O quinto episódio de The Last of Us, intitulado It’s in the Air, marca uma nova virada para a série da Max. Com ambientação claustrofóbica, ritmo acelerado e cenas fortes de confronto, o capítulo retoma o horror físico característico dos jogos, ao mesmo tempo em que mergulha na escalada moral de Ellie rumo à escuridão. No entanto, apesar do alto valor de produção, o episódio também escancara falhas de atuação e roteiro que comprometem seu impacto. Leia abaixo a crítica completa do Filmelier e confira como assistir à série com opções gratuitas.
Direção experiente de Watchmen e Westworld dá corpo às cenas de ação
Stephen Williams, conhecido por seu trabalho em Watchmen, Westworld, The Walking Dead e Lost, entrega uma direção sólida, especialmente nas sequências de ação. Diferente da abstração estilizada de Watchmen, aqui ele opta por um realismo cru. A perseguição entre Ellie e Nora no hospital remete ao clima sufocante de tensão de episódios como This Extraordinary Being (Watchmen), enquanto os momentos de emboscada nos corredores escuros ecoam o suspense físico de Westworld. A movimentação de câmera é ágil sem ser caótica, e a direção de som — com ruídos abafados e respirações intensas — potencializa cada movimento.
O resultado é uma experiência sensorial que combina bem com a brutalidade crescente do episódio. Williams acerta especialmente ao filmar em espaços fechados, como no confronto com os infectados. Porém, ao contrário de suas passagens por Westworld, onde havia espaço para pausa e contemplação, aqui o ritmo acelerado exige síntese — e ele entrega com competência.
O hospital e a apresentação dos esporos criam uma atmosfera sufocante
Se há um aspecto indiscutivelmente eficaz neste episódio, é o design de produção. A introdução dos esporos como meio de contágio do Cordyceps – agora em mutação – é visualmente impactante e dramatiza o ambiente com tensão constante. As paredes cobertas de fungos, os corpos parcialmente fundidos à estrutura e o ar tomado por partículas elevam o senso de perigo a um novo patamar.

- Pode te interessar: Fim do mundo na tela — as melhores séries apocalípticas para maratonar!
Fanservice eficiente, mas o quinto episódio de The Last of Us acelera demais a narrativa
A escolha de reservar o terror real para o porão do hospital remete diretamente ao jogo e proporciona um fanservice eficiente, evocando a atmosfera opressiva que consagrou The Last of Us como uma das obras mais imersivas da cultura pop contemporânea.
Ainda assim, o roteiro apresenta soluções fáceis e acelera os acontecimentos sem dar tempo para processar. Ellie entra no hospital e alcança Nora com facilidade; Jesse aparece no último segundo para salvar Ellie e Dina. O ritmo acelerado, somado à falta de pausa para reflexão, pode confundir quem não jogou o game, dando a sensação de que a trama está sendo apenas “cumprida”, não sentida. O resultado é uma sequência de eventos que mais parece uma colagem de cut scenes do jogo do que um episódio autônomo de TV.
Tati Gabrielle brilha como Nora no ep 5 de The Last of Us
A interpretação de Tati Gabrielle como Nora é um dos pontos altos. A atriz é conhecida por seus papéis nas séries The 100, O Mundo Sombrio de Sabrina, Você e no filme Uncharted – Fora do Mapa, e agora será a estrela do jogo Intergalactic: The Heretic Prophet, também criado por Neil Druckmann (The Last of Us).
Com poucas cenas, Gabrielle entrega camadas de sarcasmo, frieza e até uma breve empatia antes do embate final. Sua expressão ao perceber que Ellie é a garota imune transmite genuíno espanto, medo e raiva — tudo em segundos.
Bella Ramsey em The Last of Us ep 5: atuação convence?
Bella Ramsey é talentosa, mas neste episódio, sua atuação raivosa não convence. O roteiro exige que a atriz represente o colapso emocional e moral de Ellie, mas falta verossimilhança: no início do capítulo, a personagem parece mais uma adolescente explorando ruínas do que uma jovem consumida pela dor. Dina (Isabela Merced), ao contrário, soa mais madura, decidida e intensa. A narrativa se esforça para justificar a fúria de Ellie com a memória de Joel (Pedro Pascal), mas paradoxalmente precisa que Dina explique por que Joel não merecia morrer para que Ellie aceite sua missão de vingança. A falta de coerência emocional pesa contra o arco da protagonista. A comparação com Dina, que demonstra garra, trauma e controle, só torna essa lacuna mais visível.

