Quando a HBO lançou Game of Thrones em 2011, poucos previam o alcance que a série teria. A adaptação de George R. R. Martin colocou fantasia no centro da televisão, mobilizando debates culturais e estabelecendo padrões de produção que até então eram reservados ao cinema. O desfecho em 2019 gerou divisões entre fãs e críticos, mas a marca deixada foi clara: novos rostos ganharam reconhecimento, veteranos voltaram ao radar internacional e a ideia de uma produção televisiva grandiosa ganhou contornos inéditos.
Hoje, observar o que aconteceu com o elenco ajuda a entender como a indústria absorve esse tipo de exposição. Alguns artistas se tornaram protagonistas de franquias bilionárias, outros preferiram papéis discretos em produções independentes. A variedade de escolhas mostra como o pós-Westeros é múltiplo e complexo.
Emilia Clarke: Khaleesi Mãe dos Dragões
Emilia Clarke viveu Daenerys Targaryen em Game of Thrones. Fora da série, foi escalada para papéis em diferentes gêneros. Em Exterminador do Futuro: Gênesis (2015), interpretou Sarah Connor, substituindo Linda Hamilton. O filme arrecadou mais de US$ 440 milhões mundialmente, mas não convenceu a crítica e encerrou a tentativa de reboot da franquia.
No mesmo período, estrelou Como Eu Era Antes de Você (2016), adaptação do livro de Jojo Moyes. O longa arrecadou cerca de US$ 208 milhões e foi popular em mercados como o britânico. Clarke contracenou com Sam Claflin e o papel assentou sua visibilidade no cinema romântico.
Em 2019, lançou dois projetos: Crime e Desejo, baseado em história real ocorrida em Kentucky, e Uma Segunda Chance para Amar, com Henry Golding e direção de Paul Feig. Esse último faturou mais de US$ 120 milhões em bilheteria.
No streaming, entrou para o Universo Cinematográfico Marvel (MCU) em Invasão Secreta (2023), como G’iah, personagem ligada aos Skrulls. Embora a série tenha tido recepção crítica negativa, manteve Clarke em uma das maiores franquias atuais.
No teatro, estreou em The Seagull (2020), de Anton Tchekhov, produção interrompida pela pandemia mas retomada em 2022 em Londres. A peça recebeu atenção da crítica britânica por marcar a estreia dela no palco em um clássico.
Tormund fora do norte: Kristofer Hivju em novos territórios
Kristofer Hivju interpretou Tormund Giantsbane em Game of Thrones. Após a série, expandiu sua atuação para produções de cinema e streaming.
Em 2017, participou de Velozes & Furiosos 8 como Connor Rhodes, aliado da personagem de Charlize Theron. O filme arrecadou mais de US$ 1,2 bilhão em bilheteria e reforçou seu alcance fora da Europa.
Em 2020, integrou a segunda temporada de The Witcher (Netflix) no papel de Nivellen, figura marcada por uma maldição que mistura tragédia e redenção.
Seu trabalho mais relevante após Game of Thrones é Twin (Gêmeos), série norueguesa exibida em 2019. Hivju interpreta dois irmãos idênticos com vidas opostas: um homem casado, inserido na comunidade local, e outro que vive isolado como surfista. Após um acidente, um deles passa a viver no lugar do outro, gerando uma sucessão de mentiras e conflitos familiares.
Gêmeos foi gravada no arquipélago de Lofoten, no norte da Noruega. As paisagens de montanhas e mar reforçam o clima de isolamento da narrativa. O ator conduz a história alternando entre os dois personagens, explorando diferenças de comportamento e percepção.
A série foi exibida em canais públicos da Noruega e em festivais europeus de televisão. Recebeu comentários positivos por unir suspense e dilemas humanos em ritmo pausado.
Para quem o conheceu apenas em Westeros, Twin mostra uma faceta diferente de Hivju, centrada em conflitos pessoais e em uma atuação de registro contido. O projeto confirmou sua presença em produções de ação, fantasia e drama nórdico.
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Kit Harington: de herói relutante a produtor
Kit Harington, o Jon Snow, expandiu sua carreira com cinema, teatro e televisão britânica. Antes mesmo do fim da série, estrelou Pompeia (2014), filme de Paul W. S. Anderson, que arrecadou US$ 117 milhões mundialmente.
Na TV, produziu e atuou em Gunpowder (2017), minissérie da BBC sobre a conspiração católica de 1605, na qual interpretou Robert Catesby. O projeto teve três episódios e contou com Harington também como produtor executivo, mostrando seu interesse por bastidores.
Nos palcos, foi protagonista em True West (2018) no West End, ao lado de Johnny Flynn, em peça escrita por Sam Shepard. A montagem foi recebida como passo relevante em sua carreira teatral.
Em 2021, integrou Eternos da Marvel, no papel de Dane Whitman. O filme faturou US$ 402 milhões mundialmente. Embora não tenha recebido unanimidade, abriu possibilidade de retorno do personagem como Cavaleiro Negro.
