É um clichê tão antigo quanto o tempo: que o casamento é uma sentença de infelicidade até para os romances mais perfeitos. Os Roses: Até que a Morte os Separe (The Roses, Estados Unidos e Reino Unido, 2025) abraça esse clichê com prazer e o leva aos territórios mais absurdos e cáusticos possíveis.
Remake de A Guerra dos Roses (The War of the Roses, EUA, 1989), dirigido por Danny DeVito e baseado no romance de Warren Adler, o filme atualiza as dinâmicas de gênero entre os personagens, mas por meio da sátira chega às mesmas conclusões sobre a falta de comunicação e os ressentimentos acumulados em um casal.
Do que se trata?
A vida parece perfeita para Theo Rose (Benedict Cumberbatch) e sua esposa Ivy (Olivia Colman). Eles têm uma casa linda e dois filhos, ele está prestes a lançar o projeto arquitetônico de sua vida, e ela está contente com o pequeno restaurante que ele construiu para ela.
No entanto, uma mudança repentina em suas fortunas os leva a inverter os papéis: Theo deve se tornar pai em tempo integral, enquanto Ivy se torna uma chef de sucesso. A transformação na dinâmica traz ressentimentos à tona no casal, e as consequências saem cada dia mais do controle.

Os Roses é como Nazareth canta: love hurts
Os Roses fornece uma atualização necessária às iterações anteriores desta história, concedendo um peso mais equilibrado às aspirações individuais dos dois protagonistas. O filme estabelece certos elementos cruciais, como o fato de que Ivy iria viajar para os Estados Unidos para se tornar chef.
Uma década depois, ela renunciou a esse sonho para se dedicar à maternidade, enquanto Theo se torna um arquiteto bem-sucedido. Ou seja, ambos os personagens começam a história em territórios semelhantes, e um se sacrifica pelo casamento. Quando a dinâmica se inverte e o sucesso de Ivy a torna a principal provedora, aspectos como a criação dos filhos e a frustração profissional de Theo começam a corroer o relacionamento.
O diretor Jay Roach (O Escândalo) e o roteiro de Tony McNamara (A Favorita) traçam um crescendo de ressentimentos e ofensas verbais que, ultrapassado certo limite, se convertem em agressões físicas. No entanto, e apesar de quão ridículas e extremas possam ser as situações nesta farsa, nunca perdem de vista os motivos emocionais reais por trás da deterioração catastrófica.
É graças a isso que, embora a jornada seja divertida, o que vem no desfecho pode ser trágico e até doloroso de assistir. Em outras mãos, essas mudanças bruscas entre a comédia ácida e a dor emocional resultariam em um filme irregular ou mesmo desconfortável de ver.

No entanto, Benedict Cumberbatch e Olivia Colman são a cola que mantém todos os elementos unidos e faz funcionar, mesmo que tudo seja construído sobre a mesma piada: um casamento à beira do ódio. A dupla de atores é capaz de transitar sem esforço do insulto ao choro e fazer isso de maneira tão crível e engraçada, mas também sincera.
As conclusões de Os Roses não são tão profundas, mas ainda assim são valiosas: a falta de comunicação e os ressentimentos podem corroer um relacionamento até destruí-lo. E isso já o torna melhor do que a outra comédia sobre casais tóxicos deste ano trilhada com “Happy Together” dos The Turtles.
Os Roses estreia nos cinemas do Brasil em 28 de agosto.