O terceiro ato da trilogia Sex/Love/Dreams chega às telas nesta quinta-feira, 26, com uma proposta ousada: transformar a turbulência emocional da adolescência em poesia cinematográfica. Dag Johan Haugerud conclui sua trilogia com Dreams, um filme que ousa ser vulnerável, construindo uma narrativa ao redor de Johanne (Ella Øverbye), uma jovem de 17 anos cujo mundo se transforma quando desenvolve sentimentos intensos por sua professora de francês, Johanna (Selome Emnetu).
A grande força de Dreams reside na forma como utiliza a escrita como elemento narrativo central. O diário de Johanne funciona como uma janela para sua alma em ebulição. Revela não apenas suas emoções conflituosas, mas também um talento literário genuíno. A voz narrativa que permeia o filme cria uma camada adicional de intimidade. Aproxima o espectador da experiência adolescente sem romantizá-la excessivamente.
Esta escolha estilística, embora arriscada, demonstra como Haugerud compreende que o cinema pode ser um veículo para explorar a interioridade humana. A palavra falada e escrita tornam-se protagonistas tanto quanto as personagens em si.
Dreams, navegando em territórios delicados
A dinâmica entre estudante e professora é abordada com notável maturidade artística. Haugerud evita o sensacionalismo fácil, optando por uma ambiguidade intencional que força o público a confrontar suas próprias percepções sobre poder, desejo e consentimento. A incerteza sobre o que realmente acontece entre as duas personagens não é uma falha narrativa, mas sim uma escolha consciente que adiciona profundidade psicológica à trama.
Øverbye entrega uma performance de impressionante contenção emocional, criando uma protagonista cuja confiabilidade como narradora permanece em questão. Esta ambiguidade enriquece a experiência cinematográfica, convidando múltiplas interpretações.
Quando o diário de Johanne é descoberto pela mãe e pela avó, o filme expande seu escopo. Assim, examina como diferentes gerações processam questões de sexualidade e expressão artística. O que inicialmente causa escândalo gradualmente se transforma em admiração pelo talento literário da jovem.
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Estas cenas familiares revelam o verdadeiro coração do filme. Como as experiências íntimas se conectam com questões universais sobre identidade, arte e legado. As performances de Torp e Jacobsen trazem autenticidade a estes momentos de tensão e reconciliação.
Sonhos, vida e identidade
Dreams funciona como uma meditação sobre como nossas experiências mais intensas moldam nossa identidade. Haugerud sugere que o ato de narrar – seja através de um diário pessoal ou de uma obra de arte – é fundamental para processar e transcender nossas vivências mais marcantes.
O filme não oferece resoluções simples para questões complexas, preferindo honrar a ambiguidade inerente às relações humanas. Esta abordagem pode frustrar quem busca conclusões definitivas. No entanto, recompensa espectadores dispostos a se engajar com suas próprias reflexões sobre amor, poder e autodescoberta.
Como fechamento de trilogia, Dreams consolida a visão artística de Haugerud. Ele é um cineasta capaz de encontrar profundidade em momentos aparentemente simples.
Dreams, afinal, é um filme que confia na inteligência de seu público, oferecendo uma experiência cinematográfica que privilegia a reflexão sobre o espetáculo. Embora seu ritmo deliberadamente pausado possa não agradar a todos, aqueles que se permitirem mergulhar em sua atmosfera contemplativa encontrarão uma obra de rara sensibilidade emocional.
