Em um universo saturado de histórias de super-heróis, The Boys surge como uma resposta ácida e visceral, desconstruindo mitos e expondo as entranhas do poder.
A série, que se tornou fenômeno global, não existiria sem seu elenco magistral — um time de atores que mergulha sem medo na complexidade de personagens moralmente ambíguos. De Karl Urban como o rancoroso Billy Butcher a Antony Starr na pele do psicopata Homelander, cada performance é um estudo de nuances e intensidade.
Neste artigo, exploramos como Jack Quaid (Hughie), Erin Moriarty (Starlight) e todo o elenco principal transcendem o expectável, transformando anti-heróis em ícones da cultura pop. Entenda por que The Boys não seria a mesma sem suas interpretações brutais, que equilibram humor negro, tragédia humana e crítica social com maestria.
A série The Boys
Adaptada dos quadrinhos de Garth Ennis e Darick Robertson, The Boys reinventa o gênero ao expor o lado podre de supostos heróis. Desenvolvida por Eric Kripke, a trama acompanha um grupo de vigilantes liderados por Billy Butcher (Karl Urban), que desafiam a Vought International — corporação que comercializa supers como produtos de entretenimento.
A premissa central gira em torno do embate entre Os Sete (equipe de “heróis” narcisistas e corruptos) e Os Rapazes (justiceiros dispostos a qualquer coisa para desmascarar a farsa). Com uma narrativa que mistura humor ácido, violência gráfica e críticas sociais afiadas, a série questiona o culto à celebridade, o militarismo e a manipulação midiática.
Destaque para o arco de Hughie Campbell (Jack Quaid), cuja vida vira um pesadelo após a namorada ser morta pelo supersônico A-Train — evento que desencadeia sua jornada de vingança e descoberta das podridões por trás do sistema heroico. Enquanto isso, Homelander (Antony Starr) personifica o fascismo disfarçado de patriotismo, tornando-se um dos vilões mais perturbadores da TV contemporânea.
A série ainda expande seu universo com spin-offs como Gen V, explorando o treinamento de jovens supers, e mantém sua relevância ao refletir dilemas éticos e políticos atuais.
O elenco de The Boys
O sucesso de The Boys repousa em um elenco que personifica a dualidade entre heroísmo e corrupção. Cada ator mergulha sem reservas na ambiguidade de seus personagens, criando uma sinergia que amplifica o humor negro, a crítica social e a tensão narrativa. Desde os protagonistas até figuras secundárias, o elenco transforma a série em um estudo de personagens inesquecíveis.

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Karl Urban como Billy Butcher
Karl Urban (Dredd) dá vida a Billy Butcher, o líder carismático e implacável do grupo que desafia os super-heróis corrompidos. Butcher é um anti-herói movido por uma fúria pessoal contra os Supes, especialmente Homelander, a quem culpa pela tragédia que destruiu sua família.
Urban entrega uma performance intensa, equilibrando o sarcasmo mordaz e o lado sombrio do personagem com momentos de vulnerabilidade e humanidade. Na série, Butcher é retratado como um estrategista brilhante, disposto a ultrapassar qualquer limite para atingir seus objetivos — inclusive manipular e colocar sua equipe em situações extremas.
Sua relação complexa com Hughie Campbell, marcada por uma mistura de proteção e dureza, é um dos pilares emocionais da trama. A atuação de Urban foi amplamente elogiada por críticos e fãs, que destacam sua capacidade de tornar Butcher ao mesmo tempo temido e fascinante, consolidando o personagem como um dos anti-heróis mais marcantes da televisão contemporânea.
Antony Starr como Homelander
Antony Starr (O Pacto) entrega uma das performances mais marcantes da televisão contemporânea ao interpretar Homelander, o líder dos Sete em The Boys.
Muito além de um simples vilão, Homelander é um personagem complexo: um narcisista sádico, egocêntrico e psicologicamente instável, que esconde sua verdadeira natureza sob a fachada de herói perfeito.
Starr constrói o personagem com nuances, revelando não só sua crueldade e imprevisibilidade, mas também traços de infantilidade e traumas profundos, resultado de uma criação desumana e sem afeto.
Ao longo das temporadas, a atuação de Starr destaca a dualidade de Homelander — capaz de gestos de aparente gentileza em público, mas brutal e manipulador nos bastidores. O ator foi amplamente elogiado por evitar o exagero, tornando o personagem assustador justamente por sua humanidade distorcida e imprevisível.
Jack Quaid como Hughie Campbell
Jack Quaid (Novocaine: À Prova De Dor) interpreta Hughie Campbell, o protagonista que serve como o coração moral de The Boys.
Inicialmente apresentado como um jovem comum e vulnerável, Hughie é impulsionado a se juntar ao grupo de vigilantes após a morte trágica de sua namorada Robin, causada pelo super-herói A-Train. Esse evento traumático marca o início de sua jornada de amadurecimento e resistência frente à corrupção dos Supes e da corporação Vought.
