Hollywood está em plena crise existencial com a inteligência artificial. E não é para menos: entre filmes que tratam o tema como apocalipse zumbi ou como salvação da humanidade, a indústria parece ter esquecido que o público quer, antes de tudo, uma boa história. Em 2025, já fomos bombardeados com o naufrágio dos irmãos Russo em The Electric State e salvos pelo interessante Acompanhante Perfeita, mas que humaniza demais a máquina. Agora chegou a vez de M3GAN 2.0, estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 26.
Novamente com direção de Gerard Johnstone, que divide o roteiro com Akela Cooper, o longa-metragem vai além nas discussões que já propôs, no primeiro filme, de pensar sobre a presença da tecnologia na vida das pessoas. Em uma trama bagunçada e inchada, com mais de duas horas de duração, o filme mostra que a boneca assassina foi destruída, aparentemente, mas agora há uma outra IA ameaçando a vida e a segurança das pessoas.

E é aí que entra o coração do filme: Gemma (Allison Williams), criadora de M3GAN, é chamada para deter a nova máquina. Mas como fazer isso só e, ainda, tendo que se explicar para o governo? É aí, obviamente, que surge a ideia de trazer a boneca de volta.
M3GAN 2.0: um filme de caminhos inusitados
Em uma reviravolta inesperada, M3GAN 2.0 deixa de ser um filme de terror. Se torna, acredite ou não, um filme de ação. Numa clara inspiração na franquia Exterminador do Futuro, a máquina se transforma em protetora de Cady (Violet McGraw), a sobrinha de Gemma e ex-dona da boneca assassina tecnológica. É uma decisão ousada, até mesmo curiosa, e que abre espaço para Johnstone explorar novas linguagens, ideias e signos.
Só que não é bem isso que se desenrola na tela. A mudança de gênero acompanha também uma mudança de tom. Afinal, M3GAN 2.0 não apenas troca de roupa como também perde a alma. O humor bizarro e histriônico que deu personalidade ao original? Praticamente sumiu. As cenas de ação? Genéricas como um filme direct-to-video da década de 90. M3GAN aparece menos e também causa menos impacto na tela.
E é aí que a coisa desanda de vez. Não só o filme é consideravelmente menos divertido, e com cenas de ação genéricas que poderiam ser vistas em um filme qualquer da Netflix, como toda a discussão envolvendo inteligência artificial parece se embasar em argumentos de um aluno de ensino fundamental.
M3GAN ou Alexa?
A própria M3GAN vira uma espécie de Alexa simpática com instintos maternais. É como se os roteiristas tivessem medo de ofender algum executivo da Apple ou Google. O resultado é uma narrativa morna. O filme não tem coragem de ser nem totalmente contra nem a favor da IA, escolhendo o caminho mais seguro (e tedioso) do meio-termo. Na saída mais óbvia possível, diz que o futuro pode ser positivo se a humanidade se aliar com os robôs. Pois é.
Não iremos entrar em detalhes para não entregar spoilers, mas acredite: são decisões terríveis que passam pano para a tecnologia e não aprofunda a conversa. A lição fica: ao mudar completamente o tom de uma franquia, é preciso ter uma boa história para contar. Aqui, nem isso acontece. M3GAN merecia coisa melhor.