Em um universo de celebridades instantâneas e rostos jovens, Frank Grillo representa a anomalia rara e inspiradora: um ator que só alcançou o estrelato depois dos 40 anos.
Aos 59 anos, o nova-iorquino de origem italiana continua a expandir seu território em Hollywood como um dos rostos mais confiáveis quando o assunto é ação e intensidade. Com músculos definidos, olhar penetrante e uma presença que transborda autenticidade na tela, Grillo se estabeleceu como o homem que empresta credibilidade a qualquer cena de combate – talvez porque, diferentemente de muitos de seus colegas, ele realmente sabe lutar.
Da obscuridade ao estrelato tardio
Nascido em 8 de junho de 1965 em Nova York, filho de imigrantes italianos, a história de Frank Grillo poderia facilmente ter sido a de mais um executivo de Wall Street. Formado em administração de empresas, ele chegou a trabalhar no mercado financeiro antes de se render à paixão pela atuação. No entanto, o caminho até o reconhecimento foi longo e tortuoso.
A carreira de Grillo começou modestamente com comerciais e pequenos papéis em novelas e programas de TV. Durante anos, ele construiu seu currículo com participações em séries como Guiding Light, Battery Park e, posteriormente, papéis mais substanciais em Prison Break e The Shield – sempre retratando personagens com um misto de dureza e vulnerabilidade que se tornaria sua marca registrada.
Frank Grillo, o lutador que virou ator (ou seria o contrário?)
A autenticidade de Grillo em cenas de ação não é por acaso. Praticante dedicado de boxe e artes marciais mistas desde jovem, ele treina regularmente até hoje, mantendo uma rotina rigorosa que muitos atores com metade da sua idade teriam dificuldade em acompanhar. Seu amor pelo combate é tão genuíno que se tornou sócio da academia Wild Card West em Los Angeles, onde treina ao lado de lutadores profissionais.
Essa paixão pela luta moldou não apenas seu físico, mas também sua abordagem à atuação. Grillo traz para seus personagens uma intensidade crua e uma linguagem corporal que só vem da experiência real. Não é à toa que se tornou o queridinho dos diretores de filmes de ação que buscam autenticidade.
O papel que mudou tudo: Brock Rumlow/Crossbones
Embora já tivesse construído uma carreira respeitável em Hollywood, foi o Universo Cinematográfico Marvel que catapultou Frank Grillo ao reconhecimento internacional. Seu papel como Brock Rumlow, que mais tarde se tornaria o vilão Crossbones, em Capitão América: O Soldado Invernal (2014) e Capitão América: Guerra Civil (2016), apresentou-o a uma nova geração de fãs.
Seu Rumlow era mais do que um vilão unidimensional – havia algo magnético em sua presença, uma mistura de ameaça e carisma que fez os fãs desejarem mais dele, mesmo quando estava enfrentando o próprio Capitão América. A Marvel provou ser o trampolim perfeito para lançá-lo a outros projetos de alto perfil.
Uma pena, porém, que a Casa das Ideias acabou não desenvolvendo o personagem por mais filmes, como era esperado no início. “Crossbones foi um papel divertido, mas eu sabia que era limitado. Eu queria mais espaço para explorar o personagem, mas no MCU, você serve à história maior. Ainda assim, foi uma experiência incrível”, disse ele à Collider.
Frank Grillo e a franquia Uma Noite de Crime
Se a Marvel abriu portas, foi a franquia Uma Noite de Crime que solidificou Grillo como protagonista de ação. No papel de Leo Barnes, inicialmente um policial vingativo em Uma Noite de Crime: Anarquia (2014) e depois um guarda-costas em Uma Noite de Crime: Ano de Eleição (2016), ele encontrou o equilíbrio perfeito entre heroísmo relutante e ferocidade contida.
A franquia não apenas estabeleceu Grillo como um nome confiável no gênero, mas também mostrou sua capacidade de trazer nuances emocionais a personagens que facilmente poderiam cair no estereótipo. Sua interpretação de Barnes trouxe à tona questões de moralidade, justiça e redenção em meio ao caos e violência do mundo distópico da série.