Ao longo das temporadas, Quaid constrói um personagem que evolui de alguém inseguro e reativo para um membro cada vez mais confiante e resiliente da equipe. Sua relação com Billy Butcher e Starlight é central para a trama, proporcionando momentos de tensão, lealdade e crescimento emocional.
Erin Moriarty como Starlight
Erin Moriarty (Herança de Sangue) interpreta Annie January, a Starlight, em The Boys, trazendo profundidade e humanidade à personagem que representa o lado mais idealista e íntegro do universo da série.
Starlight começa sua trajetória como uma jovem heroína cheia de esperança, criada em um ambiente religioso e com valores sólidos, mas logo se depara com a dura realidade dos bastidores dos super-heróis e da corporação Vought.
Moriarty destaca que a personagem, inicialmente ingênua, amadurece ao longo das temporadas, enfrentando adversidades e traumas, mas sem perder seu desejo genuíno de fazer o bem e ser uma verdadeira heroína.
A atuação de Moriarty é marcada pela entrega emocional e pela complexidade com que constrói Starlight, mostrando suas vulnerabilidades, dúvidas e força diante das injustiças e abusos que presencia.
Tomer Capone como Frenchie
Tomer Capone (7 dias em Entebbe) interpreta Frenchie, um dos personagens mais complexos e carismáticos de The Boys.
O ator israelense mergulha em uma construção multifacetada: Frenchie é ao mesmo tempo o especialista em armas do grupo, um sobrevivente marcado por traumas e um amigo leal, especialmente para Kimiko, com quem desenvolve uma das relações mais profundas e sensíveis da série.
Ao longo das temporadas, Frenchie evolui de um assassino impulsivo para alguém em busca de redenção, enfrentando o peso de suas escolhas passadas. Capone destaca que Frenchie é uma “alma atormentada navegando em um mundo caótico”, e que sua sexualidade e relações — como a com Colin — são retratadas sem rótulos, reforçando a fluidez e profundidade emocional do personagem.
Karen Fukuhara como Kimiko
Karen Fukuhara (Trem-Bala) interpreta Kimiko Miyashiro, conhecida como “The Female”, em The Boys, trazendo uma das personagens mais enigmáticas e emocionalmente complexas da série.
Kimiko é uma super marcada por um passado traumático: vítima de experimentos e treinada como assassina pela Shining Light Liberation Army, ela carrega o peso de inúmeras vidas tiradas ainda na juventude. Seu mutismo não é resultado de trauma físico, mas sim psicológico, fruto do arrependimento e da culpa por suas ações — uma escolha desenvolvida em colaboração entre Fukuhara e o showrunner Eric Kripke, para manter aberta a possibilidade de evolução e esperança para a personagem.
Ao longo das temporadas, Kimiko evolui de uma figura selvagem e silenciosa para alguém que busca redenção, pertencimento e conexão humana, especialmente através de sua relação com Frenchie. Fukuhara destaca a importância da comunicação não verbal para a personagem, utilizando linguagem de sinais e expressões corporais para transmitir emoções profundas, tornando Kimiko uma presença marcante mesmo sem palavras.
Laz Alonso como M.M.
Laz Alonso (Sob Custódia) interpreta Mother’s Milk (M.M.), o membro mais estratégico e moralmente firme dos Boys. Como um ex-soldado obcecado por justiça, M.M. carrega o trauma de ver sua família ser destruída por supers — especialmente Soldier Boy, cujo retorno reacende seu desejo de vingança.
Alonso constrói o personagem com uma mistura de rigidez militar e vulnerabilidade, destacando sua luta contra o Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) e o medo de germes, que o torna paradoxalmente frágil e resiliente.
Sua performance equilibra humor ácido (como em cenas que desafiam seu TOC, envolvendo fluidos corporais repugnantes) e profundidade emocional, especialmente em confrontos com Soldier Boy e em seu papel como figura paterna para os membros mais jovens da equipe.
Chace Crawford como The Deep
Chace Crawford (Nina: No Palco e na Vida) dá vida a Profundo (The Deep), um dos membros mais patéticos e tragicômicos dos Sete em The Boys.
Com uma interpretação que mistura narcisismo e vulnerabilidade, Crawford transforma o personagem em uma sátira mordaz aos super-heróis convencionais. Profundo, cuja habilidade de se comunicar com criaturas marinhas é constantemente ridicularizada, é retratado como um indivíduo inseguro, obcecado por aceitação e fama, mas incapaz de escapar de suas próprias falhas morais.
