Liane (Malou Khebizi) é uma adolescente de 19 anos que investe em sua beleza para ser enxergada pelo mundo. Ela é o Wild Diamond, o diamante bruto do título do longa-metragem de estreia da francesa Agathe Riedinger, que abriu a competição do 77º Festival de Cannes.
Primeiro dos quatro filmes dirigidos por mulheres disputando a Palma de Ouro neste ano, Wild Diamond (Diamante Bruto, em tradução livre ao português) mostra a ultrafeminilidade e a hipersexualização como arma – falível, em geral – de garotas sem perspectiva. Elas podem estar no sul da França, como a personagem, no Brasil ou na Índia.
A dor de Liane vem de dentro de casa mesmo. Sua mãe Sabine (Andréa Bescond) pouco dá atenção a ela e à sua irmã mais nova, Alicia (Ashley Romano). A saída para ser vista, quem sabe admirada, pela mãe e pela sociedade que a deixa à margem é apostar tudo na aparência. Usando sapatos que machucam e fazendo cirurgias plásticas e procedimentos estéticos que na verdade ela não tem dinheiro para pagar.
Seu sonho, como de tantos que se inscrevem no Big Brother, é participar de um reality show para ganhar dinheiro suficiente para mudar de vida e ser famosa.
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Adolescência e suas contradições
Mas Liane, apesar de ter uma personalidade forte e explosiva, pouco lapidada, esconde sob a fachada uma jovem frágil, emocionalmente pouco desenvolvida e que nem corresponde à imagem de mulher sexy.
Malou Khebizi dá conta da complexidade da personagem e já entra na lista de possíveis vencedoras do prêmio de atriz.
Agathe Riedinger faz uma estreia promissora com Wild Diamond, evitando o didatismo para falar dessa adolescente cheia de contradições, mostrando como, em um mundo machista, as armaduras criadas pelas mulheres muitas vezes voltam-se contra elas.