Além da ação: versatilidade surpreendente
Embora seja frequentemente escalado para papéis de homens durões, quem acompanha de perto a carreira de Grillo sabe que há muito mais profundidade em seu repertório. Em Guerreiro (2011), drama sobre lutadores de MMA, ele entregou uma performance contida e emocionalmente potente como o treinador de Tom Hardy.
Já em A Perseguição (2011), ao lado de Liam Neeson, mostrou vulnerabilidade como um homem enfrentando seus próprios demônios enquanto luta pela sobrevivência no Alasca.
Uma das performances mais subestimadas de sua carreira veio em Marcados para Morrer (2012), onde interpretou um sargento da polícia com autoridade e humanidade, provando que pode brilhar mesmo em papéis coadjuvantes.
“Eu não me coloco em uma caixa. Não sou apenas o cara durão. Posso fazer comédia, posso fazer drama, posso fazer ação. Quero continuar surpreendendo as pessoas”, disse o ator em entrevista ao Men’s Journal, discutindo como evita ser estereotipado como um ator de ação.
O renascimento de Frank Grillo com Boss Level
Se há um diretor que realmente entendeu como aproveitar ao máximo o potencial de Grillo, esse diretor é Joe Carnahan. A parceria entre os dois resultou em filmes como A Perseguição, Wheelman: Motorista de Fuga (2017), Boss Level (2020) e, mais recentemente, Copshop (2021). É uma colaboração que beneficia ambos – Carnahan consegue do ator performances que combinam ação visceral com nuances dramáticas, enquanto Grillo encontra papéis que o desafiam além do óbvio.
Boss Level, em particular, representa um momento crucial na carreira de Grillo. Como Roy Pulver, um ex-agente das forças especiais preso em um loop temporal, ele finalmente conseguiu um papel protagonista que exigia tanto proezas físicas quanto profundidade emocional. A resposta da crítica foi entusiástica, com muitos comentando que foi necessário esperar décadas para que Hollywood percebesse o que Grillo realmente era capaz de fazer.
E tudo isso prova como ele funciona mesmo em orçamentos menores. “Quero contar histórias que importam, mesmo que sejam em filmes menores. Não preciso de um orçamento de US$ 200 milhões para me sentir realizado. Só quero trabalhar com pessoas talentosas e fazer algo autêntico”, disse ao The Hollywood Reporter na ocasião de lançamento de Boss Level.
Lobisomens e novos horizontes
Este ano marca mais um capítulo interessante na carreira de Grillo com o lançamento de A Noite dos Lobisomens no Brasil, um filme que mistura ficção científica, horror e ação. Ambientado após uma pandemia global que causou uma mutação transformando parte da humanidade em lobisomens durante eventos de super-lua, o longa traz Grillo como um dos cientistas determinados a reverter a catástrofe.
Como sempre, ele traz credibilidade a um cenário fantástico, ancorado em uma realidade emocional que transcende o absurdo da premissa. O filme é mais uma prova da versatilidade de Grillo, que transita com facilidade entre gêneros enquanto mantém sua identidade como ator.
Quando a experiência para deter uma nova onda de transformações sai dramaticamente errada, seu personagem se vê em uma corrida contra o tempo. Afinal, não apenas para salvar a humanidade, mas também sua própria integridade.
Com cenas de ação intensas e momentos de horror visceral, A Noite dos Lobisomens aproveita ao máximo o talento físico e a presença de Grillo.
O futuro de um ator em constante evolução
Com quase 60 anos, em uma idade em que muitos atores de ação já teriam pendurado as luvas, Frank Grillo parece estar apenas esquentando. Sua agenda para os próximos anos está repleta de projetos interessantes, incluindo mais colaborações com Joe Carnahan e potenciais retornos a franquias que o consagraram.
Sua trajetória serve como inspiração para atores que não seguem o caminho tradicional para o estrelato. Em um negócio obcecado pela juventude, Grillo prova que talento, persistência e autenticidade podem triunfar. Até mesmo quando Hollywood leva décadas para perceber o que estava bem diante dos olhos.
Para os fãs de cinema de ação com substância, Frank Grillo representa um tipo raro de estrela. É um ator que traz verdade a cada soco, profundidade a cada olhar intenso, e uma humanidade subjacente mesmo aos personagens mais violentos que interpreta. E, como sua carreira até agora demonstra, o melhor de Frank Grillo provavelmente ainda está por vir.