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Crítica ‘O Riso e a Faca’: Pedro Pinho apresenta dualidades e dilemas éticos do neocolonialismo

O que você verá aqui:

Pedro Pinho retorna à ficção com O Riso e a Faca, seu segundo longa após A Fábrica de Nada, mergulhando em uma narrativa que equilibra política, sensualidade e reflexão sobre os sintomas do neocolonialismo. Selecionado para a mostra Un Certain Regard no Festival de Cannes 2025, o filme se projeta como uma obra provocativa e sensorial, capaz de desafiar tanto a mente quanto os sentidos.

‘O Riso e a Faca’ novo filme do português Pedro Pinho

A trama acompanha Sérgio, engenheiro ambiental português, que viaja a uma metrópole da África Ocidental, na Guiné-Bissau, para trabalhar em um projeto rodoviário entre o deserto e a selva. Lá, envolve-se em uma relação intensa e complexa com Diára e Gui, habitantes locais que personificam, cada um à sua maneira, a tensão entre desejo, vulnerabilidade e poder. O trio se torna o núcleo de uma narrativa marcada por contrastes, onde a intimidade convive com desigualdades históricas e políticas, e a busca por conexão se entrelaça com a consciência de feridas abertas do passado colonial.

A narrativa do filme é construída como uma jornada polifônica, refletindo a dicotomia expressa na música de Tom Zé que empresta o título à obra: “O riso e a faca”. Assim como na canção, Pedro Pinho explora a coexistência do prazer e da dor, do caos e da ordem, da beleza e da brutalidade. O roteiro não se contenta em relatar eventos; ele investiga o corpo social e emocional dos personagens, confrontando o espectador com dilemas morais e políticos que permanecem vivos na África contemporânea.

Essa reflexão ética se aproxima do que Pinho já explorava em A Fábrica de Nada (2017), onde os personagens enfrentam o dilema de aceitar um acordo financeiro com a empresa ou entrar em greve para garantir os direitos de continuarem trabalhando. Uma personagem comenta que aceitaria o acordo porque no dia seguinte seus filhos poderiam precisar de comida — um lembrete de que dignidade não paga sustento. Em O Riso e a Faca, o dilema se apresenta de forma diferente: Sérgio recebe uma proposta de dinheiro alto para finalizar rapidamente sua pesquisa, mas a rejeita de imediato. Ao comentar com Diára, ela se mostra indignada com o privilégio dele de poder recusar tal quantia, evidenciando a disparidade social e as diferentes relações com a ética e a necessidade.

Atriz Cleo Diára no filme 'O Riso e a Faca' de Pedro Pinho. (Crédito: Divulgação Assessoria)
Atriz Cleo Diára no filme ‘O Riso e a Faca’ de Pedro Pinho. (Crédito: Divulgação Assessoria)

O elenco de ‘O Riso e a Faca’

O elenco se destaca pela química e pelo carisma em cena. Jonathan Guilherme, ator brasileiro, entrega uma performance marcada por nuances de sensibilidade e resistência. Já Sérgio Coragem (Fogo-Fátuo) imprime vulnerabilidade ao engenheiro europeu em conflito com suas próprias limitações éticas. Cleo Diára (Diamantino) surge como uma das forças do filme, equilibrando empoderamento e fragilidade feminina.

A relação entre os três — especialmente entre Diára e Sérgio — se configura menos como um vínculo afetivo e mais como um olhar curioso para o universo do outro. O desejo que permeia essa conexão poderia facilmente ser lido como colonização de corpos, mas ganha contornos distintos: em Sérgio, revela-se um gesto genuíno de confronto com seus privilégios.

Ao adotar o personagem português como protagonista, o filme evidencia as contradições individuais desse homem branco europeu e as consequências mais amplas do neocolonialismo, convidando o espectador a refletir sobre seus desdobramentos.

Filme de Pedro Pinho, 'O Riso e a Faca' com Jonathan Guilherme e Sergio Coragem. (Crédito: Divulgação Assessoria)
Filme de Pedro Pinho, ‘O Riso e a Faca’ com Jonathan Guilherme e Sergio Coragem. (Crédito: Divulgação Assessoria)

Cenário como reflexão política

Filmado em película na Guiné-Bissau e na Mauritânia, o filme conta com uma fotografia belíssima, simbolizando tanto os extremos da natureza quanto os paradoxos da vida humana. A direção de arte, o som e a trilha musical de Tom Zé complementam essa experiência, reforçando a imersão sensorial e emocional.

O Riso e a Faca também se afirma como uma reflexão política urgente. Ao abordar o neocolonialismo, Pedro Pinho expõe as tensões entre investimento estrangeiro, resistência local e desigualdade estrutural, mostrando como o desenvolvimento econômico pode se tornar uma cicatriz em territórios que resistem a invasões externas. Nesse sentido, o filme dialoga diretamente com o contemporâneo, questionando relações de poder, exploração e pertencimento.

Apesar da relevância da temática e da construção de personagens interessantes, a obra busca equilibrar a psique das figuras centrais, o contexto político-cultural e a trama — um desafio que resulta em uma longa duração de 3h30. Fica a dúvida se estamos diante de uma experimentação narrativa sendo descoberta ao longo das cenas ou de uma escolha consciente de expandir tramas e subtramas, algo já presente em A Fábrica de Nada.

Não se trata de um filme voltado ao entretenimento, mas de uma experiência que exige mergulho e atenção do espectador. Há, contudo, um certo didatismo recorrente em Pedro Pinho que, em alguns momentos, torna a obra cansativa e marcada por um excesso discursivo. Essa característica, embora coerente com seu estilo, pode afastar parte do público.
No fim, O Riso e a Faca se revela uma experiência paradoxal e intensa: uma obra que provoca reflexão, inquietação e beleza, convidando o público a confrontar os limites do desejo, da política e da humanidade. O mais notável, porém, é ver um diretor português abordar essas questões sem estigmatizar, fetichizar ou lançar um olhar colonizador sobre um país que já convive com tantas ausências — gesto que confere à obra uma potência ética além da estética.

Quando estreia O Riso e a Faca?

O filme ainda não tem data de estreia nos cinemas. Fique de olho no Filmelier para saber todas as novidades.

 

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