Jacques Audiard nunca foi cineasta de jogar no seguro. Mas o diretor de O Profeta (2009), que venceu o Grande Prêmio do Júri, Ferrugem e Osso (2012) e Dheepan (2015), ganhador da Palma de Ouro, se superou com Emilia Pérez, um thriller musical com Selena Gomez, Zoe Saldaña e Karla Sofía Gascón sobre segundas chances, redesignação de gênero e a violência dos carteis no México.
Com tudo isso, o filme se tornou na noite deste sábado, 18, o favorito até agora da competição deste 77º Festival de Cannes, com sessão de imprensa e de gala calorosas.
Qual é a história de Emilia Pérez?
Rita (Zoe Saldaña) é uma advogada especialista em tirar da cadeia pessoas culpadas. Ela é brilhante, mas jamais reconhecida pelo chefe incompetente. Certo dia, recebe uma ligação misteriosa. Depois do susto de ser encapuzada, conhece Manitas del Monte (Karla Sofía Gascón), líder de um cartel de tráfico de drogas que faz um pedido inusitado: Rita vai ficar rica se ajudá-lo a fazer o processo de redesignação de gênero. É assim que nasce Emilia Pérez (Karla Sofía Gascón).
Anos depois, Emilia procura Rita novamente porque sente falta de seus filhos com Jessi (Selena Gomez) – a família foi despachada para a Suíça depois de Manitas forjar sua morte.
Os meninos e Jessi voltam a morar na Cidade do México, onde Emilia e Rita começam a ajudar as famílias de desaparecidos pela guerra do tráfico, estimados em mais de 100 mil.
Crítica de Emília Perez: filme é mistura de gêneros focado no feminino
Audiard faz um filme sobre a violência do tráfico de drogas totalmente focado no feminino – os papeis masculinos são raros e breves, seja Gustavo (Édgar Ramirez), o novo namorado de Jessi, ou o Dr. Wasserman (Mark Ivanir), responsável pelas cirurgias de Manitas.
As canções compostas por Camille e Clément Ducol mistura estilos, fazendo crítica social, trazendo doçura e graça, sem medo de avançar sobre as fronteiras do ridículo.
Emilia Pérez também não teme passear pelos gêneros: thriller, musical, melodrama, noir, realismo social, telenovela, tudo para falar de personagens em busca de redenção.
Com tantas ousadias formais e temáticas, o filme abre espaço para suas atrizes brilharem. Zoe Saldaña tem uma oportunidade rara em sua carreira, marcada por filmes de ação. Ela canta, dança, abraça sua latinidade, vai bem no drama e nos momentos mais suaves. E Karla Sofía Gascón brilha no papel duplo de Manitas e Emilia, uma personagem que tenta salvar sua alma, sem saber se isso é possível.
Ela equilibra-se com delicadeza entre a felicidade de finalmente viver sua verdade e a tristeza de esconder quem é dos filhos. Se Emilia Pérez não levar prêmios mais importantes, Karla Sofía Gascón tem tudo para ser a primeira mulher trans a levar o prêmio de atriz em Cannes.
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