. Esse é um privilégio de quem chegou há menos tempo – como o empresário do Sudeste que se vangloria de sua ascendência italiana – ou daqueles que vêm de gerações de famílias bem estabelecidas, algumas ainda nos tempos do Brasil Colônia.

Marcelo vai trabalhar no Instituto de Identificação porque deseja descobrir sobre a identidade de sua mãe. Essa diferença entre quem é e quem não é identificado aparece também nas notícias de jornal. Dependendo de sua origem, classe social, da cor da sua pele, alguns mortos são apenas números. Outros merecem destaque individual, com nome e biografia.

O Agente Secreto é tão rico de caminhos que o ideal é que seja visto mais de uma vez. Na obra de um diretor que sempre foi interessante, desde os seus curtas-metragens, é seu melhor trabalho.

 

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