O surgimento do HIV/AIDS nos anos 1980 provocou uma das maiores crises sanitárias e sociais da história recente. Em meio à desinformação e ao pânico moral, pessoas que viviam com o vírus foram estigmatizadas, marginalizadas e, muitas vezes, esquecidas pelo poder público, se tornando também uma doença sobre abandono. Mais do que uma epidemia biológica, a AIDS revelou uma epidemia de preconceito, atingindo de forma devastadora a comunidade LGBTQIAP+, artistas, usuários de drogas e pessoas em situação de vulnerabilidade.
O cinema e a televisão se tornaram ferramentas poderosas de memória e empatia, ajudando o mundo a enxergar as histórias por trás das estatísticas. Desde dramas íntimos até documentários e produções de ativismo político, a sétima arte vem iluminando o tema sob múltiplos olhares, da dor à celebração da vida, da denúncia à esperança.
Avanços e desafios no enfrentamento ao HIV/AIDS
Nas últimas décadas, o HIV deixou de ser uma sentença de morte para se tornar uma condição crônica e controlável. O avanço da medicina transformou o tratamento com antirretrovirais em uma ferramenta eficaz para garantir qualidade de vida e longevidade às pessoas soropositivas. Ainda assim, o acesso a esses medicamentos permanece desigual — sobretudo em países de baixa e média renda, onde o estigma e a falta de políticas públicas seguem como barreiras silenciosas.
Enquanto isso, as pesquisas por uma vacina e por uma possível cura continuam a avançar, reacendendo a esperança de um futuro em que o HIV possa ser totalmente controlado — e, quem sabe, erradicado. É nesse cruzamento entre ciência e humanidade que o cinema encontra seu papel: o de traduzir em imagens e histórias a luta diária de milhões de pessoas que seguem vivendo, amando e resistindo. E quem sabe, nas próximas produções acompanhamos narrativas diferentes.
📖 Saiba mais em:
- UNAIDS Brasil — Programa das Nações Unidas sobre HIV/AIDS.
- Ministério da Saúde – HIV/AIDS — informações atualizadas sobre prevenção e tratamento no Brasil.
- Casa 1 — centro de acolhida e cultura LGBTQIA+ em São Paulo.
Filmes sobre a luta contra a AIDS
1. ‘120 Batimentos por Minuto’ (2017)

Dirigido por Robin Campillo, o filme francês acompanha o grupo ativista ACT UP Paris nos anos 1990. Premiado em Cannes 2017 com o Palma de Ouro e em outras categorias, 120 Batimentos por minuto é uma obra vibrante sobre militância, amor e urgência.
2. ‘Filadélfia’ (1993)

Com Tom Hanks e Denzel Washington, o longa Filadélfia foi pioneiro ao abordar o preconceito institucional enfrentado por pessoas vivendo com HIV. Um marco de empatia e direitos humanos. E também um marco para carreira de Tom Hanks que levou o Oscar de Melhor Ator pelo filme. A trilha sonora assinada por Bruce Springsteen também levou estatueta para casa.
3. ‘Meu Nome é Jacque’ (2019)
Meu nome é Jacque é um documentário brasileiro de Angela Zoé, retrata a trajetória de Jacque Chanel, mulher trans, artista e ativista que enfrentou o HIV com coragem e sensibilidade.
4. ‘Clube de Compras Dallas’ (2013)

Inspirado em fatos reais, o filme com Matthew McConaughey e Jared Leto mostra a luta de um homem heterossexual diagnosticado com HIV contra o sistema médico americano. O filme arrecadou três estatuetas do Oscar 2014, Melhor Ator para Matthew McConaughey, Melhor Ator Coadjuvante para Jared Leto e para Maquiagem e Cabelo para Adruitha Lee e Robin Mathews.
5. ‘O Ano de 1985’ (2018)
Dirigido por Yen Tan, o longa acompanha um jovem gay que retorna à casa dos pais para se despedir em silêncio. Um retrato sensível e intimista.
6. ‘Cazuza – O Tempo Não Para’ (2004)

Inspirado na vida do cantor Cazuza, o filme dirigido por Sandra Werneck e Walter Carvalho aborda a liberdade, o amor e a finitude de uma geração marcada pela AIDS. O papel rendeu grande destaque ao ator Daniel Oliveira.
7. ‘Paris is Burning’ (1990)

Documentário de Jennie Livingston sobre a cultura ballroom e a resistência da comunidade LGBTQIAP+ negra e latina de Nova York, muitas vezes atravessada pela AIDS e pela marginalização.
8. ‘Os Primeiros Soldados’ (2022)
Longa brasileiro de Rodrigo de Oliveira, acompanha três jovens em Vitória (ES) nos anos 1980, durante o início da epidemia. Um retrato tocante sobre medo, amizade e descoberta.
9. ‘Jovens Amantes’ – ‘Les Amandiers’ (2022)

Dirigido por Valeria Bruni Tedeschi, Jovens Amantes passa nos anos 1980 e acompanha um grupo de jovens atores em formação na efervescente cena teatral francesa. Em meio a paixões intensas e sonhos artísticos, a epidemia de AIDS surge como uma presença silenciosa e inevitável, afetando suas vidas e escolhas.
Séries que abordam o HIV/AIDS
1. ‘The Normal Heart’ (2014)

Produção da HBO baseada na peça de Larry Kramer e roteirizada por Ryan Murphy, retrata o início da crise da AIDS em Nova York, com atuações poderosas de Mark Ruffalo, Matt Bomer e Julia Roberts.
2. ‘Angels in America’ (2003)

Anjos na América é uma minissérie da HBO baseada na obra de Tony Kushner, é uma das mais aclamadas representações do impacto político, espiritual e emocional da AIDS nos Estados Unidos dos anos 1980.
3. ‘Pose’ (2018–2021)

Criada por Ryan Murphy, a série celebra a cultura ballroom e o protagonismo de pessoas trans e negras durante o auge da epidemia. Uma homenagem à resiliência e ao afeto coletivo.
4. ‘Máscaras de Oxigênio Não Cairão Automaticamente’ (2025)

Criada por Patricia Corso e Leonardo Moreira, com direção geral de Marcelo Gomes, a série da HBO Max se passa em 1988 e acompanha Fernando (Johnny Massaro), comissário de bordo que, após descobrir ser portador do HIV, passa a contrabandear o AZT — então proibido no Brasil — para salvar vidas.
A importância de contar essas histórias
Os filmes e séries sobre HIV/AIDS cumprem um papel essencial: preservar a memória, combater o preconceito e humanizar as experiências de quem vive com o vírus. Mesmo com os avanços científicos e o acesso a tratamentos eficazes, o estigma ainda é uma barreira real — e o audiovisual segue sendo um espaço de resistência, afeto e conscientização.
Mais do que falar sobre morte, essas obras celebram a vida em todas as suas formas, lembrando que viver com HIV é possível, e que empatia continua sendo o remédio mais urgente contra o preconceito.
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