Muita gente não entendeu, mas é fácil compreender os caminhos que levaram a Universal Pictures a fazer o remake Como Treinar Seu Dragão tão pouco tempo após o lançamento dos filmes de animação. É dinheiro. A franquia rendeu bons resultados, é um dos temas do novo parque de diversões do estúdio e não podia ficar no passado. Era preciso uma saída, um novo formato para manter esse mundo vivo.
Com a Disney faturando milhões (e até bilhões) com essas adaptações vazias de criatividade, a Universal não quis mais perder tempo. O resultado é isso que temos na tela: um filme bonito, dirigido pelo mesmo cineasta das animações, Dean DeBlois, mas sem nada de novo para contar.

Como Treinar Seu Dragão, de novo
A história é a mesma. Soluço (Mason Thames) é um jovem viking que não quer caçar dragões — como é tradição em seu vilarejo e como seu pai, o chefe local (Gerard Butler, o mesmo que dublou os originais), deseja tão ardentemente. Ele até tenta entrar nessa difícil profissão, mas tudo vai por água abaixo quando dá de cara com Banguela, um dragão poderoso.
Não há embate, não há enfrentamento, não há labaredas de fogo. Os dois formam um vínculo ali, desafiando o status quo local.
A partir daí, Como Treinar Seu Dragão — que, no título brasileiro, tem o diferencial de não ter mais a preposição “o” — faz uma adaptação que não muda uma única peça de lugar. Se você assistiu ao filme original, saberá exatamente o que vem a seguir, sem tirar nem pôr. É adaptação fiel.
Fiel, porém, não é sinônimo de qualidade, por mais que muitas pessoas tenham esse pensamento equivocado. O ator precisa parecer com o desenho, a cena precisa ser igual ao que está descrito no livro, e por aí vai. São ideias errôneas de que diferentes formatos e linguagens devem se comportar da mesma forma. Não há como fazer isso, e sequer é saudável para o cinema e, claro, para a criatividade.
Afinal, equipes criativas perseguem apenas a ideia de agradar fãs, não de contar novas (e boas) histórias em novos formatos.
Me dê motivos
Em entrevistas, DeBlois explicou que a decisão de fazer um remake nasce do desejo de transportar a fantasia da animação para a realidade. Bobagem. A animação já é um esgarçamento da realidade, uma forma de enxergar o mundo com cores e formatos impossíveis. É apenas DeBlois tentando justificar o injustificável: ter aceitado dirigir uma história que ele já contou.
Com isso, vemos novamente o cinema andando em círculos, correndo atrás do próprio rabo. Ideias novas, que exigiriam mais investimento e ousadia, somem em favor de produções que apenas reciclam o que já vimos. É Lilo & Stitch, é a série de Harry Potter, é Como Treinar Seu Dragão.

É preciso questionar: por quê? Precisamos das mesmas ideias circulando sem parar? De reciclagem criativa, de formatos que já vimos? Precisamos de histórias novas!
Tudo bem que há beleza neste novo Como Treinar Seu Dragão. Visual acertado, bom trabalho de efeitos especiais e, acima de tudo, atuações bem encaixadas. Gerard Butler surpreende, talvez em seu melhor trabalho em muitos anos. Mas nada disso justifica a existência do filme, que sequer teve a coragem de colocar outro diretor no lugar para, quem sabe, trazer uma nova perspectiva.
Quem já viu um filme, viu os dois. E o espectador, enquanto isso, vira sem perceber a roda da engrenagem, fazendo com que a criatividade fique flutuando no ar, sem encontrar novos caminhos.