Pantera Negra: Wakanda para Sempre é o filme que encerra a Fase 4 do Universo Cinematográfico Marvel (UCM). Um dos destaques é a inclusão de Namor como o vilão, aqui interpretado pelo ator mexicano Tenoch Huerta.

Na sequência de Pantera Negra, o personagem apresentado como o vilão faz a sua estreia em uma franquia de filmes já estabelecida e de longa data. No entanto, em suas origens, é um dos nomes mais antigos nas páginas da editora Marvel Comics. Tão antiga, aliás, que a empresa nem tinha esse nome ainda.
Qual é a origem do vilão do Pantera Negra nos quadrinhos?
Antes da Marvel Comics
Também conhecido como The Submariner, Namor foi criado pelo artista e escritor Bill Everett para a Marvel Mystery Comics #1 de 1939, a primeira edição da Timely Comics, a entidade que acabaria adotando o nome Marvel Comics em 1961.
Everett criou esse personagem como um habitante do mundo aquático, como resposta ao personagem de Carl Burgos: Tocha Humana (não o do Quarteto Fantástico, mas sim um androide chamado Jim Hammons), que era capaz de cobrir seu corpo com fogo.
A dinâmica “fogo e água” provou ser bem-sucedida, levando à primeira história em quadrinhos abrangendo mais de um quadrinho. Foi também a primeira luta entre super-heróis em qualquer meio.
De acordo com Everett, sua inspiração para o personagem veio do poema de 1798, The Rime of the Ancient Mariner, escrito por Samuel Taylor Coleridge. No entanto, seu nome se originou da escrita de títulos “nobres” ao contrário, escolhendo “Roman” (invertido, Namor).

O autor descreveu Namor como: “um ultra homem das profundezas que vive na terra e no mar, devolvido pelo ar e tem o poder de mil homens da superfície”.
Seu caráter de anti-herói remonta às suas origens, já que Namor era originalmente um agente do caos e inimigo dos Estados Unidos. No entanto, no futuro, ele foi visto lutando ao lado dos Aliados na Segunda Guerra Mundial. Já na era da Marvel Comics e por meio de continuidade retroativa, ficou estabelecido que Namor fazia parte da equipe dos Invasores durante a guerra, junto com o Capitão América e o Tocha Humana.
Anos depois, quando a editora adotou o nome Atlas Comics, o personagem permaneceu em grande parte sem uso (exceto por outras incursões com o Capitão América e o Tocha Humana), apesar de ter sua própria série de quadrinhos.
Mutante e inimigo do Quarteto Fantástico
De volta à era da Marvel Comics, Namor voltou às páginas de quadrinhos em Fantastic Four #4, e de uma forma um tanto estranha. Um dos Quartetos Fantásticos, Johnny Storm, o descobre como um andarilho amnésico em Manhattan.
Após recuperar sua memória com a ajuda de Sue Storm, Namor retorna para sua casa nas profundezas, um lugar já identificado como Atlântida. No entanto, encontrando-o destruído por testes nucleares, ele jura vingança contra a humanidade. Isso o coloca no caminho do Quarteto Fantástico várias vezes nas páginas de quadrinhos.
É nessa época que suas motivações, características e mitologia começam a ser melhor elaboradas: ele é um rei do reino subaquático da Atlântida, filho de uma princesa atlante e de um explorador humano. Ele também fala em uma língua quase shakespeariana e até adotou um grito de guerra de marca registrada: “Imperius Rex!”

Nesses mesmos anos, Namor é designado retroativamente como um mutante, pertencente à mesma subespécie de personagens vistos nos quadrinhos dos X-Men . Ele é popularmente conhecido como o “primeiro mutante” da Marvel, já que foi o primeiro deles apresentado pela editora, embora tenha havido outros dentro da cronologia da ficção.
Como um mutante, seus poderes variam de força sobre-humana, velocidade, resistência e reflexos, a telepatia, a capacidade de se mover e respirar debaixo d’água, voar indefinidamente (graças às asas em seus tornozelos) e a capacidade de manipular a água, entre outros. potências variáveis (mudam de acordo com o tempo e os autores).
O salto complicado do vilão do Pantera Negra para o cinema
No caso de um personagem tão popular e longevo dos quadrinhos (quase tão longo quanto o Super-Homem), podemos nos perguntar por que sua chegada ao cinema demorou tantos anos. Como é frequente nestes casos, há uma resposta curta: direitos de adaptação.
