Do violão à cápsula espacial: o retorno de Pedro Pascal em flashbacks
A estrutura de flashbacks segue os aniversários de Ellie, e o episódio retorna ao passado para dar profundidade emocional a algo que já sabíamos: a conexão entre Ellie e Joel era mais complexa — e dolorosa — do que aparentava. O resultado é um capítulo emocionalmente devastador e tecnicamente primoroso, ainda que gere debates sobre sua posição na temporada.
Este também é o episódio que marca o aguardado retorno de Pedro Pascal como Joel. O ator — que atualmente está no Festival de Cannes divulgando seu novo filme Eddington — continua mostrando sua força na tela. E sua presença reacende uma crítica que tem rondado a temporada: Bella Ramsey funciona melhor quando contracena com ele.
Bella Ramsey como Ellie é melhor ao lado de Joel
Revisitando uma Ellie adolescente, Ramsey entrega sua performance mais convincente desde a primeira temporada e reencontra aqui a versão de Ellie que mais comove: sarcástica, afetuosa, emotiva. Ao lado de Pascal, ela volta a habitar plenamente a personagem. A química entre os dois retorna com força — e deixa claro o quanto a série sentiu falta dessa dupla. É quando estão juntos que a série recupera sua força.
Direção de Neil Druckmann em The Last of Us 2×6 aposta no afeto como fio condutor
Dirigido por Neil Druckmann, criador do jogo e da série ao lado de Craig Mazin, o episódio carrega uma intimidade incomum. Druckmann preza pelas sutilezas — e bebe diretamente da linguagem visual do jogo, resgatando também o tom mais sensível e intimista da primeira temporada. A câmera acompanha Joel e Ellie como uma testemunha silenciosa, focando em gestos contidos, olhares evasivos e silêncios reveladores.
A fotografia reforça essas escolhas: mais quente nos aniversários felizes de Ellie, mais fria e opaca conforme os anos passam e a relação entre os dois esfria. O resultado é uma narrativa visual coerente com a progressiva perda de inocência e a escalada da tensão emocional.
Em vez de construir tensão com perigos externos, Druckmann aposta no drama interno e nas relações pessoais para emocionar. O contraste com a brutalidade do episódio anterior é marcante e eficaz.

Pedro Pascal como Joel: uma despedida marcante em The Last of Us
Como Joel em The Last of Us, Pedro Pascal entrega uma das atuações mais contidas e potentes da série, transformando silêncios em declarações. Desde a abertura com o jovem Joel (interpretado por Andrew Diaz) enfrentando seu pai, até os últimos minutos no alpendre com Ellie, tudo em sua performance comunica dor, culpa e amor.
Joel como pai para Ellie: amor, mentira e herança emocional
O episódio apresenta Joel como um pai que tenta, com falhas e acertos, oferecer à filha adotiva o que ele nunca teve. Logo no início, uma cena de 1983 mostra Joel adolescente recebendo conselhos do pai (Tony Dalton, o Lalo Salamanca de Better Call Saul). A conversa sobre ciclos de violência é retomada na relação com Ellie, revelando como Joel tenta ser melhor que seus antecessores, ainda que fracasse ao esconder verdades e tomar decisões sem consultar a jovem.
Eugene, Gail e a mentira que expõe a verdade
Joe Pantoliano, conhecido por seus papéis em Matrix e Família Soprano, dá dignidade ao breve papel de Eugene. O personagem serve como catalisador para uma das revelações mais duras da temporada. A decisão de Joel de matar Eugene antes que ele se transforme não é apenas pragmática — é um espelho de sua decisão no hospital em Salt Lake City. É nesse momento que Ellie percebe: o homem que ela ama como pai escolhe sempre por ela, e não com ela. É uma quebra definitiva de confiança, que recontextualiza toda sua raiva e culpa no presente.
Mais do que a morte de Eugene, é a mentira para Gail (Catherine O’Hara) que empurra Ellie para a ruptura definitiva com Joel.
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Flashbacks poderosos, mas momento discutível
A escolha de dedicar um episódio inteiro ao passado é poderosa, mas arriscada. Em um momento em que a narrativa principal avança em ritmo frenético, Druckmann puxa o freio de mão para revisitar os afetos, tal como aconteceu no episódio 3 da 1ª temporada, focado na história de Bill e Frank.
