A série documental A Mulher da Casa Abandonada, já disponível na íntegra no Prime Video, representa muito mais do que uma simples adaptação do podcast homônimo que se tornou fenômeno no Brasil. Em três episódios, o jornalista Chico Felitti e a diretora Kátia Lund mergulham profundamente na história real e macabra de Margarida Bonetti, uma mulher excêntrica que vivia em uma mansão abandonada em São Paulo e escondia muito mais do que apenas um nome falso.
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Quando Chico Felitti decidiu adaptar seu podcast para as telas, a proposta era clara: ir além do material original. “Quando a gente pensou em fazer a adaptação, só faria sentido se fosse além do podcast”, explica o jornalista em coletiva de imprensa com a presença do Filmelier. “Fazer uma série que fosse literalmente o roteiro do podcast seria fingir que ainda tem um mistério. Precisaria aprofundar a história e encontrar elementos que não estão lá”.
Contatos, desafios e mistério
A parceria com Kátia Lund se mostrou fundamental para essa expansão. A diretora, conhecida por trabalhos como Cidade de Deus, trouxe sua expertise para transformar uma narrativa sonora em uma experiência visual impactante. “Foi um longo processo. A produtora montou uma equipe grande, muito qualificada, de pesquisa nos EUA e no Brasil. Fizemos pesquisa por um ano e meio, já partindo de uma pesquisa grande do Chico”, relata Lund.
Um dos principais desafios enfrentados pela equipe foi como transpor para o audiovisual a estrutura narrativa do podcast, que se baseia na construção gradual do mistério. “O podcast do Chico tem um mistério que ele vai criando, levantando mais perguntas do que respostas. E como botar isso na tela?”, questiona Kátia Lund.
A solução veio através de um aprofundamento significativo da investigação, com a equipe percorrendo o Brasil e os Estados Unidos em busca de novas fontes e personagens. O resultado é uma narrativa que se desloca principalmente para os EUA, trazendo elementos inéditos que não aparecem no podcast original.
Hilda: o coração de A Mulher da Casa Abandonada
O grande diferencial da série documental está na participação de Hilda, a mulher que foi escravizada por Margarida Bonetti nos Estados Unidos e que inicialmente não havia participado do podcast. Sua inclusão mudou completamente o rumo da narrativa. “A presença da Hilda mudaria toda a história e foi a primeira vez que ela pode contar toda a história. Fizemos uma ressignificação do que aconteceu”, explica Mari Paiva, uma das roteiristas.
A aproximação com Hilda foi um processo delicado e emocionante. Através de uma conexão inesperada com uma família brasileira que a procurava há 20 anos, a equipe conseguiu estabelecer contato com ela. “A gente descobriu que tinha uma família no Brasil que tinha uma mulher que estava tentando reunir a família dela. Todos irmãos foram escravizados depois que foram entregues pra famílias que iam criar as crianças”, revela Kátia.
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O trabalho da equipe com Hilda demonstra a importância de uma abordagem respeitosa e cuidadosa no jornalismo investigativo. Kátia Lund visitou Hilda múltiplas vezes ao longo de um ano, construindo uma relação de confiança. “Voltei muitas vezes nesse um ano criando a relação com ela”, conta a diretora.
O resultado foi uma representação autêntica e respeitosa. Como observa Chico, “mais do que conquistar a confiança, elas honraram a confiança da Hilda”. Ela se sentiu representada.
Um caso que pode mudar leis internacionais
O que torna “A Mulher da Casa Abandonada” ainda mais significativa é seu potencial de transformação social. Segundo Chico Felitti, trata-se de “um caso que vai mudar leis dos EUA e da ONU — algo que não surge no podcast”. A série transcende o aspecto investigativo para se tornar um instrumento de mudança social.
A participação de Hilda na documentação de sua história representa um momento de coragem e empoderamento. “Depois que teve coragem de contar a história, muda leis no mundo. Contar a história em nome da sociedade é a série”, pontua Felitti. “Não tem outra perspectiva. Não é sobre uma mulher de cara branca na janela. Isso é outra coisa”.
A série conta com uma equipe de roteiristas experientes, incluindo Tainá Muhringer, Fernanda Polacow, Henrique dos Santos, Mari Paiva e Carolina Santos, que trabalharam para transformar uma investigação complexa em uma narrativa coesa e impactante.
“A Mulher da Casa Abandonada” representa o melhor do jornalismo investigativo brasileiro contemporâneo, mostrando como é possível expandar uma história já conhecida e encontrar nela camadas mais profundas de significado social e humano. A série não apenas entretém, mas também educa e sensibiliza sobre questões fundamentais de direitos humanos e justiça social.