Sim, houve, no passado, tentativas de levar Namor ao cinema com um filme solo. Em 1997, o diretor Philip Kaufman entrou em negociações com a Marvel Studios para dirigir um filme intitulado Namor: The Sub-Mariner, que teria o personagem como herói e abordaria questões ambientais.
Naquela época, a Marvel Studios era uma divisão da Marvel Entertainment que se encarregava de gerenciar a pré-produção dos filmes com base em suas propriedades. O estúdio encomendou roteiros e contratou diretores e elenco, e depois ofereceu esse “pacote” e produziu o filme em aliança com um dos grandes estúdios (como era o caso dos filmes do Homem-Aranha na época).
Neste caso, a escolhida foi a Universal Pictures. É por isso que, nos anos seguintes, os direitos cinematográficos de Namor foram “complicados”, como descreve a situação o chefe da Marvel Studios, Kevin Feige. Ainda em 2014, havia rumores de que a Universal e a Legendary Pictures estavam co-produzindo o filme juntas. Não foi até 2018 que Feige confirmou que, apesar das complicações persistentes, o personagem já poderia aparecer em alguma produção do MCU.
Kukulcán: o vilão do Pantera Negra com influências pré-hispânicas
O salto de Namor para a tela grande, como já sabemos, veio com Pantera Negra: Wakanda para Sempre. Essa nova fase do MCU retornou o personagem às suas raízes como vilão, embora em muitos outros aspectos, ele possa ser um personagem completamente diferente.
Para esta versão cinematográfica, a Marvel Studios reinventou o personagem não como o rei da Atlântida, mas de Tlalocan. Quem conhece a mitologia das culturas mesoamericanas pré-hispânicas sabe que este é o nome do paraíso governado por Tlaloc, deus dos raios, chuva e terremotos, na cosmogonia mexicana.

Em um dos trechos do filme, podemos até ouvir que Namor é identificado como Kukulcán. Este nome, da mitologia maia, significa “serpente emplumada”. Essa descrição também identifica o deus Quetzalcóatl (“serpente com penas de quetzal”) da mitologia asteca e outras divindades pré-hispânicas associadas ao vento, às artes, ao conhecimento e à sabedoria.
Em outras palavras, esta versão de Namor surge como uma amálgama de elementos de cosmogonias pré-hispânicas, de forma semelhante a Wakanda e seus personagens são uma mistura da grande diversidade de culturas africanas.
O escolhido para encarnar o anti-herói da Marvel no filme foi o mexicano Tenoch Huerta, que tem ascendência indígena Purépecha e Nahua. Sua estreia no cinema foi com o filme Así del precipício, em 2006. Em 2009 trabalhou no filme Sem Identidade, de Cary Fukunaga e, nos anos seguintes, teve papéis na série Narcos: México e em franquias como Uma Noite de Crime: A Fronteira.
A relação entre o vilão do Pantera Negra e o herói
A relação entre Namor e Wakanda, liderada por Shuri na ausência de T’Challa, é marcada por um conflito motivado pela necessidade de proteger suas respectivas nações secretas e tecnologicamente avançadas.
Namor deseja manter Talokan escondida e segura do mundo exterior, especialmente após a exposição de Wakanda ao planeta, enquanto Wakanda busca defender seu território e seu povo contra a ameaça representada por Talokan. Esse embate reflete um choque entre dois líderes que veem a si mesmos como heróis de suas próprias histórias, cada um lutando para preservar seu povo e cultura.
Comparando Namor e Shuri/T’Challa, ambos são governantes de nações isoladas, com tecnologia avançada e uma forte ligação cultural com suas origens. No entanto, Namor é retratado com uma postura mais agressiva e desconfiada, disposto a tomar medidas extremas para proteger Talokan, enquanto Wakanda, embora também firme, busca equilíbrio e proteção sem destruir seus inimigos.
Essa dualidade cria uma dinâmica rica e complexa, onde o vilão do Pantera Negra não é um antagonista unidimensional, mas um líder que acredita estar agindo corretamente para seu povo.
As motivações do vilão do Pantera Negra
Namor tem motivações que vão além do simples desejo de poder ou destruição. Segundo o produtor Nate Moore, Namor é um líder que acredita ser o herói de sua própria história, agindo para proteger seu povo que já sofreu uma história trágica.
