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Crítica: ‘Vermiglio’: a opressão silenciosa

O que você verá aqui:

“Você gostaria de ser homem?”, pergunta sussurrando uma irmã à outra enquanto dividem a cama à noite, em um dos muitos momentos de discreta cumplicidade doméstica entre irmãos e irmãs que povoam Vermiglio – A Noiva da Montanha (Itália, França e Bélgica, 2024), drama de época da diretora Maura Delpero vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Cinema de Veneza de 2024.

Já bem adiantado o filme nesse ponto, é uma pergunta que sem dúvida passou pela mente não apenas das três irmãs no centro da narrativa, e que também tem um peso enorme para os homens desta história. É, portanto, a questão central deste filme. Ou talvez não seja sobre ser preferível pertencer ao gênero masculino, mas sim sobre o que implica pertencer a este ou ao feminino.

Do que se trata?

Vermiglio começa no inverno de 1944, na pequena e remota vila homônima localizada na região de Trentino, nos Alpes no nordeste da Itália. O professor do vilarejo, Cesare (Tommaso Ragno), leva uma vida mundana. Dá aulas para as crianças e em casa enfrenta as adversidades do inverno rigoroso ao lado da esposa e dos sete filhos.

Um dia, aparece um jovem desertor do exército, Pietro (Giuseppe De Domenico), que se refugia num celeiro. Na vila, decidem escondê-lo dos nazistas e dar-lhe trabalho durante o inverno. É assim que, pouco tempo depois, ele se apaixona por Lucia (Martina Scrinzi), a filha mais velha do professor. Ela engravida e decidem se casar, um fato que muda para sempre, e de formas imprevistas, a vida da família e do vilarejo.

Crítica: ‘Vermiglio’: a opressão silenciosa
Pietro e Martina, o casal romântico no centro de Vermiglio (Crédito: Synapse Distribution)

Vermiglio: homens, mulheres e comunidades do pós-guerra

Delpero apresenta um drama contido, minucioso, discreto, cujas tensões fervem em fogo baixo sob uma superfície — e um ritmo — de calma. Em grande parte porque Vermiglio leva um tempo considerável para nos aproximar a uma distância em que possamos ao menos discernir os rostos dos protagonistas.

A diretora nos apresenta, primeiro, o núcleo familiar, não de forma individual, mas como uma unidade coletiva: planos gerais ou médios, todos na cama ao amanhecer. Depois, a subsistência: quem parece ser a mãe ordenha uma vaca, corta e depois distribui o leite para os pequenos, antes mesmo de nós, espectadores, chegarmos a conhecê-los. E então, os vemos todos à mesa, nos claroscuros do amanhecer, cabeças baixas e nenhum rosto discernível.

Martina Scrinzi em cena do filme 'Vermiglio - A Noiva da Montanha'
Vários minutos se passarão antes que a diretora Maura Delpero nos permita ver um rosto de perto (Crédito: Synapse Distribution)

Em vez de fazer close-ups, Delpero abre o plano e nos apresenta as paisagens nevadas, as cabanas rústicas, a precariedade de uma vida rural em meados do século XX durante um inverno rigoroso. Voltamos à casa da família, mas vários minutos se passarão antes de vermos um rosto de perto.

Vermiglio começa como um filme sobre comunidade mais do que sobre indivíduos, uma dinâmica que se repetirá, tragicamente, pelo resto da narrativa, mesmo quando o romance entre Lucia e Pietro já floresceu.

E não é que o filme não nos mostre as aspirações pessoais das irmãs. A do meio, Ada (Rachele Potrich), anseia por amor e deseja continuar estudando. A primeira possibilidade só se abre para a irmã mais velha, enquanto a segunda só é viável para a caçula, Flavia (Anna Thaler). O destino do “bem maior” — maternidade incluída — não tardará a chegar às suas vidas com todo o peso de uma penitência vitalícia.

Do outro lado do espectro estão os homens: os mais velhos, com expectativas rígidas de masculinidade e valores familiares; e os jovens, espiritualmente quebrados pela guerra, considerados covardes ou desertores pelos primeiros e cheios de frustrações latentes. Embora Vermiglio nunca chegue a esclarecer a vida interior de seus personagens masculinos — suas verdadeiras protagonistas são as três irmãs —, somos testemunhas das repercussões do que uma moral patriarcal, discreta e internalizada, pode ter na vida de uma comunidade inteira.

Cena do filme 'Vermiglio - A Noiva da Montanha'
Em Vermiglio, individualidade e bem comum colidem frontalmente (Crédito: Synapse Distribution)

E não se trata de um filme com explosões de violência, mas a devastação de suas tragédias cotidianas chega como uma ventania: repentina, brusca, mas de uma beleza tão incomum quanto silenciosa.

No fim das contas, o que fica em xeque é o peso da comunidade contra o desejo individual, ambos com suas vítimas indiscriminadas. Qual é o preço a se pagar por um ou pelo outro? As respostas variam, mas o curioso é que, em pleno século XXI, elas não parecem muito diferentes das de 1945.

Vermiglio – A Noiva da Montanha chega às plataformas de streaming no Brasil em 21 de agosto; descubra aqui as opções para assistir.

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