LOS ANGELES – John Turturro é um homem alto, elegante e com um humor bem particular. Observa bastante o mundo ao redor — não à toa, o primeiro comentário ao entrar na sala de entrevistas em que Filmelier estava presente era que a mesa-redonda não fazia jus ao nome. “Tá mais pra quadrada. Ainda que faça uma curva lá no finalzinho”, diz, arrancando risos dos jornalistas presentes. Ele também é, de maneira evidente, ansioso. Se movimenta muito, tem um tique-nervoso no rosto. E deixa claro: fazer séries não é a praia dele.

“Foi estressante”, confessa o ator, em pergunta do Filmelier, sobre a experiência de fazer sua estreia em séries com Ruptura, já disponível com a segunda temporada na Apple TV+.
Sem fim
Segundo ele, o grande problema ao fazer uma série — diferente de filmes e minisséries, com toda a história bem delimitada — é simplesmente não ter ideia de qual será o final de seu personagem. Isso, na experiência de um ator com décadas de experiência nos cinemas, é particularmente estressante até mesmo pela compreensão de quem é aquele personagem. No caso de Turturro, ele vive, em Ruptura, Irving Baliff, um dos funcionários da Lumen e que passa a ter um desenvolvimento interessante na segunda temporada.
“Eu gosto de saber o que estou fazendo, gosto de conhecer o arco inteiro da história, mesmo que tenha dez horas de duração”, diz o ator, sempre lembrado por O Grande Lebowski. “Confesso que tive receio de aceitar o projeto, porque não sabia como reagiria a isso. Li vários roteiros, conversamos sobre quem seria o par romântico do meu personagem, e eu sugeri o Chris [Walken]. Quando ele disse sim, fiquei mais confortável”.
Depois, em uma conversa informal com a imprensa, Filmelier perguntou se John aceitaria um novo convite de série. Respondeu na lata: não. Prefere focar nos filmes e minisséries.
“Admiro muito quem consegue sustentar uma série de TV por anos. Muitas vezes você não recebe o material com antecedência. Tivemos sorte, geralmente recebemos os roteiros antes em Ruptura“, contextualiza o ator, com bastante honestidade. “Agora, para mim, é importante mergulhar profundamente em algo. Essa é uma das razões pelas quais gosto de atuar: explorar. E agora, fazendo essa série, percebo que é um universo muito rico”.
Para além do estresse de John Turturro em Ruptura
Apesar da experiência estressante com o ato de fazer uma série, Turturro diz que tem boas memórias e histórias agradáveis nos bastidores de Ruptura. Inclusive, gostou bastante ao voltar para a segunda temporada — e, agora, já se prepara para a terceira leva de episódios.
“Para mim, assim que voltamos ao set, parecia o primeiro dia de aula depois das férias de verão”, resume o ator, também na entrevista em Los Angeles. “Eu não sabia exatamente como me sentiria, mas assim que reencontrei as pessoas com quem trabalho, tudo se tornou familiar de imediato. Foi divertido conversar sobre o que seria a jornada na segunda temporada. E quando li os roteiros, fiquei totalmente surpreso com as reviravoltas”.
Atenção: o texto abaixo pode conter spoilers sensíveis da segunda temporada de Ruptura.
Além disso, há um outro elemento interessante no ato de voltar a trabalhar com a mesma equipe: criar relacionamento. Christopher Walken, aliás, é o mais próximo de Turturro dentro do set por conta do relacionamento dos dois personagens e comentou a relação com o ator.

“Foi ótimo. Trabalhei com o Chris muitas vezes: já atuei com ele, já o dirigi e sempre admirei seu trabalho. Ele é como um grande músico de jazz — você nunca sabe exatamente o que vai acontecer”, conta John. “Ele tem a experiência de alguém mais velho, mas também essa abertura quase infantil. Isso é maravilhoso. Quando você atua com alguém assim, é como um campo de jogo equilibrado: o que ele me dá e o que eu dou a ele formam a cena. Muitas vezes não é você sozinho que faz sua performance, é o outro ator que te leva até lá”.
Assim, apesar do estresse que é fazer uma série, Turturro parece feliz da vida. Mesmo sem saber o final de Irving, o ator encontra alívio nos relacionamentos, nos encontros e contatos. E, assim, Ruptura vale a pena na carreira de Turturro. “A vida de ator é muito nômade. Muitas vezes você gosta muito de alguém, mas só vai reencontrá-lo 20 anos depois”, diz. “[Fazer a segunda temporada] foi bom para rever todo mundo. Eu estava passando por algumas coisas e foi muito importante estar na companhia de quem já conhecia”.