Na noite de 30 de julho, o filme Ainda Estou Aqui foi o grande destaque da 24ª edição do Prêmio Grande Otelo, que consagra os principais nomes do cinema e da televisão brasileiros, realizada na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro. O Filmelier acompanhou a cerimônia — pelo olhar da reporter Vitória Pratini — em uma noite marcada por reencontros, discursos emocionados e o reconhecimento de talentos que ajudam a sustentar a diversidade e a qualidade do audiovisual nacional.
O triunfo de Ainda Estou Aqui: 13 prêmios e um feito raro
A grande consagração da noite foi de Ainda Estou Aqui (mesmo título do livro de Marcelo Rubens Paiva, que serviu de inspiração), longa de Walter Salles, que já foi premiado com Globo de Ouro e Oscar, venceu em 13 das 16 categorias às quais foi indicado. O feito é notável mesmo dentro do histórico da premiação, e consolidou o filme como um dos mais celebrados do cinema brasileiro recente.
Além de Melhor Longa-Metragem de Ficção, a produção levou os troféus de Melhor Direção, Melhor Ator foi para Selton Mello, marcando sua primeira indicação; Melhor Atriz para Fernanda Torres, além de prêmios técnicos como Fotografia, Montagem, Trilha Sonora, Figurino, Direção de Arte, Maquiagem, Som e Efeitos Visuais.
Com a vitória expressiva de Ainda Estou Aqui, o Prêmio Grande Otelo 2025 teve uma de suas edições mais memoráveis. Também simboliza um retorno potente à cena, em um projeto que dialoga com os afetos e os traumas da perda — sem abrir mão de uma linguagem autoral e intimista.
Malu também brilhou com força própria
Outro destaque da noite foi Malu, com sua estreia segura e sensível. O filme de Pedro Freire levou três prêmios expressivos: Melhor Primeira Direção, Melhor Roteiro Original (também assinado por Freire) e Melhor Atriz Coadjuvante, para Juliana Carneiro da Cunha.
Ambientado em Copacabana, o longa explora a intimidade turbulenta entre uma mãe e uma filha adulta, sustentado por diálogos afiados e atuações contidas. Foi aplaudido de pé na cerimônia e muito comentado nos bastidores — tanto pela força do texto quanto pelo olhar maduro sobre afeto, autonomia e fragilidade dentro da família.
A cor do cinema brasileiro: O Último Azul
Embora não tenha levado as principais estatuetas, O Último Azul se destacou entre os finalistas e foi lembrado por sua força visual e narrativa. A presença do longa na disputa reforça como temas urgentes podem ser tratados com sensibilidade estética.
O longa é dirigido por Gabriel Mascaro e estreou mundialmente na Competição Oficial da 75ª Berlinale, onde recebeu o Urso de Prata – Grande Prêmio do Júri. A trama se passa em uma Amazônia distópica onde idosos a partir de 75 anos são compulsoriamente transferidos para uma colônia isolada. Antes de ser enviada, Tereza (vivida por Denise Weinberg) decide fazer uma jornada pelo rio em busca de autonomia. O elenco conta ainda com Rodrigo Santoro, Miriam Socarrás e Adanilo.
Novas gerações também subiram ao palco
Entre os momentos mais celebrados da noite, o reconhecimento a novos rostos da atuação emocionou plateia e profissionais da indústria.
- Isaac Amendoim, protagonista de Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa, representou o filme ao receber o troféu de Melhor Longa-Metragem Infantil. Visivelmente comovido, o ator mirim encantou o público com um discurso sincero e emocionado — e reforçou a força simbólica do personagem que atravessa gerações.
- Já Gabriel Leone venceu o Grande Otelo de Melhor Ator em Série, por sua interpretação do piloto Ayrton Senna na minissérie da Netflix. Foi um dos prêmios mais comentados da noite, destacando não só o trabalho de Leone, mas também o alcance das produções nacionais nas plataformas de streaming.
Outros premiados da noite
A cerimônia também celebrou outras frentes do audiovisual brasileiro, incluindo produções para TV, documentário e animação:
- Melhor Atriz em Série de Ficção: Adriana Esteves, por Os Outros (Globoplay)
- Melhor Série de Documentário: Falas Negras (TV Globo)
- Melhor Longa-Metragem de Animação: Arca de Noé
- Melhor Longa-Metragem Documentário: 3 Obás de Xangô, de Sérgio Machado
A variedade dos premiados reforça a amplitude criativa do setor, com espaço para obras autorais, populares, experimentais e voltadas ao público jovem — sem abrir mão da qualidade.
O cinema nacional segue vivo, potente e diverso
A 24ª edição do Prêmio Grande Otelo confirmou tendências que já vinham se desenhando nos últimos anos: a consolidação de obras com apelo autoral e emocional, o espaço crescente para novos diretores, e o fortalecimento de produções seriadas no reconhecimento da crítica.
A atriz Fernanda Torres destacou a força crescente do cinema nacional no tapete vermelho:
“Ver no cinema, ter a alegria da experiência coletiva do cinema, né? Porque a gente tá todo mundo conectado, mas às vezes muito sozinho. E aí o filme venceu essa barreira, que é uma barreira difícil de vencer. E não só ele, como outros filmes maravilhosos e também felizes que… O Último Azul fez o que fez, O Agente Secreto já fez o que fez. Então, essa onda boa continuando, tá ótimo.”
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