Filmes como Lições de Liberdade (The Penguin Lessons, Reino Unido e Espanha, 2025) parecem ter a fórmula perfeita para agradar o público. Baseado em fatos reais –neste caso, nas memórias do escritor britânico Tom Mitchell–, combina emoção e inspiração, com o bônus de um adorável animal que se torna amigo do protagonista Steve Coogan.
O diretor Peter Cattaneo (Unidas pela Esperança) e o roteirista Jeff Pope (Philomena) criaram um emocionante filme cativante que pode arrancar lágrimas, mas que acaba ofuscando um pouco o contexto histórico mais amplo. Não há nada de errado nessa abordagem, mas o resultado às vezes soa insensível.
Do que trata?
Lições de Liberdade acompanha o professor britânico Tom Mitchell (Steve Coogan), contratado em 1976 para lecionar inglês no exclusivo Colégio St. George em Buenos Aires, frequentado pelos filhos da elite argentina. Sua chegada coincide com o golpe militar que estabeleceu a brutal ditadura de Videla. Apesar de testemunhar os perigos, Mitchell permanece emocionalmente distante, como se aquilo não fosse com ele.
Durante uma viagem a Punta del Este, no Uruguai, ele resgata um pinguim atingido por um vazamento de petróleo. Quando o animal cria laços com ele, Mitchell o leva escondido para a escola. Batizado de Juan Salvador, o pinguim acaba indo para as aulas, cativando os alunos e ajudando Mitchell a superar suas barreiras emocionais.

Lições de Liberdade: uma história pessoal em tempos turbulentos
Mitchell não vive numa bolha, mas como estrangeiro num contexto social conturbado. Ele conhece Sofia (Alfonsina Carrocio), neta da zeladora (Vivian El Jaber), ambas envolvidas no ativismo contra a ditadura, enquanto enfrenta o olhar mais conservador do diretor Timothy Buckle (Jonathan Pryce).
Com Juan Salvador catalisando sua transformação, o roteiro revela complexidades sociais, mas de forma superficial. O foco permanece na jornada pessoal de Mitchell, onde Coogan brilha – sua química com o pinguim é irresistível.
Embora essa abordagem pessoal funcione, conforme a crise argentina se aprofunda, o filme corre o risco de instrumentalizar uma das maiores feridas da América Latina para justificar a redenção de um personagem que, sem o carisma de Coogan, seria difícil torcer por ele.

É importante lembrar que não se trata de um drama histórico como Argentina, 1985 (2022), mas de uma adaptação de memórias pessoais. Mesmo assim, personagens secundários mais bem desenvolvidos tornariam a transformação de Mitchell mais crível.
No final das contas, é uma história real fascinante e cheia de charme –e o pinguim na tela é pura fofura.
Lições de Liberdade estreia nos cinemas brasileiros em 24 de julho de 2025.