O cinema e a televisão vivem de renovação. Novos rostos surgem, outros se estabelecem e alguns deixam de ser apostas para se tornarem nomes indispensáveis em produções grandes. Entre 2025 e 2026, quatro atrizes despontam como figuras centrais desse movimento: Golshifteh Farahani, Emma Mackey, Ayo Edebiri e Sophie Thatcher. Vindas de contextos distintos, mas todas unidas pela disposição em assumir projetos instigantes.
Golshifteh Farahani: a atriz exilada
Golshifteh Farahani não é novata, mas seu nome apareceu com força. O motivo principal é Hood Witch (Roqya, 2023), filme de Saïd Belktibia exibido em circuitos de prestígio na França e em outros países europeus. Farahani vive Nour, mãe solo que se divide entre contrabando e um aplicativo de curandeiros. A produção é marcada por corredores estreitos, câmeras coladas em rostos e iluminação fria. Não há violência espetacularizada, mas cortes secos que deixam a sensação de uma vida permanentemente acuada.
Há uma proximidade com a estética documental em Hood Witch. A câmera rente aos rostos em planos-sequência curtos, lembrando Os Miseráveis (2019), de Ladj Ly, rodado em bairros populares parisienses. A escolha por retratar espaços fechados, corredores estreitos e escadas mal iluminadas aproxima o filme da tradição noir, em que a arquitetura aprisiona, próximo à opressão usada por Jean-Pierre Melville, onde a geometria da cidade se torna extensão da ameaça.
Belktibia transforma escadas e corredores em inimigos tão cruéis quanto figuras humanas. O que poderia soar programático vira experiência visceral, porque Farahani nunca nos deixa esquecer que, antes da metáfora, existe uma mulher tentando pagar contas, proteger a filha, sobreviver.
Farahani já havia trabalhado com nomes fortes. Em Paterson (2016), de Jim Jarmusch, deu vida à parceira de Adam Driver em papel delicado. Antes, em Rede de Mentiras (2008), contracenou com Leonardo DiCaprio sob direção de Ridley Scott, experiência que a projetou internacionalmente mas a afastou do Irã, onde enfrentou censura e restrições. Esse exílio involuntário, depois de aceitar papéis internacionais, mudou o curso da carreira de sua carreira. Hoje, mais que vítima de um sistema, ela se afirma como intérprete que negocia com culturas, linguagens e estilos de produção.
Emma Mackey: saindo de fenômeno juvenil para drama literário
Emma Mackey poderia ter ficado para sempre associada a Maeve de Sex Education (2019–2023). A personagem tinha carisma e sua aparência rendeu comparações com Margot Robbie, mas o risco era óbvio: ficar aprisionada em papéis adolescentes.

A escolha de viver Emily Brontë em Emily (2022) mudou a trajetória. De repente, Mackey mostrava que conseguia sustentar um drama de época, com gestos medidos e expressão que carregava dor e rebeldia. Essa guinada não foi acidente. Seu trabalho foi elogiado que lhe garantiu prêmios no British Independent Film Awards.
Agora, com Hot Milk (2025), adaptação do livro de Deborah Levy dirigida por Rebecca Lenkiewicz — roteirista de Ida (2013) — ela se joga em um território ainda mais exigente. No papel de Sofia, jovem que acompanha a mãe em busca de tratamento médico na Espanha, Mackey enfrenta temas como dependência, desejo e emancipação. A narrativa pede pausas, olhares laterais, inseguranças não ditas. E ela entrega.
Participou também de Morte no Nilo (2022), de Kenneth Branagh, exibindo naturalidade mesmo em uma produção marcada por um elenco estrelado.
Sua origem franco-britânica facilita ainda mais: transita bem em sets europeus, domina idiomas, circula entre festivais e produções de estúdios. Isso a coloca numa posição estratégica para os próximos anos: a de atriz que sai do rótulo juvenil para ocupar dramas mais profundos e realistas.
Ayo Edebiri: a precisão do humor e do drama
Ayo Edebiri é o exemplo contemporâneo de talento múltiplo. Antes da fama, fazia stand-up e escrevia roteiros para animações como Big Mouth. Esse treino de ritmo e timing cômico explica muito do seu talento atual.

