Hank (Paulo Vieira, na dublagem brasileira) é um cachorro que sonha em ser samurai, mas não é dos mais habilidosos do mundo. Até que, um dia, é enviado para ser o xerife-samurai de uma cidade comandada por gatos. Mas o que era sonho vira pesadelo, já que os gatos não querem saber de cachorros. É aí que entra a graça de ‘O Lendário Cão Guerreiro‘, estreia dos cinemas da última quinta, 25, com Hank tendo que se adaptar ao mundo dos gatos (e vice-e-versa).
Mistura bem óbvia e simples, unindo o universo do kung-fu com o do Velho Oeste, ‘O Lendário Cão Guerreiro’ acerta principalmente em sua mensagem. Em tempos de ódio, o filme prega pelo respeito. Em tempos de separação, o filme segue pelo caminho da reconciliação. Afinal, Hank, aos poucos, vai mostrando seu valor, principalmente a partir da relação que tem com um mestre do kung-fu: Jimbo, um gato mais velho e sábio que tinha deixado a função de lado.

“A gente está em um país, em um mundo guerra. Quanto mais a gente puder falar de paz, de tolerância e de união, melhor. A mensagem do filme de que a gente pode perder tempo brigando ou se unir em um objetivo comum para ter sucesso nisso é o que estamos precisando”, comenta Paulo Vieira, dublador do Hank, em entrevista ao Filmelier. “É a junção das pessoas, com uma história que nos convida a entender que tudo é possível quando as pessoas se unem”, complementa o ator Ary Fontoura, também em conversa com o Filmelier, e que interpreta o imperador-gato Shogun.
Ainda que não atinja a complexidade de alguns dos melhores filmes da Pixar, por exemplo, ‘O Lendário Cão Guerreiro’ chama a atenção por ter uma história importante para as crianças — como Paulo Vieira ressaltou, que fala sobre união em tempos de guerra. “A criança tem uma inteligência poética apurada. Você não precisa explicar tanto. Se diz que o barco é uma borboleta, tá tudo bem, tudo dito. Mas ela precisa de uma tinta a mais nas emoções”, diz Vieira.
Ary completa: não dá para subestimar as crianças. “Elas nos surpreendem. Na minha época, eram menos avançadas. Agora, andam com a tecnologia nas mãos. O celular é uma grande arma, em todos os sentidos. Estão ali, a toda hora. Isso tudo implica que você mude o tratamento, às vezes, em relação às elas. Estão mais do que habituadas e dão lições de vida. Você acha que vai ser o mentor e é o contrário. Não dá para transformar as crianças em babaquinhas”, diz.
‘O Lendário Cão Guerreiro’ e a dublagem
Nos bastidores de ‘O Lendário Cão Guerreiro’, Vieira admite que sentiu emoção com a dublagem de Hank. Afinal, é sua primeira experiência com trabalho de voz. “Tô muito feliz. É um sonho. Sempre quis dublar, ainda mais um filme tão importante”, diz. Ary, enquanto isso, já dublou com ‘Red: Crescer é uma Fera‘, mas chama a atenção de que esta experiência foi diferente. “É profundamente gratificante”, diz. “É representação não com o corpo todo, mas com a voz”.
Falando em representação, é interessante como dá para sentir Paulo e Ary em Hank e Shogun. Eles não ficam atrás da sombra de Michael Cera ou Mel Brooks, os respectivos dubladores dos personagens na versão original em inglês.
“Mais do que a personalidade, a gente coloca o nosso olhar nesses personagens. A voz rouca, mais fraquinho, sem coragem, fraco na hora de lutar. Nossa colaboração, assim, é no timing. No tom que a gente dá para as frases. É aí que entra o trabalho de criação, sem ouvir o original”, comenta Paulo Vieira. “Por mais que um personagem esteja sozinho, sempre tem uma parte da gente que vai junto. Você nunca escapa de ser identificado”, finaliza Ary Fontoura.