Sua principal preocupação é manter Talokan, a civilização subaquática que lidera, em segredo e segura do mundo exterior, especialmente após a exposição de Wakanda ao mundo após os eventos do primeiro filme.
A origem de Namor no filme está ligada a um passado marcado pela colonização e sofrimento. Sua mãe, grávida dele, colheu uma planta submarina com propriedades do vibranium que curou seu povo da varíola trazida pelos colonizadores, mas que também causou uma mutação que transformou os habitantes em seres adaptados ao mar, dando a Namor suas características únicas.
Esse contexto histórico de invasão e tentativa de escravização de seu povo alimenta a desconfiança e o ressentimento de Namor em relação ao mundo da superfície, incluindo Wakanda.
Diferente do típico vilão que busca dominação pelo poder, Namor age movido por um instinto de sobrevivência e proteção de sua cultura e território. Ele vê a ameaça representada por Wakanda e o interesse global pelo vibranium como um risco direto à existência de Talokan, o que justifica seu posicionamento agressivo no conflito.
Essa postura é reforçada pela inspiração do filme na cultura maia e na busca por um realismo que ancore Talokan em uma história e identidade cultural profundas.
Semelhanças e diferenças entre Namor e T’Challa/Shuri
Namor e T’Challa (e posteriormente Shuri) compartilham várias características que os aproximam como líderes de nações secretas e tecnologicamente avançadas, mas também apresentam diferenças marcantes que definem seus conflitos e personalidades no Universo Cinematográfico Marvel (UCM).
Ambos são governantes de povos isolados e protegidos do mundo exterior: Namor lidera Talokan, uma civilização subaquática inspirada na cultura maia, enquanto T’Challa e depois Shuri comandam Wakanda, uma nação africana tecnologicamente avançada e também isolada do restante do mundo.
Tanto Namor quanto T’Challa/Shuri têm uma forte ligação cultural e espiritual com seu povo, sendo vistos como símbolos e protetores de suas tradições e modos de vida.
Ambos possuem habilidades sobre-humanas: Namor tem força e resistência excepcionais, podendo respirar debaixo d’água e em terra firme, enquanto o Pantera Negra, por meio do ritual com a erva em forma de coração, ganha força, agilidade e sentidos aprimorados.
Eles são líderes jovens que carregam o peso da responsabilidade de proteger seus povos em um mundo que ameaça suas existências, o que cria uma tensão emocional e política profunda entre eles.
No entanto, Namor é retratado com uma postura mais agressiva e desconfiada, disposto a usar a força extrema para proteger Talokan, refletindo uma liderança baseada na sobrevivência e no isolamento radical. Já T’Challa e Shuri buscam um equilíbrio entre defesa e diplomacia, tentando abrir Wakanda para o mundo e buscar alianças.
Enquanto Wakanda é uma nação baseada em tecnologia avançada e inovação, Talokan é uma civilização subaquática que mescla tecnologia com elementos místicos e culturais ancestrais, como a ligação com a planta vibranium que transformou seu povo.
Namor é visto por seu povo quase como um deus, um líder absoluto e quase inquestionável, enquanto em Wakanda o poder é mais compartilhado entre a família real e os conselheiros, com Shuri assumindo um papel de liderança que combina ciência e tradição.
A relação pessoal entre os personagens também difere: originalmente, T’Challa era o Pantera Negra, mas após sua morte, Shuri assume o manto, criando uma dinâmica nova com Namor, que no filme chega a ser visto quase como um “irmão mais velho” para Shuri, devido ao trauma cultural compartilhado entre seus povos, algo que não existia na relação anterior com T’Challa.
Encontros e confrontos anteriores dos personagens nos quadrinhos
Nos quadrinhos da Marvel, a relação entre Namor e Pantera Negra é marcada por uma longa história de encontros e confrontos que refletem a tensão entre seus respectivos reinos, Atlântida e Wakanda.
Desde a Segunda Guerra Mundial, quando o avô de T’Challa já usava o manto do Pantera Negra, Namor e o herói tiveram um primeiro contato conflituoso durante uma perseguição a nazistas na África, onde Namor exigiu que a aeronave do Pantera Negra pousasse, iniciando uma rivalidade que se estenderia por décadas.