O sucesso veio com The Bear (2022–presente), onde vive Sydney Adamu, chef que tenta manter controle enquanto tudo desmorona à sua volta. É uma das atuações mais comentadas dos últimos anos porque equilibra humor seco com vulnerabilidade. O olhar firme diante do caos se tornou assinatura.
Sua interpretação lhe rendeu Globo de Ouro, Emmy e SAG Awards. Não satisfeita, ela dirigiu o episódio Napkins, da terceira temporada, indicado pelo Directors Guild of America.
Mas limitar Edebiri a esse papel seria um erro. Ela escreve roteiros, dubla animações, dirige episódios. Em Divertida Mente 2 (2024), empresta voz à personagem Inveja; em Spider-Man: Através do Aranhaverso (2023), dá ritmo a Glory.
Entre os próximos lançamentos estão Opus: De Volta aos Holofotes, suspense da A24, e um projeto de Luca Guadagnino estrelado por Julia Roberts e Andrew Garfield. É um salto natural: da série intimista para filmes que exigem sustentação dramática em escala maior.
Ela não parece intimidada. Sua vantagem está justamente na variedade de experiências. Quando entrar em um set de suspense ou filmes infantis, levará junto o talento de roteirista, a disciplina de diretora e o timing de comediante.
Curiosidade: embora tenha crescido em Boston, é filha de imigrantes nigerianos e barbadenses. Essa herança cultural contribui para sua amplitude, seja na comédia de improviso, seja em dramas mais intimistas.
- Explore mais em: Crítica: A Vida de Chuck, entre esperança e ansiedade existencial
Sophie Thatcher: juventude ancorada no terror e na ficção científica
Sophie Thatcher nasceu em Chicago e começou em produções independentes. Seu primeiro destaque foi Riqueza Tóxica (2018), ficção científica em que contracenou com Pedro Pascal. O longa, de orçamento reduzido, foi elogiado pela atmosfera e pela força da dupla principal.
O reconhecimento maior veio com Yellowjackets (2021–) que apresentou Sophie Thatcher a um público mais amplo. Como Natalie jovem, ela traduziu os limites dos dilemas de sobrevivência de um grupo em colapso, quando você mesma está colapsada por dentro. A atuação foi elogiada pela realidade de interpretar uma adolescente que está vulnerável de formas que, sejam normais de uma adolescente, são passadas em uma situação extrema.
Logo vieram outros convites. Ela apareceu em O Livro de Boba Fett (2022), provando que sabia lidar com franquias de alto orçamento. Em Boogeyman: Seu Medo é Real, (2023), adaptação de Stephen King, sustentou a atmosfera de horror. Depois, protagonizou Herege (2024), da A24, e integra Acompanhante Perfeita(2025), thriller de ficção científica.
O que chama atenção em Thatcher é sua capacidade: conseguindo circular por produções independentes e sagas populares com talento além da sua idade. Ela ajusta seu estilo a cada contexto, seja em cenas de terror psicológico ou em confrontos com criaturas digitais em estúdios de efeitos especiais.
O futuro parece claro Thatcher será disputada por estúdios que buscam atrizes jovens para liderar novas franquias. O desafio será equilibrar esse movimento com projetos autorais, mantendo credibilidade crítica.
Quatro caminhos, um cenário: renovação
Entre 2025 e 2026, acompanhar Farahani, Mackey, Edebiri e Thatcher significa acompanhar para onde o cinema e a televisão podem se mover. Elas são termômetros de futuro, e ignorá-las seria perder de vista mudanças que já começaram.
Farahani mostra como o cinema europeu pode se nutrir de atuações que sustentam silêncios carregados. Mackey revela a importância de transitar do juvenil para o dramático sem perder autenticidade. Edebiri comprova que múltiplas habilidades, da comédia ao roteiro, podem se somar em atuações consistentes. Thatcher encarna o perfil híbrido, capaz de liderar tanto um filme de horror psicológico quanto uma saga de ficção científica.
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