Apesar de sua força narrativa e emocional, o episódio de flashbacks sobre Joel e Ellie foi colocado como o penúltimo da temporada. Isso gera um efeito colateral: a história presente, que envolve a caça de Ellie a Abby (Kaitlyn Dever) em Seattle, é pausada por completo. Com apenas um episódio restante na 2ª temporada, fica a dúvida se haverá tempo hábil para concluir esse arco com a mesma potência. Ainda assim, O Preço se destaca como um dos pontos altos da temporada e da série.
A última conversa — e o perdão que nunca chega
O diálogo final na varanda, reconstruído a partir da abertura da temporada, é um dos momentos mais devastadores da série. Ellie exige a verdade, e Joel finalmente entrega. Não há grandes discursos: Pascal atua com o olhar, o silêncio, o peso nos ombros. E Ramsey responde à altura, com a frase que dá sentido a todo o episódio: “Eu não sei se posso te perdoar… mas eu gostaria de tentar”.
É nesse instante que percebemos que a reconciliação era possível. Mas o tempo não perdoa. É um episódio poético, que nos obriga a revisitar não só os fantasmas de Joel, mas os nossos próprios: os afetos mal resolvidos, os silêncios que falam mais que palavras, os perdões que nunca teremos tempo de conceder. Se a série quer mostrar que o amor é a verdadeira ruína da humanidade, este capítulo prova que também é a única coisa que resta quando tudo se quebra.
Uma despedida à altura de Joel — e um chamado à Ellie
Sem dúvidas, este é o episódio mais íntimo e emocional da temporada. Em termos de ritmo, pode parecer um desvio. Em termos de dramaturgia, é um golpe certeiro. A série aposta no afeto como ferramenta de destruição — e redenção. Joel se foi, mas deixa em Ellie não apenas traumas, e sim a pergunta mais incômoda da série: é possível amar sem repetir os erros dos nossos pais?
Se The Last of Us é uma história sobre ciclos de violência e herança emocional, este episódio é a peça que faltava para entender por que Ellie precisa — e teme — se tornar alguém como Joel.
O sexto episódio de The Last of Us temporada 2 devolve ao público o que muitos sentiam falta: a emoção da relação entre Joel e Ellie. Com atuações marcantes de Pedro Pascal e Bella Ramsey, e roteiro que privilegia o afeto em meio ao caos, o capítulo ressignifica tudo que veio antes e prepara terreno para o desfecho da temporada.
Tudo sobre a 2ª temporada de The Last of Us
Quantos episódios tem a segunda temporada de The Last of Us?
A segunda temporada de The Last of Us terá 7 episódios. O final da temporada será exibido no dia 25 de maio, às 22h (horário de Brasília), na HBO e na Max.
Que horas sai o episódio 6 de The Last of Us?
O episódio 6 da 2ª temporada de The Last of Us estreou no domingo, 18 de maio de 2025, às 22h no horário de Brasília.
Onde assistir a The Last of Us online?
Você pode assistir à série The Last of Us com exclusividade na HBO Max, com versões dubladas e legendadas em português. Confira como assistir ao streaming online e de graça.
Leia também: críticas anteriores de The Last of Us
1ª temporada
- 1×01 – The Last of Us tem tudo para ser a nova série evento da HBO
- 1×02 – episódio 2 da série tem cenas de terror e reviravolta “soco no estômago”
- 1×03 episódio 3 tem cenas inéditas, tom romântico e dramático
- 1×04 – episódio 4 é menos impactante, mas aprofunda a narrativa
- 1×05 – episódio 5 prova que a série não está para brincadeira
- 1×06 – episódio 6 tem encontro aguardado e “momento família”
- 1×07 – episódio 7 revela como Ellie foi mordida
- 1×08 – episódio 8 é o mais intenso e perturbador da temporada
- 1×09 – episódio 9 tem desfecho polêmico e chocante
2ª temporada
- 2×01 – Série retorna mais sombrio e introspectivo na estreia da 2ª temporada na HBO
- 2×02 – The Last of Us reencontra sua força dramática com reviravolta do episódio 2 na HBO
- 2×03 – Bella Ramsey segura a 2ª temporada de The Last of Us? Crítica do episódio 3 analisa a nova fase
- 2×04 – The Last of Us encontra equilíbrio perfeito entre horror e romance no episódio 4 da 2ª temporada
- 2×05 – Quinto episódio da 2ª temporada brilha em cenas de ação mas roteiro falha com Ellie