Sabe aquela sensação de quando você encontra uma série que parece ter sido feita especialmente para você? Uma das boas surpresas do ano, Dept Q é exatamente isso. A nova aposta da Netflix no universo dos thrillers policiais não é apenas mais uma adaptação literária jogada no catálogo – é uma pequena obra-prima que consegue ser ao mesmo tempo familiar e completamente surpreendente.
Baseada nos bestsellers de Jussi Adler-Olsen, que já venderam mais de 15 milhões de cópias pelo mundo e também conta com várias adaptações para as telonas, a série faz algo genial: pega a essência sombria do noir escandinavo e a transporta para as ruas melancólicas de Edimburgo. O resultado? Uma atmosfera tão densa que você quase consegue sentir o cheiro de chuva e whisky escocês.
Em Dept Q, Matthew Goode está absolutamente irreconhecível (e isso é maravilhoso
Esqueça o Matthew Goode charmoso de Downton Abbey ou o galã de A Noite de Todas as Almas. Aqui, ele se transforma em Carl Morck, um detetive escocês que é, nas palavras da própria Netflix, “um policial brilhante, mas um colega terrível”. Sua interpretação é visceral, crua, quase dolorosa de assistir – e isso é um elogio.
Carl não é apenas mais um protagonista traumatizado do gênero. Ele é um homem destruído pela culpa, com um sarcasmo afiado como navalha que usa como escudo contra o mundo. Após um tiroteio que deixa um jovem policial morto e seu parceiro paralisado, Morck se vê rebaixado para o Departamento Q, uma espécie de “depósito” para casos arquivados que ninguém mais quer resolver.
A química entre Goode e o restante do elenco – especialmente Leah Byrne como sua nova assistente e Chloe Pirrie como a promotora Merritt Lingard – é elétrica. Eles conseguem criar um equilíbrio perfeito entre a tensão psicológica e momentos de alívio que fazem você rir mesmo no meio da angústia.

Scott Frank sabe exatamente o que está fazendo
Se o nome Scott Frank te soa familiar, é porque ele é o nome por trás de O Gambito da Rainha. E aqui, junto com uma equipe de roteiristas que inclui Chandni Lakhani, Stephen Greenhorn e Colette Kane, ele faz exatamente o que sabe fazer de melhor: pegar personagens complexos e mergulhar fundo nas suas psiques.
A série não tem pressa. Ela deixa os mistérios se desenrolarem de forma orgânica, enquanto tece uma trama que vai muito além de “quem matou quem”. É sobre trauma, sobre como as pessoas se destroem e se reconstroem, sobre a corrupção que corrói instituições por dentro.
Edimburgo como você nunca viu
Filmada entre fevereiro e junho de 2024, a produção consegue capturar a alma gótica de Edimburgo de uma forma que faz a cidade virar quase um personagem. As icônicas City Chambers servem como cenário para uma história que respira noir escandinavo, mesmo estando em solo britânico.
A fotografia é de dar inveja para a maioria das produções da Netflix, geralmente com aquele ar neutro. Cada plano é pensado, cada sombra tem propósito. A trilha sonora, discreta mas poderosa, complementa a atmosfera sem roubar o protagonismo dos diálogos afiados.

Por que você deveria assistir a Dept Q (e por que talvez não deveria)
Dept Q não é para quem quer ação desenfreada. É para quem gosta de ser desafiado, de ter que prestar atenção nos detalhes, de assistir a personagens verdadeiramente humanos. Falhos, complexos, reais.
Com pontuação de 69/100 no Metacritic, a crítica está dividida, mas por todas as razões certas. Alguns acham que há diálogos demais, outros que a trama é complexa demais. Mas não é isso que torna tudo mais interessante?
A série tem 9 episódios de aproximadamente 45 minutos cada, e foi lançada estrategicamente em 29 de maio, dois dias antes do prazo de elegibilidade para o Emmy – o que já diz muito sobre as expectativas da Netflix.
O veredito final
Dept Q é aquele tipo de série que gruda na sua mente como um chiclete no sapato. É perturbadora, inteligente, visualmente deslumbrante e emocionalmente devastadora. Não é perfeita – que série é? Mas é o tipo de produção que mantém a esperança no streaming.
Se você tem estômago para thrillers psicológicos que não subestimam sua inteligência, se não se importa com um ritmo mais deliberado em troca de profundidade emocional, e se está procurando algo que vai te fazer pensar dias depois do último episódio, Dept Q é a sua nova obsessão.
Disponível agora na Netflix, é uma das melhores estreias de 2025. E talvez a melhor coisa do mundo do suspense e do policial que você vai assistir este ano.