Em capítulos anteriores, como a cena do cemitério no episódio 3, Ramsey mostrou domínio do silêncio e da dor contida. Aqui, falta essa profundidade. Apesar disso, a sequência no porão do hospital é visualmente poderosa: iluminação vermelha, partículas no ar, trilha tensa e a câmera próxima dos rostos. É o momento em que Ellie confronta Nora e a construção da cena tenta justificar a brutalidade da protagonista. Finalmente, Ramsey consegue chegar perto da performance que a personagem exige. A ambientação sufocante e a tensão narrativa pedem uma atuação visceral, e a atriz entrega nuances físicas e emocionais que sustentam a brutalidade do momento – ainda que a cena seja mais impactante no jogo do que na série.
O embate entre Ellie e Nora: quando o roteiro exige mais do que a atuação entrega, e vice-versa
A cena carece de construção gradual da tensão e não oferece pistas suficientes sobre a geografia do hospital ou os riscos envolvidos. Isso afeta a imersão e pode diminuir o peso dramático da decisão de Ellie de confrontar Nora — uma escolha que deveria carregar um dilema moral evidente, mas que aqui surge quase como uma etapa protocolar do roteiro.
Da mesma forma, a introdução dos esporos e o novo tipo de contágio são tratados de forma expositiva e sem aprofundamento, o que pode deixar dúvidas sobre sua relevância ou impacto futuro para o público menos familiarizado com o universo de The Last of Us. A direção segura de Williams, no entanto, mitiga parte dessas falhas ao garantir consistência visual e emocional.

- Veja também: Qual é melhor, Sonic, Super Mario ou The Last of Us? Veja o ranking das adaptações de videogames
Serafitas e WLF: o horror humano ganha novos contornos
Se em outros momentos a série flertou com o maniqueísmo, aqui ela dá um passo adiante na representação das facções. Com este episódio, a série amplia a compreensão dos grupos rivais em Seattle, e mostra mais uma vez que não há lado limpo nesse conflito. Os Serafitas, com seu código religioso extremista e métodos de execução ritualísticos, contrastam com a frieza militar do WLF. A brutalidade de ambos, exibida sem filtros, mostra que o inimigo em The Last of Us raramente é o infectado — é o humano que perdeu qualquer noção de ética.
A execução ritual dos Serafitas no parque é aterradora, com direção e design de som que amplificam a sensação de horror e impotência. O resultado é uma cena perturbadora, que mostra o quão longe a humanidade caiu — e o quanto o fanatismo religioso pode ser ameaçador.
Os WLF, por sua vez, ganham profundidade com cenas como a de Hanrahan (Alanna Ubach) e o sacrifício dos soldados no hospital. São escolhas que ampliam a compreensão do mundo da série, trazendo mais complexidade ao que poderia ser apenas uma guerra de facções.
Entenda quem são os WLF e os Serafitas
Os WLF (Washington Liberation Front) surgiram como milícia rebelde contra a FEDRA, mas logo se tornaram uma força militar autoritária. Sob o comando de Isaac (Jeffrey Wright), mostraram-se capazes de táticas brutais para manter o poder. Já os Serafitas (ou Cicatrizes) são uma seita religiosa que rejeita a tecnologia e idolatra uma profetisa morta. Com aparência rústica e comportamento ritualístico, eles também recorrem à violência extrema — como a execução mostrada no parque. Nenhum dos lados representa redenção; ambos são reflexos do colapso moral da humanidade.
Crítica ao 5º episódio de The Last of Us: visual marcante, emoção irregular
O quinto episódio de The Last of Us entrega ambientação excelente e cenas visualmente marcantes. Mas, ao apostar tanto no impacto visual e acelerar o enredo, sacrifica parte da construção emocional. Ellie parece ainda não ter mergulhado de vez no abismo da vingança, o que enfraquece o arco que a série deseja construir. Ainda que mostre sua descida moral, falta densidade à performance e ao roteiro. O resultado é um capítulo tão intenso quanto desigual, mas fundamental para a transição da protagonista rumo ao abismo. O capítulo é sólido, mas confirma que o equilíbrio entre fidelidade ao jogo e narrativa televisiva ainda é um desafio em aberto.
Leia também: críticas anteriores de The Last of Us
1ª temporada
- 1×01 – The Last of Us tem tudo para ser a nova série evento da HBO
- 1×02 – episódio 2 da série tem cenas de terror e reviravolta “soco no estômago”
- 1×03 episódio 3 tem cenas inéditas, tom romântico e dramático
- 1×04 – episódio 4 é menos impactante, mas aprofunda a narrativa
- 1×05 – episódio 5 prova que a série não está para brincadeira
- 1×06 – episódio 6 tem encontro aguardado e “momento família”
- 1×07 – episódio 7 revela como Ellie foi mordida
- 1×08 – episódio 8 é o mais intenso e perturbador da temporada
- 1×09 – episódio 9 tem desfecho polêmico e chocante
2ª temporada
- 2×01 – Série retorna mais sombrio e introspectivo na estreia da 2ª temporada na HBO
- 2×02 – The Last of Us reencontra sua força dramática com reviravolta do episódio 2 na HBO
- 2×03 – Bella Ramsey segura a 2ª temporada de The Last of Us? Crítica do episódio 3 analisa a nova fase
- 2×04 – The Last of Us encontra equilíbrio perfeito entre horror e romance no episódio 4 da 2ª temporada
- 2×06 – episódio 6 da 2ª temporada emociona com retorno de Joel e drama entre pai e filha