Quarenta anos depois da versão brasileira de Héctor Babenco, O Beijo da Mulher Aranha ganha nova vida nas mãos do diretor Bill Condon. A adaptação cinematográfica do musical da Broadway, ainda sem data de estreia confirmada para a América Latina, chega com Jennifer Lopez no papel principal. A ideia, agora, é ser uma experiência visual que dialoga tanto com os clássicos de Hollywood quanto com questões contemporâneas.
Durante a coletiva de imprensa para votantes do Globo de Ouro, Lopez revelou que viver Ingrid Luna foi como realizar um sonho pessoal. “É o que sempre sonhei fazer, um filme musical. Estava vivendo uma fantasia para mim mesma. É da mesma forma que Molina tinha essa fantasia em sua mente”, confessou a artista, que também atuou como produtora executiva do projeto.
O filme apresenta Lopez em múltiplas facetas. Ela interpreta tanto a atriz Ingrid Luna quanto Aurora, a personagem do filme dentro do filme. Além da enigmática Mulher Aranha. Foram 12 números musicais filmados em um cronograma apertado, exigindo da estrela toda sua experiência como performer. “Não tivemos um ano e meio como alguns musicais conseguem ter. Foi realmente como correr contra o tempo”, lembrou Lopez.
O Beijo da Mulher Aranha e os clássicos musicais
Bill Condon optou por uma abordagem cinematográfica que homenageia os musicais clássicos. Filmou os números em longas tomadas únicas, no estilo Fred Astaire. “Contratei a Jennifer porque sabia que ela conseguiria fazer os números do começo ao fim sem parar”, explicou o diretor. Ele precisou convencer a estrela a abrir mão de planos de cobertura tradicionais.
A descoberta do filme é Tonatiuh, que interpreta Molina com uma sensibilidade que impressionou a equipe. O ator perdeu 20 quilos para o papel. Além disso, estudou desde o romance original de Manuel Puig e ícones do cinema como Errol Flynn e Montgomery Clift. “Queria me inspirar em pessoas como Gene Kelly, e foi divertido justapor isso depois com Molina”, revelou.
Diego Luna completa o trio principal como Valentin, trazendo o peso dramático necessário para equilibrar a fantasia musical. Segundo os colegas, o ator mexicano foi “a cola” que manteve o filme unido, mesmo enfrentando seus próprios medos em relação aos números musicais. A química entre Luna e Tonatiuh foi construída durante três semanas intensas de filmagem na prisão, rodando entre seis e 11 páginas por dia.

Entre Babenco e Condon
Condon reconhece a influência do filme de Babenco. Especialmente o impacto que teve como jovem gay ao ver William Hurt no auge da carreira interpretar Molina. “Foi extraordinário, realmente foi. Vocês não têm ideia. Era tão raro na época”, recordou. Porém, esta nova versão se aproxima mais do romance original. Afinal, explora aspectos da relação entre os protagonistas que eram tabu nos anos 1980.
A produção apostou em um elenco predominantemente latino, uma escolha política e artística defendida por Lopez. “Bill foi muito enfático sobre todo mundo ser latino no elenco, e outras versões não tiveram isso, mesmo se passando onde se passa”, destacou a artriz. Para ela, a representação tem o mesmo impacto que Rita Moreno teve em Amor, Sublime Amor para sua própria carreira.

O filme chega em um momento em que questões de identidade de gênero e diversidade sexual estão no centro do debate público americano. “Escrevemos isso três anos atrás, muito antes da temporada eleitoral”, explicou Condon. “Mas ficou claro que pessoas trans seriam demonizadas, que fariam parte da conversa.” A equipe acredita que a mensagem de humanidade e amor transcendente da obra é mais relevante do que nunca.
A produção contou com figurinos de Colleen Atwood, que trabalhou em estreita colaboração com Lopez. A ideia era criar visuais específicos para cada personagem. O vestido dourado usado em uma das sequências pesava 25 quilos, exigindo da estrela não apenas habilidade técnica, mas resistência física considerável. “É como disse Ginger Rogers: ‘Faço tudo que Fred Astaire faz, só que de costas e de salto alto'”, brincou Lopez.