Premiado com o Urso de Prata no Festival de Berlim, O Último Azul chega aos cinemas nesta quinta-feira (28) e o Filmelier traz uma entrevista exclusiva com o elenco e diretor sobre o filme. A premissa é impactante: um Brasil distópico onde idosos são compulsoriamente enviados para uma colônia de isolamento. Mas por trás da ficção científica, existe uma tese poderosa sobre o direito ao desejo, à autonomia e à vida.
Para entender as camadas por trás dessa obra, conversamos com o diretor Gabriel Mascaro (Boi Neon) e os atores Denise Weinberg e Rodrigo Santoro. No bate-papo, eles revelaram detalhes sobre o processo de quase uma década, a construção dos personagens e a mensagem universal do filme sobre como nossa sociedade encara o envelhecimento.
A entrevista de O Último Azul: uma distopia para falar sobre “pulsão de vida”
A ideia de uma colônia para idosos é forte, mas a urgência de Gabriel Mascaro não era apenas fazer um alerta. O diretor explica que o roteiro foi fruto de uma “investigação que durou quase 10 anos”, motivada por uma lacuna que ele percebia no cinema.
“Quando eu começo a pesquisar, você percebe como é quase inexistente filmes sobre protagonistas idosos”, conta Mascaro. Ele cita clássicos como Amor, de Michael Haneke, e Tóquio Story, de Ozu, como obras-primas que, no entanto, abordam a velhice pelo viés da “despedida, da finitude, da morte ou da nostalgia”. Sua intenção era outra.
“Eu queria olhar por outro ponto de vista. Eu queria falar sobre esse corpo feminino idoso desejante, sobre o presente, sobre pulsão de vida”, defende o diretor. A solução foi criar o que ele chama de uma “alegoria distópica, amazônica, delirante, divertida e lúdica”, um filme apaixonado por sua protagonista e pela potência de sua força de viver.

Denise Weinberg detalha a resistência de Tereza: “Uma ode à liberdade”
Essa força de viver é encarnada por Tereza, interpretada de forma magistral por Denise Weinberg. A atriz descreve a jornada de sua personagem como “riquíssima”. Tereza começa com uma vida simples, quase invisível, mas ao ser confrontada com a perda de sua autonomia, ela toma uma decisão que muda tudo.
“Quando ela percebe que ela vai ser retirada e ir pra colônia, ela firma, dá um passo atrás, [e diz] ‘não vou'”, explica Weinberg. A partir desse ato de resistência, Tereza inicia uma fuga que é também um processo de aprendizado. “Ela vai encontrando pessoas e percebendo que existem outras saídas possíveis para ela, e não obedecer a um decreto autoritário. Ela vai entendendo a vida de uma forma bastante diferente”.
Para a atriz, o resultado transcende a história de uma única mulher. O filme se torna “uma ode à felicidade, à liberdade, ao livre arbítrio”.

Para Rodrigo Santoro, O Último Azul discute um tema universal: o envelhecimento
Com uma carreira internacional consolidada, Rodrigo Santoro conta que foi atraído pela universalidade do tema. Para ele, o filme não é apenas sobre os idosos, mas sobre todos nós. “Ele fala realmente sobre como a gente lida com o envelhecimento. E se você envelhecer é sinal que tudo deu certo, e você não partiu antes dessa vida. Então, assim, é sobre todo mundo”, reflete.
Ator critica “sociedade da performance” e discute o masculino no filme
Santoro aprofunda a análise, apontando que a forma como tratamos os idosos é um sintoma de um problema maior: uma sociedade que valoriza as pessoas apenas por sua capacidade de produzir. “A gente mede o indivíduo pela performance dele no mundo de hoje”, critica o ator.
Essa visão se reflete também em seu personagem, o barqueiro Cadu, que ele descreve como “um homem amargurado, dolorido, em luto”. Para Santoro, interpretar Cadu foi a chance de explorar uma faceta diferente da masculinidade. “É algo muito na contramão do que a gente vê na figura do masculino. Ele vai tomar coragem para lidar com as suas próprias fragilidades. Então a gente tem uma forma de olhar para o masculino muito interessante”, conclui.

Um apelo pela valorização do cinema brasileiro
Ao final da nossa entrevista sobre O Último Azul, a equipe fez um apelo apaixonado pela valorização do cinema nacional. Gabriel Mascaro celebrou a “retomada do público” após o sucesso de Ainda Estou Aqui. Enquanto isso, Rodrigo Santoro lembrou que a presença dos espectadores na semana de estreia é o que garante que um filme brasileiro sobreviva em meio aos blockbusters. O recado é claro: ir ao cinema é um ato essencial para que mais histórias como a de O Último Azul continuem sendo contadas.
Assista a O Último Azul na Semana do Cinema a 10 reais
Este apelo para prestigiar a estreia de O Último Azul e outras produções nacionais chega em um momento ideal. A estreia do filme coincide com a Semana do Cinema, que oferece ingressos a preços promocionais em todo o país, tornando o apoio ainda mais acessível.
Gostou desta entrevista exclusiva? Quer ficar por dentro das principais estreias e receber mais análises e conversas com grandes nomes do cinema direto no seu e-mail? Assine a nossa newsletter gratuita!
Leia mais sobre o cinema brasileiro no Filmelier
- Semana do Cinema 2025: Tudo sobre ingressos a 10 reais, filmes e cinemas participantes
- “Um thriller tragicômico”: Fernando Coimbra, Leandra Leal e elenco detalham Os Enforcados em entrevista
- “Quero que o filme seja visto no Brasil”, diz Kleber Mendonça Filho após premiação dupla em Cannes 2025
- Pssica: Netflix mergulha nos rios amazônicos com drama sobre tráfico humano
- A Mulher da Casa Abandonada: Do podcast viral à série documental que vai além do mistério
- Tudo que é mostrado no filme hoje está pior, diz Jorge Bodanzky sobre Iracema