Começo este texto com uma confissão: não sabia como posicionar a palavra “insuportável” no título acima. Afinal, não só Hurry Up Tomorrow é um filme insuportável — representado, assim, pela tal “massagem” que caracteriza a obra como um todo — como todos os outros elementos ali citados. O ego de The Weekend é insuportável, assim como o próprio Abel Tesfaye me causa o mesmo sentimento.
The Weeknd, Hurry Up Tomorrow e o audiovisual
Não tenho, enfim, qualquer conexão com a música dele. Toda e qualquer novidade que sei sobre o artista acontece por conta do audiovisual, meio em que ele insiste em se infiltrar. Por mais que tenha certo papel em Joias Brutas, comecei a prestar mais atenção nele com toda a história por trás da série The Idol. Para quem não sabe, o artista basicamente tomou a produção para si, demitiu a diretora originalmente contratada e ao lado de outra figura também insuportável, Sam Levinson, transformou a série naquela pataquada (insuportável).
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Agora, Hurry Up Tomorrow, que estreia nos cinemas brasileiros já nesta quinta-feira, 15, é mais um capítulo infeliz na filmografia de The Weekend. O projeto, assinado pelo criativo cineasta Trey Edward Shults (do ótimo Ao Cair da Noite), é uma espécie de videoclipe em formato de filme. Ou, como agora costumam chamar esses projetos mais pretensiosos, é um “álbum visual”. Tudo bobagem sem sentido.
Uma tentativa de história
Na história, The Weekend (interpretado por ele próprio, claro) é um artista sofrendo. Não só cobram demais dele (tadinho!), como também está em um relacionamento complicado — tanto com o empresário Lee (Barry Keoghan) quanto com uma antiga paixão (Jenna Ortega)
Assim, ao longo de 105 minutos, Hurry Up Tomorrow mostra, de forma bastante experimental (e insuportável, claro) como esse artista tenta se reerguer. E é isso. Não há no roteiro de Reza Fahim, Shults e The Weeknd qualquer ideia que vá além e que tente construir uma história de fato. É uma massagem de ego eterna, em tons pseudo-experimentais, que tentam justificar essa viagem de um artista pedante e pretensioso.
Os absurdo vão desde o tal empresário elogiando ele sem parar, falando até que The Weeknd tem voz de anjo (lembre-se, foi o próprio artista que escreveu isso), até chegar numa cena em que o cantor é torturado ouvindo suas próprias músicas, quase como se fosse um espelho do espectador. O bizarro dessa cena, porém, é que a cada música que toda enquanto ele é torturado, a torturadora elogia o dom artístico de Abel.
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A tortura de Hurry Up Tomorrow
Ao final, sentia vontade sincera de levantar da poltrona e ir embora. É um filme não apenas vazio de ideias, mas que serve unicamente ao propósito de massagear o ego de The Weeknd. Personagens são figuras abstratas que, em tempos de impérios egípcios, ficariam abanando o artista com folhas de uva. A história é uma eterna celebração de Abel e de sua pretensão. E a música, cá entre nós, não é nada grandiosa.
O fato é que me senti, repentinamente, em um dos episódios de O Estúdio, grande série da Apple TV+. Em determinado momento, o presidente do estúdio em questão, vivido por Seth Rogen, vai avaliar um novo filme do cineasta Ron Howard. Está animado, é claro. Mas, no final, o longa-metragem é uma bomba e ninguém tem coragem de falar isso para o diretor. Afinal, quem vai vetar um filme assim?
Consigo imaginar os executivos da Lionsgate no mesmo dilema. Como vetar um projeto tão “autoral” de The Weeknd? Como ousam barrar Abel, artista que tomou uma série para si?
E, nessa toada, só penso: onde foi parar o cinema?