John (Luke Stanton Eddy) é um rapaz sem perspectivas na vida. O trabalho é uma droga, a vida é solitária, tudo dá errado. O clima começa a pesar até que, num dia terrível, ele encontra uma jovem no metrô — é June (Matilda Price), pessoa que parece ter um brilho próprio. A partir daí, o filme June e John vira uma espécie de romance impossível: os dois se apaixonam, mas o tempo corre contra o relógio, como se tudo fosse desaparecer.
O motivo? June acredita, por conta de um pesadelo, que o fim de sua vida está próximo. A partir daí, quer viver tudo no limite, com o máximo de emoção — e com John ao seu lado.
Esta é a trama comandada pelo cineasta Luc Besson e que estreia nos cinemas brasileiros na quinta-feira, 12. É o segundo trabalho do francês em dois anos: ano passado foi o ótimo Dogman, surpresa que agradou aos críticos e ao público por seu tom debochado.
June e John: mistura de tudo e de nada
O mesmo, porém, não pode ser dito sobre June e John, talvez o trabalho mais indiferente e estranho (no mau sentido) da carreira do cineasta. Ele, que já comandou obras como O Profissional e O Quinto Elemento, tenta colocar sua estética e suas ideias em uma espécie de romance que busca se aproximar do cinema de ação pelo caos das escolhas do casal. É até difícil de explicar. Talvez seja um Bonnie & Clyde moderno, um Thelma & Louise neon, um Doce Novembro reinterpretado, uma versão mais romântica de Corra, Lola, Corra.
Mas sem o brilho de nenhum desses, é claro.

Afinal, June e John patina, justamente, na busca por um significado para sua existência. Tudo ali é batido e óbvio. É como se Besson estivesse tentando ir além desses filmes já citados, mas não consegue trazer uma novidade sequer. Esse tipo de história já foi contada inúmeras vezes. O público já sabe o começo e o final. Até mesmo a estética é morna: com os cabelos coloridos de June, lembramos de Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças; com a personalidade dela, de (500) Dias com Ela; e por aí vai. Nada é realmente original.
Isso causa um sentimento constante de que estamos assistindo a um filme de 2010 e que, mesmo nessa época, já soaria pouco original. Decepcionante para um cineasta que, há pouco mais de um ano, nos entregou uma obra propositadamente cafona e camp, e ainda assim muito divertida, que foi Dogman. Uma baita queda de qualidade entre dois filmes.
Boa química
Mas nem tudo está perdido em June e John, pelo menos. Besson faz jus por ser conhecido por ser um cineasta que revela ou impulsiona a carreira de bons atores. É o caso de Jean Reno com Imensidão Azul ou Natalie Portman em O Profissional e por aí vai. Aqui, acerta ao escalar Matilda Price e Luke Stanton Eddy como protagonistas. Os dois possuem quase nada de créditos no currículo, mas funcionam maravilhosamente bem em cena. Dá para dizer que são duas revelações.

Besson, afinal, incentivou os dois a conviverem antes das gravações. Chegaram no filme já com alguma relação entre eles. Isso, que não seria possível, de forma alguma, com atores com agendas cheias, impulsiona o romance do filme. O espectador compra aquela ideia de um amor fulminante, de tudo correr contra o relógio — como é, afinal, a impressão de quando nos apaixonamos. Besson acerta aqui e fica um gosto amargo. É com se fosse um caminho muito mais interessante para o filme se fosse mais um romance e menos ação.
June e John, assim, é um capítulo estranho e pouco empolgante na carreira de Besson, esse cineasta de tantos altos e baixos, indo de O Quinto Elemento à Valerian, de Nikita à Anna e por aí vai. Outros dois filmes dele já estão em produção. São eles: Drácula: A Love Tale, reinterpretação do vampiro, e The Last Man, um filme futurista pós-apocalíptico. É torcer para que Besson esteja em seu melhor. Afinal, quando acerta, difícil não se divertir.