Prepare-se para uma experiência cinematográfica que vai além do entretenimento – é um soco no estômago da consciência. Alexandros Avranas, o cineasta grego que já nos perturbou profundamente com Miss Violence e Não Me Ame, retornou aos cinemas brasileiros na última quinta-feira, 12, com sua obra mais tocante: Síndrome da Apatia.
Síndrome da Apatia, um eco na realidade
Esta não é apenas mais uma ficção. Inspirado em eventos reais que abalaram a Suécia, o filme nos apresenta a família Gallitzin: Sergei e Natalia, refugiados políticos que cruzaram fronteiras em busca do que todos nós desejamos – um lar seguro para suas filhas, Katja e Alina.
Mas a esperança tem um preço cruel. Quando o pedido de asilo é brutalmente rejeitado, algo extraordinário e terrível acontece: Katja, a filha mais nova, simplesmente desmorona. Literalmente. Ela desmaia e mergulha em um estado misterioso – um “coma” que a medicina chama de Síndrome da Resignação ou Síndrome da Apatia.

Imagine uma condição onde o corpo simplesmente diz “chega”. Onde uma criança, diante do medo absoluto da deportação, se refugia no mais profundo silêncio interior como forma de autoproteção. Nos últimos anos, mais de 700 crianças foram diagnosticadas com essa síndrome na Suécia, e suas causas continuam sendo um mistério médico que desafia especialistas.
No filme, Katja torna-se o símbolo de todas essas crianças invisíveis. São aquelas que, mesmo em “segurança”, vivem sob a sombra constante do medo. Seus pais, desesperados, iniciam uma corrida contra o tempo: conseguir o asilo e criar o ambiente seguro que pode, talvez, trazer sua filha de volta.
Cinema que fere e cura
Vencedor do Prêmio Interfilm no Festival de Veneza 2024, Síndrome da Apatia não é um filme que você simplesmente assiste. É um filme que te atravessa. Avranas, conhecido por seu olhar implacável sobre a natureza humana, aqui encontra um equilíbrio perfeito entre brutalidade emocional e esperança silenciosa.
Esta é uma obra que chega em um momento crucial. Afinal, o mundo ainda luta para compreender as cicatrizes invisíveis deixadas pelas crises migratórias. É cinema urgente, necessário, daqueles que não nos deixam dormir tranquilos depois dos créditos finais.