Harington também esteve em Extrapolations (2023), série da Apple TV+ criada por Scott Z. Burns, ao lado de Meryl Streep e Marion Cotillard. Interpretou Nicholas Bilton, empresário em trama sobre mudanças climáticas.
Sophie Turner: blockbusters e dramas
Sansa Stark evoluiu junto com a própria atriz. Sophie Turner começou a série adolescente e terminou adulta, pronta para assumir papéis maiores. No cinema, interpretou Jean Grey em X-Men: Apocalipse (2016) e Fênix Negra (2019). Os filmes não agradaram a crítica, mas reforçaram Turner como rosto de uma franquia global.
Mais tarde, apostou em The Staircase (2022), adaptação de documentário criminal que ganhou notoriedade ao examinar um julgamento de assassinato. Ali, Turner dividiu cena com Colin Firth e Toni Collette, e mostrou que pode lidar com produções mais realistas, baseadas em histórias de repercussão pública.
Sua trajetória recente revela uma atriz que não se limita a uma zona de conforto: aceita tanto a visibilidade dos blockbusters quanto o desafio de papéis em narrativas mais densas.
Maisie Williams: experimentos constantes
Maisie Williams deu vida a Arya Stark. Depois da série, estrelou Os Novos Mutantes (2020), interpretando Rahne Sinclair, personagem dos quadrinhos da Marvel. O filme teve lançamento adiado várias vezes, saindo apenas em agosto de 2020 em plena pandemia, com bilheteria modesta de US$ 47 milhões.
Participou de Os Intrusos (2020), thriller britânico dirigido por Julius Berg, interpretando Mary, jovem envolvida em assalto a uma casa que se transforma em pesadelo.
Em 2022, foi escalada em Pistol, série de Danny Boyle sobre a banda Sex Pistols. Viveu Pamela Rooke, figura conhecida da cena punk londrina. A produção foi exibida pela FX e gerou repercussão no Reino Unido por retratar um período histórico da cultura musical.
Fora das telas, Williams co-fundou a plataforma de mídia digital Daisie, voltada para criadores independentes.
Peter Dinklage: O trono e a Premiação
Peter Dinklage venceu quatro Emmys como Tyrion Lannister. No cinema, estrelou Cyrano (2021), de Joe Wright, adaptação do clássico francês em formato musical, ao lado de Haley Bennett. O filme foi indicado ao Oscar de Figurino e exibido em festivais como Telluride.
Em Eu Me Importo (2020), interpretou Roman Lunyov, antagonista da personagem de Rosamund Pike. O filme venceu o Globo de Ouro de Melhor Atriz em Comédia para Pike e teve boa repercussão na Netflix.
Além disso, dublou o personagem Phil Betterman em Os Croods 2: Uma Nova Era (2020), que arrecadou US$ 216 milhões em bilheteria.
Participou ainda de Viciados em Amor (2023), com Anne Hathaway, exibido no Festival de Berlim.
Dinklage também esteve ligado a Jogos Vorazes a Cantiga dos Pássaros e das Serpentes (2023), interpretando Casca Highbottom. O longa faturou mais de US$ 300 milhões e ampliou sua presença em grandes franquias.
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Lena Headey: além de Cersei
Lena Headey viveu Cersei Lannister. Em 2021, participou de Coquetel Explosivo, ao lado de Karen Gillan, Angela Bassett e Michelle Yeoh. O filme foi lançado na Netflix e em cinemas selecionados.
Na dublagem, interpretou a vilã Evil-Lyn em Mestres do Universo: Salvando Eternia (2021), animação da Netflix baseada na franquia de brinquedos.
Na TV, retornou em Os Encanadores da Casa Branca (2023), série da HBO sobre o caso Watergate, ao lado de Woody Harrelson e Justin Theroux.
Sean Bean
Sean Bean viveu Ned Stark. Antes de Game of Thrones, já era conhecido por trabalhos como O Senhor dos Anéis (2001-2003) e 007 Contra Goldeneye (1995). Após a série, retornou ao drama televisivo britânico.
Em Broken (2017), interpretou o padre Michael Kerrigan, papel que lhe rendeu o BAFTA de Melhor Ator.
De 2020 a 2022, esteve em Expresso do Amanhã, série exibida pela TNT e Netflix, como o engenheiro Wilford, antagonista da trama.
Bean ainda apareceu em Time (2021), minissérie da BBC ao lado de Stephen Graham, sobre o sistema prisional britânico. O projeto foi aclamado e renovado para uma segunda temporada, embora sem sua presença no elenco.
O pós-Westeros
Entre 2011 e 2019, Game of Thrones transformou carreiras e ajudou a redefinir o alcance de produções seriadas. Desde então, o elenco seguiu caminhos distintos.
A série funcionou como vitrine mundial para atores britânicos e europeus. O tempo mostrou que a passagem por Westeros foi um ponto de partida — não um limite.
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