Um total de 23 anos separam Extermínio de Extermínio: A Evolução, o mais novo filme da trilogia sobre os zumbis que dominaram e destruíram o Reino Unido. Tanto tempo assim entre filmes, ainda com o fraquíssimo Extermínio 2 lançado em 2007, dá a sensação de que a retomada é para contar uma grande sacada que surgiu nesse período. Afinal, só isso pode justificar o tempo de hiato e o desejo de continuar uma história duas décadas depois.
Mas não é isso que encontramos no novo longa-metragem, estreia desta quinta-feira, 19. Dirigido por Danny Boyle (Trainspotting) e com roteiro de Alex Garland (Ex Machina), a dupla do primeiro filme, Extermínio: A Evolução não continua a narrativa de nenhum personagem anterior. Nada de Cillian Murphy ou Jeremy Renner. A história é principalmente sobre Spike (Alfie Williams), jovem de 12 anos que é treinado para caçar zumbis com o pai (Aaron Taylor-Johnson) em um mundo inseguro.
Suas lembranças durante a caçada, porém, repousam na figura da mãe (Jodie Comer). Sem muita explicação, ela está bastante doente, de cama e alucinando sem parar.
Extermínio: A Evolução, uma narrativa desconectada
É esse o fio narrativo, que parece não se preocupar em ser uma sequência em que tudo é maior. Se não fosse a fortificação em que esses personagens moram, daria para ser uma história contada um mês depois da infecção. Aliás, talvez fosse mais interessante se tudo se passasse 28 meses depois. Lembrando que os títulos originais são 28 Days Later, 28 Weeks Later e, agora, 28 Years Later. Dias, semanas e anos.
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Não há um grande impacto sobre essa passagem de tempo. Tampouco há preocupação de Garland e Boyle em criar essa sensação em que as coisas estão mais urgentes, desesperadoras. Pior: tanto tempo depois, a dupla tem pouco a dialogar com o mundo lá fora.
Há até ranhuras dos efeitos da pandemia e do Brexit, principalmente pelo isolamento social, geográfico e político que o Reino Unido aparenta ter aqui. Mas Garland, que já tinha mostrado uma sede por ficar em cima do muro em discussões políticas em Guerra Civil, volta a ter medo de provocar.
Extermínio: A Evolução prioriza visual em detrimento da narrativa
E se não há qualquer ousadia narrativa para fazer metáforas políticas, o que sobra em uma história sobre zumbis? A diversão, talvez. Mas Boyle, com seu estilo entrecortado com tino estético e cara dos anos 1980, mata bastante as sequências de ação ou de terror. Não dá tempo para as coisas se desenvolverem a ponto de se tornar um entretenimento que te deixa preso na cadeira ou com vontade de pular dela de empolgação. Tudo é flat demais. É Boyle cometendo seu erro característico: se importa mais com visual do que com narrativa.
No final, fica a sensação de um filme descompassado e que não tem muito a dizer. Até mesmo um pouco fora de tom — como a cena final, que parece saída de uma paródia de um anime. É de se contorcer de vergonha na poltrona. Difícil entender o que moveu Boyle e Garland para um novo filme depois de tanto tempo, ainda mais sem grandes ideias. Será que era realmente vontade de contar uma nova história? Havia empolgação, de fato? Arrisco que as respostas para as motivações rondam mais dinheiro do que ousadia criativa.
