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Crítica de ‘O Agente Secreto’: a cidade e o cinema enquanto guardiões da memória social

O que você verá aqui:

Percorrer a vastidão das lembranças, investigar imagens e documentos de outrora, ouvir relatos de quem vivenciou o passado; há inúmeras formas de revisitar a história de um povo, uma cidade, um país. Em O Agente Secreto, o diretor Kleber Mendonça Filho vasculha a bestialidade do período ditatorial brasileiro a partir de uma ótica muito particular e original. Com suas cores vibrantes e elenco em absoluta sintonia, o filme atesta o domínio da linguagem de um realizador que, amante do cinema, traduz esta paixão em decisões estéticas e narrativas bem distantes do trivial. 

Após o sucesso estrondoso no Festival de Cannes, com os prêmios de Melhor Direção e Melhor Ator, a produção chegou ao Brasil para suas primeiras sessões na última semana: pré-estreias no Recife e abertura do Festival de Brasília. Na capital pernambucana, a exibição ocorreu no Cinema São Luiz, histórico equipamento cultural no qual foram rodadas cenas fundamentais de O Agente Secreto. Este fascínio pela cidade e por seus monumentos, tão presente em trabalhos anteriores de Kléber, é um artefato narrativo essencial para compreender a obra. 

Recife, 1977: uma época de muita pirraça

Na sequência de abertura do filme, o espectador é apresentado a elementos que, examinados além da superficialidade, já denotam temáticas referidas durante todo o enredo. A banalidade da violência, materializada no corpo deixado a céu aberto próximo a um posto de combustíveis; a corrupção institucionalizada das forças policiais; as fantasias carnavalescas dos passageiros de um carro que passa direto pela cena sórdida. O diretor resume, perfeitamente, o que o letreiro inicial define como uma “época de muita pirraça”.

De volta ao Recife após temporada em Brasília, Marcelo (Wagner Moura) é recebido por Dona Sebastiana (Tânia Maria), responsável pela espécie de república na qual o personagem se hospeda. Logo entendemos que o condomínio é reduto de “refugiados”, exilados políticos de origens diversas. Em ritmo desapressado, condizente com o cotidiano analógico e menos ansioso dos anos 70, o roteiro descortina aos poucos as motivações do protagonista, suas feridas e os riscos à espreita durante o retorno à cidade natal.

Diferente de outros filmes que abordam a ditadura através da estética sombria dos aparatos militares nas ruas, O Agente Secreto adota uma fotografia surpreendentemente solar e colorida, ressaltada no figurino e na exímia direção de arte de Thales Junqueira. A reconstrução histórica do Recife da década de 70 é belíssima; as cores e as luzes ajudam a reforçar a vitalidade daqueles personagens, mesmo diante da pulsão de morte que a situação os impõe. Por isso a força da cena do festejo de carnaval: filmada à noite, a celebração acontece mesmo diante da patrulha de viaturas policiais. A mensagem é a da resistência pela alegria: não deixaremos de dançar, não deixaremos de cantar. Em última instância, não deixaremos de viver. 

Repleto de simbolismos e metáforas sobre o autoritarismo à brasileira, Kleber Mendonça Filho ainda insere comentários geopolíticos sobre outras nações. Com o casal de angolanos interpretado por Isabél Zuaa e Licínio Januário, a narrativa menciona a repressão violenta de maio de 77 em Luanda. Há também o alemão Hans (Udo Kier), alfaiate judeu que é confundido – e vangloriado – pelo delegado local como ex-combatente do exército nazista. Referências que densificam a carga dramática da produção, principalmente para públicos fora do Brasil. 

The Secret Agent - Kleber Mendonça Filho (Crédito: TMDB)
‘O Agente Secreto’, filme de Kleber Mendonça Filho (Crédito: TMDB)

Linguagem cinematográfica e trapaças narrativas

Wagner Moura brilha com absoluta competência no papel do protagonista, mas a alma do filme é a Dona Sebastiana de Tânia Maria. A espirituosa personagem conduz a verve cômica da narrativa com leveza e timing perfeitos. Enquanto outras passagens que apostam no humor me parecem, por vezes, repetitivas e dispensáveis, cada minuto de tela de Dona Sebastiana é impecável e nos faz querer vê-la mais. 

Crítico de cinema antes de se tornar cineasta, Kleber aqui se deleita no exercício da linguagem cinematográfica. Ainda que exalte explicitamente o cinema clássico, de Steven Spielberg a Lina Wertmüller, o roteiro se afasta dos arcos dramáticos tradicionais – o que pode causar estranheza e frustração a determinados espectadores. A trapaça começa no próprio título da obra: não estamos falando de um filme de espionagem. Os elementos de suspense e tensão existem, mas são costurados quase de maneira subterrânea. São poucos os momentos de explosão dramática; mesmo em relação ao clímax, há subversão de expectativa magistralmente tecida pelo realizador.

No mosaico de gêneros e diversos personagens em tela, O Agente Secreto apregoa a importância da memória social e coletiva para a democracia. Não à toa o filme prestigia os dispositivos de informação (gravações em áudio, fotografias, recortes de jornal) como ferramentas de transmissão de saberes às próximas gerações. Em mais uma carta de amor direcionada ao cinema e ao Recife, Kleber Mendonça Filho convida-nos a mergulhar nas lutas do passado, com energia e sorriso no rosto, para ficarmos atentos às ameaças do presente e do futuro.

O filme de Kleber Mendonça Filho, O Agente Secreto, é o representante do Brasil no Oscar 2026 de Melhor Filme Internacional! Após passar por uma shortlist com grandes produções, o filme de temática nordestina foi o escolhido. Estavam na shortlist os filmes Manas (Mariana Brennan), Kasa Branca (Luciano Vidigal), O Último Azul (Gabriel Mascaro – vencedor do Urso de Prata no Berlinale), Oeste Outra Vez (Erico Rassi) e Baby (Marcelo Caetano – vencedor de Cannes 2024 de Ator Revelação para Ricardo Teodoro).

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