Já diz o ditado que errar uma vez é humano, duas é burrice e três é opção. Já dá para dizer, assim, que Confinado, filme que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 29, ultrapassa o limite da burrice — é ruim conscientemente. Afinal, esta produção dirigida por David Yarovesky (Brightburn) é a terceira versão de uma mesma história, ruim em todas elas.
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A primeira é a original argentina, de 2019 (4×4), enquanto a segunda é o remake brasileiro com Chay Suede (A Jaula). Confinado, assim, é a adaptação norte-americana que fala sobre o ladrão (Bill Skarsgård) que arromba um carro para tentar se livrar de uma situação financeira bem ruim. O que ele não espera é que o automóvel vire uma espécie de prisão, com o dono do veículo (Anthony Hopkins) conduzindo um terrível jogo psicológico.

A ideia original dos argentinos Mariano Cohn e Gastón Duprat é boa — afinal, se não fosse, não teria chegado tão longe. É interessante ver essa pessoa tentando escapar de dentro de um carro, algo trivial, enquanto o público quer decifrar o que acontece com o proprietário.
No entanto, a diversão dura apenas durante o primeiro ato, quando o jogo sádico e de terror psicológico é instaurado. A dinâmica é interessante e você, como espectador, fica naturalmente interessado naquilo. Só que apenas colocar uma dinâmica desse tipo não é o bastante, como filmes como Jogos Mortais mostraram ao longo do tempo (e bilheteria).
Confinado: fruto da instabilidade
O problema de Confinado — assim como de A Jaula e também de 4×4 — é quando o roteiro precisa desenvolver alguma ideia, algum propósito. E a forma que essa narrativa encontra para se revelar útil em algum sentido é adicionando um aspecto político na equação, tentando entender como aqueles dois personagens existem socialmente. O bandido sempre vivendo à margem, enquanto o outro vive bem, mas refém da violência ao seu redor.
A reflexão feita originalmente pelo roteiro de Cohn e Duprat, e continuada por Michael Arlen Ross, não tem uma base sólida — e, com isso, desmanchando no ar. Os personagens são exageradamente planos e simétricos, saídos de uma ideia básica do que é bem e o que é mal, do que é vingança, do que é guerra social e, principalmente, do universo econômico.
Na época de A Jaula, era perceptível como os cineastas brasileiros tentaram surfar na onda da polarização política do país. Agora, Yarovesky tenta a mesma coisa e com a mesma palidez, simplificando tudo ao redor de discussões tão profundas. E sabe o que é pior? Nada disso era preciso. Confinado, assim como os outros dois filmes, poderia ser um bom e eficaz filme de sobrevivência — e só. Ao tentar ir além, ficou pra trás. É a sina desse cinema que tem medo de ser só entretenimento ou com pavor de deixar coisas nas entrelinhas.
É o pior que o cinema pode proporcionar. E nem Hopkins ou Skarsgård podem nos salvar.