Ao longo dos anos, os dois líderes se enfrentaram diversas vezes, muitas vezes por mal-entendidos ou interesses conflitantes entre suas nações. Em uma ocasião, Namor convidou T’Challa para se juntar à Cabala, um grupo de vilões liderado por Norman Osborn, mas o Pantera Negra recusou, o que resultou em um ataque contra ele e quase causou sua morte.
Após esse evento, sua irmã Shuri assumiu o manto do Pantera Negra e também teve confrontos diretos com Namor, chegando a quase derrotá-lo com uma armadura avançada, mas sendo dominada quando Namor voltou ao mar para recuperar suas forças.
Um dos momentos mais dramáticos dessa rivalidade ocorreu durante o evento Vingadores vs X-Men, quando Namor, influenciado pela Força Fênix, atacou Wakanda, inundando o país e causando a morte de milhares de wakandanos, o que intensificou o ódio entre os dois. Apesar disso, houve tentativas de negociação, como quando Namor tentou convencer T’Challa a buscar a paz entre Atlântida e Wakanda, mas as tensões continuaram, especialmente com Shuri optando pela guerra.
Além dos combates físicos, a relação entre eles também envolve questões políticas e pessoais, como a participação em grupos secretos como os Illuminati, onde ambos estiveram presentes, embora com desconfiança mútua. Em um confronto final e brutal, após a morte de Shuri causada por um ataque da Cabala de Namor, T’Challa chegou a enfiar uma adaga no coração do Príncipe Submarino e o derrubou em uma Terra alternativa prestes a ser destruída, demonstrando a intensidade e complexidade da rivalidade entre os dois.
Impacto do vilão do Pantera Negra no futuro do UCM
Namor, introduzido em Pantera Negra: Wakanda Para Sempre como o primeiro verdadeiro mutante do Universo Cinematográfico Marvel (UCM), representa uma expansão significativa das narrativas do estúdio, trazendo uma nova dimensão às histórias com seu reino subaquático de Talokan e uma mitologia inspirada na cultura maia.
Sua presença no UCM não se limita a um antagonismo isolado, mas abre caminho para conflitos e alianças que podem moldar o equilíbrio de poder global dentro do universo Marvel. Apesar das complexidades legais que impedem Namor de ter um filme solo no momento – devido à divisão dos direitos do personagem entre a Marvel Studios e outro estúdio – ele é considerado uma peça fundamental para os próximos filmes e eventos do UCM, inclusive com seu retorno confirmado em Vingadores: Doomsday, previsto para 2026, onde deve interagir com outros heróis importantes da franquia.

Essa participação sugere que Namor terá um papel estratégico, possivelmente influenciando grandes batalhas e decisões políticas no universo Marvel. A introdução de Namor também expande o universo de heróis e vilões, trazendo à tona temas como a proteção de culturas ancestrais, o choque entre mundos isolados e a luta pela sobrevivência diante de ameaças externas, o que enriquece o tecido narrativo do UCM.
Sua relação ambígua com Wakanda, marcada por conflito e possível aliança, indica que o futuro poderá reservar tanto confrontos intensos quanto parcerias estratégicas, especialmente com Shuri e outros líderes que buscam manter a paz ou garantir a supremacia de seus povos.
Marvel aposta em vilões mais humanos e politizados
Namor, o vilão de Pantera Negra: Wakanda Para Sempre, representa uma das adições mais complexas e ricas do Universo Cinematográfico Marvel.
Sua origem, inspirada nas culturas mesoamericanas e reinterpretada para o cinema como líder de Talokan, traz uma nova camada de diversidade e profundidade ao universo Marvel. Interpretado por Tenoch Huerta, Namor não é apenas um antagonista tradicional, mas um líder que luta para proteger seu povo e sua cultura, refletindo temas de resistência e sobrevivência que dialogam diretamente com Wakanda e seus governantes.
A relação entre Namor e os heróis de Wakanda, especialmente Shuri, é marcada por conflitos intensos, mas também por possibilidades de alianças futuras, o que abre caminhos narrativos promissores para o desenvolvimento do UCM. Além disso, a introdução de Namor amplia o espectro de histórias, trazendo à tona questões políticas, culturais e ambientais que enriquecem ainda mais o universo Marvel.
Para quem deseja se aprofundar no universo de Pantera Negra: Wakanda Para Sempre, entender as origens e motivações de Namor é fundamental para apreciar as nuances desse embate épico entre duas nações secretas e poderosas.
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