Crawford aproveita cada momento para destacar a hipocrisia do personagem, como em cenas onde defende os direitos dos golfinhos enquanto ignora atrocidades humanas. Seu passado traumático — incluindo um casamento forçado com uma lula antropomórfica — é explorado com humor ácido, tornando-o simultaneamente repugnante e simpático.
Jessie T. Usher como A-Train
Jessie T. Usher (Shaft) interpreta A-Train (Reginald Franklin), o velocista narcisista e problemático dos Sete em The Boys, cuja jornada oscila entre a arrogância autodestrutiva e uma busca tardia por redenção.
Introduzido como antagonista direto após matar a namorada de Hughie, Robin, em um acidente chocante, A-Train personifica a corrupção e a vaidade dos supers — viciado em Compound V para manter seus poderes e disposto a sacrificar qualquer um para preservar seu status.
Usher constrói um personagem que evolui de um herói performático (que usa identidade afrocentrada como estratégia de marketing) para alguém confrontado com suas próprias contradições.
A performance de Jessie T. Usher foi elogiada por equilibrar comédia trágica e drama introspectivo, consolidando A-Train como um dos personagens mais humanamente falhos — e fascinantes — da série.
Nathan Mitchell como Black Noir
Nathan Mitchell é o responsável por dar vida ao enigmático Black Noir em The Boys, sendo um dos poucos personagens que se destacam mesmo sem dizer uma palavra. Desde a primeira temporada, Mitchell construiu o personagem com uma atuação baseada em linguagem corporal e expressões sutis, transmitindo mistério, intensidade e até momentos de humor silencioso.
O ator incorporou elementos de sua própria vida ao papel, como sua alergia severa a nozes, que foi usada como fraqueza do personagem na trama. No entanto, a trajetória de Black Noir sofreu uma reviravolta impactante ao final da terceira temporada, quando o personagem é brutalmente morto por Homelander após anos guardando um segredo importante sobre Soldier Boy.
Para a surpresa dos fãs, Mitchell retornou na quarta temporada interpretando uma nova versão: Black Noir II, um ator contratado pela Vought para manter a ilusão de que o original ainda está vivo, protegendo a imagem dos Sete e evitando questionamentos públicos.
Esse novo Noir, também interpretado por Mitchell, traz nuances diferentes, já que agora ele é um personagem consciente de estar representando um papel dentro do universo da série, adicionando uma camada de sátira e crítica à manipulação midiática promovida pela Vought.
Como o elenco de The Boys contribui para o tom irreverente e sombrio da série?
O elenco de The Boys é essencial para equilibrar o humor ácido e a violência gráfica que definem a série, criando uma mistura única de sátira e drama. Karl Urban personifica o cinismo brutal com seu sarcasmo mordaz e moralidade distorcida, enquanto Antony Starr eleva a tensão psicológica ao oscilar entre charme midiático e psicopatia, representando a dualidade entre heroísmo e tirania.
Jack Quaid e Erin Moriarty atuam como âncoras emocionais: ele traz vulnerabilidade e crescimento em meio ao caos, e ela contrasta o idealismo com a desilusão, humanizando a narrativa. Já Chace Crawford e Jessie T. Usher mergulham na auto ridicularização, usando o absurdo para criticar a frágil masculinidade tóxica e o culto à fama.
O humor surge em performances como a de Tomer Capone, que mistura lealdade e trauma com cenas de comédia física, e Karen Fukuhara, cuja comunicação não verbal adiciona camadas de ironia e ternura. Até Nathan Mitchell contribui com um misticismo silencioso, que ganha tons meta-humorísticos ao se tornar uma sátira à fabricação de mitos midiáticos.
Cada ator abraça a ambiguidade moral de seus personagens, permitindo que a série critique temas como fascismo, corporativismo e ética distorcida sem perder o ritmo frenético. A química do elenco transforma cenas ultra violentas em comentários sociais afiados, provando que até o mais grotesco pode ser hilário — e profundamente perturbador.
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Conclusão
A série The Boys não seria o fenômeno cultural que é sem a maestria de seu elenco, que transforma anti-heróis moralmente ambíguos em ícones memoráveis.
Karl Urban e Antony Starr personificam extremos opostos — o rancor visceral de Butcher e a psicopatia carismática de Homelander —, enquanto Jack Quaid e Erin Moriarty humanizam a narrativa como âncoras emocionais. Tomer Capone, Karen Fukuhara e Laz Alonso completam o mosaico, equilibrando humor ácido e vulnerabilidade em personagens que desafiam estereótipos.
Cada performance é um estudo de nuances: da arrogância tragicômica de Chace Crawford à autodestruição ambígua de Jessie T. Usher, o elenco constrói uma crítica afiada ao culto do heroísmo e à corrupção sistêmica.
Assim, The Boys prova que, mesmo em um universo dominado por cinismo e violência, há espaço para humanidade — e é o talento do elenco que torna essa dualidade tão fascinante.
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