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Crítica de ‘A Useful Ghost’: Humanos sonham com fantasmas eletrodomésticos? (Cannes 2025)

O que você verá aqui:

No papel, uma comédia de fantasmas que possuem aspiradores de pó e outros eletrodomésticos poderia soar como a via menos apropriada para refletir sobre temas como repressão e memória histórica. Mas é exatamente isso que A Useful Ghost (Tailândia, Singapura, França, 2025) propõe — filme exibido na Semana da Crítica do Festival de Cannes 2025.

E, contrariando o bom senso, o diretor tailandês Ratchapoom Boonbunchachoke faz funcionar o delicado equilíbrio entre comédia sobrenatural e comentário social em seu longa de estreia. Em parte, ele consegue isso por meio de um humor irônico e ácido, construído com atuações contidas e enquadramentos cujas composições e distanciamento exaltam o absurdo de certas situações. Algo que não está tão distante do cinema de Wes Anderson.

Outra semelhança com o cineasta norte-americano é o uso do dispositivo narrativo de histórias dentro de histórias. Assim como O Grande Hotel Budapeste (The Grand Budapest Hotel, EUA e Alemanha, 2014) começa em um cemitério com o busto de um escritor e segue com a história que inspira seu livro mais famoso, A Useful Ghost começa com outro tipo de homenagem ao passado e aos mortos. Modelos posam como operários, agricultores, soldados e professores para a criação de uma escultura que deve servir como memorial em uma praça pública.

Mas, quando a história principal começa, o memorial já foi demolido — junto com toda a praça — para dar lugar à construção de um shopping center. A poeira da obra está causando doenças respiratórias e mortes na população, assim como um aumento na compra de aspiradores de pó. Um jovem gay (Wisarut Homhuan) – representante de um grupo ainda profundamente discriminado na sociedade tailandesa – compra um que parece “tossir” o pó de volta.

O técnico de manutenção (Wanlop Rungkumjad) explica que provavelmente o aspirador está mal-assombrado, algo comum nos eletrodomésticos daquele fabricante. Ele conta que a fábrica, de uma empresa familiar, sofreu várias tragédias: primeiro, a morte do dono por doença respiratória. Nat (Davika Hoorne), esposa de um dos filhos, March (Wisarut Himmarat), também morreu da mesma forma. Ambos, no entanto, se recusam a deixar o plano terreno. O dono, movido pelo ressentimento, possui as máquinas e assombra a fábrica. Ela, por amor ao marido, possui um aspirador para permanecer ao lado dele.

As três subtramas de A Useful Ghost se desenvolvem de forma entrelaçada, revelando, aos poucos, intrigas entre os personagens e um subtexto social mais forte. Para isso, no mundo do filme, os fantasmas são aceitos como parte do cotidiano com uma naturalidade ácida. É claro que aquele aspirador veio visitar o marido.

A Useful Ghost
Eletrodomésticos mal-assombrados são uma questão totalmente normal (Créditos: JHR Films / Festival de Cannes)

A Useful Ghost reflete sobre memória histórica desde o sobrenatural

Esses fantasmas curiosos funcionam como símbolo duplo. Por um lado, sua condição de eletrodomésticos possuídos lhes confere uma faceta utilitária, instrumental, que é levada a terrenos mais sombrios e inquietantes por forças externas (afinal, o que seria um “fantasma útil”, como sugere o título? Qual o peso da palavra “útil”?).

Em uma das subtramas, um personagem fantasmagórico é forçado a continuar “sendo útil” — ou seja, a servir interesses alheios mesmo após a morte. Um tema recorrente no cinema asiático, como em Sociedade dos Talentos Mortos (Taiwan, 2024), ou Mickey 17 (EUA, Coreia do Sul, 2025), do sul-coreano Bong Joon-ho. Seja por vias sobrenaturais ou tecnológicas, parecemos condenados a produzir eternamente para os outros.

O contraponto está na segunda faceta dos fantasmas: eles são também símbolos da memória histórica, testemunhas de acontecimentos passados que só permanecem no mundo porque insistimos em lembrar deles.

A Useful Ghost
Nat precisa ser lembrada pelo marido para não desaparecer (Créditos: JHR Films / Festival de Cannes)

Para compreender melhor A Useful Ghost, é útil conhecer um pouco da história da Tailândia, marcada por golpes de Estado e repressões militares violentas. Entre os episódios mais notáveis estão o massacre na Universidade Thammasat em 1976, o “Maio Sangrento” de 1992 e, mais recentemente, a repressão militar a manifestantes contra a ditadura em 2010.

Embora sejam eventos específicos da Tailândia, qualquer espectador que tenha vivido algo semelhante em seu país poderá identificar (e se identificar com) o que o filme de Boonbunchachoke quer dizer – melhor resumido pela raiva de um dos personagens: “os fantasmas não se rendem à morte”. É preciso lembrar dos fantasmas, mas também manter vivos os memoriais, os espaços públicos e o amor — para que não voltemos a cair nas armadilhas do ódio, da repressão, da exploração e do interesse privado.

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