O terror corporal ou body horror, por definição, explora o medo mais fundamental do ser humano: a perda de si mesmo. Não apenas através da morte física – por mutilação brutal – mas pela erosão psicológica, espiritual e existencial: a perda da humanidade diante da ambição científica em A Mosca (1986). Ou o sacrifício do corpo no altar dos padrões de beleza em The Substance (2024). Juntos (2025) leva esse conceito para seu cenário mais íntimo: perder-se em um relacionamento amoroso.
Após sua estreia badalada no Sundance 2025, e estrelado pelo casal da vida real Alison Brie e Dave Franco, o filme foi chamado de um dos melhores filmes de terror do ano. Na opinião deste crítico, isso é exagero – a produção prefere piadas fáceis (sim, é uma comédia) em vez de desenvolver suas metáforas aterrorizantes em algo mais profundo e perturbador.
Do Que Se Trata?
Millie (Brie) e Tim (Franco) enfrentam uma grande transição após anos juntos. Quando ela consegue seu sonhado emprego como professora no interior, eles se mudam – forçando-o a abandonar sua carreira musical fracassada. Seu pedido de casamento público fica sem resposta, rompendo o relacionamento.
As tensões aumentam na nova vida. Durante uma trilha, o casal encontra uma caverna misteriosa com uma fonte estranha. O encontro desencadeia mudanças físicas e psicológicas perturbadoras que os forçam a ficar mais próximos do que nunca… literalmente.
Juntos explora a fina linha entre amor e codependência
Sem spoilers, Juntos imagina Millie e Tim com seus corpos se fundindo em uma massa amorfa de carne, efetivamente apagando suas individualidades.

O body horror permite ao roteirista e diretor Michael Shanks criar uma metáfora visualmente grotesca para relacionamentos tóxicos. A união completa exige um sacrifício insuportável – a perda total do eu que torna o compromisso aterrorizante. Mesmo assim, a maldição cria uma ansiedade de separação, uma codependência perigosa que, para ser satisfeita, arrisca a destruição mútua.
O problema? O filme não desenvolve essa metáfora além do superficial. Sugere traumas passados alimentando sua disfunção, mas sem aprofundamento. Quando a transformação começa, o roteiro e as atuações optam por comédia que – embora engraçada – diminui o impacto do horror.
Essa abordagem faz de Juntos uma ilustração divertida, porém rasa, do que muitos casais levam anos de terapia para entender. Se ao menos o personagem de Dave Franco não fosse tão insuportavelmente infantil em busca de risos fáceis.

O resultado é um terror-cômico que não corresponde ao hype de “melhor do ano”. Até seu clímax visualmente impressionante – um prato cheio para fãs de gore – oferece mais risadas desconfortáveis do que resolução profunda, entrando claramente no vale da estranheza. Ainda assim, é uma tentativa válida.