Day One é o episódio mais completo da 2ª temporada de The Last of Us
Com movimentos de câmera fluídos e composições visuais impactantes, Herron guia o episódio com firmeza e delicadeza. A sequência do metrô é exemplo claro: ao misturar gore, suspense e emoção autêntica, ela cria um dos momentos mais marcantes da temporada. A iluminação vermelha claustrofóbica e o som abafado de corredores fechados são usados com maestria para amplificar o desespero de Ellie (Bella Ramsey) e Dina (Isabela Merced).
No entanto, não é apenas nas cenas de ação que a direção de Kate Herron brilha. A pausa romântica na loja abandonada, onde Ellie canta “Take On Me”, de A-Ha, é capturada com uma sensibilidade que apenas um olhar atento pode oferecer: a luz natural emoldura as personagens, e os silêncios dizem mais que os diálogos. É a beleza do cotidiano brotando em meio à destruição.

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Design de produção impressiona e traz peso ao mundo devastado
Mais uma vez, Seattle é quase um personagem em si. O design de produção transforma a cidade em um campo de batalha vivo: tanques enferrujados, cartazes rasgados, corpos pendurados. O capricho nos cenários torna a ambientação não apenas verossímil, mas também rica em significado simbólico. A guerra não é só mostrada, ela é sentida. Há ainda um bônus para os fãs do jogo: cenas inteiras, como as do metrô e do violão, são reproduzidas com extrema fidelidade, inclusive os takes de filmagem, a pedido do showrunner Craig Mazin. É um “fan service” nostálgico que emociona sem parecer gratuito.
Além da tensão e do drama, o episódio 4 de The Last of Us traz uma observação sutil e poderosa sobre o tempo. Desde a 1ª temporada, a série retrata um mundo congelado em 2003 — ano em que o surto do fungo cordyceps mudou tudo. Isso se reflete não apenas na estética visual e nos objetos em cena, mas também nas referências culturais.
Nos episódios 3 e 4 da 2ª temporada, Ellie e Dina fazem referências a músicas antigas, de antes de 2003, e tropeçam em símbolos que perderam seus significados originais — como a icônica bandeira do arco-íris, que ambas (que cresceram neste mundo devastado) não reconhecem como símbolo do movimento LGBTQ+. Essa escolha do roteiro mostra que, enquanto a natureza seguiu seu curso e engoliu as cidades, a sociedade estagnou. A falta de progresso social e cultural é uma crítica silenciosa, mas contundente, que reforça a densidade temática da 2ª temporada de The Last of Us.
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Jeffrey Wright e Ryan Masson exploram os extremos da moralidade
A presença de Jeffrey Wright como Isaac eleva o nível dramático. O ator, indicado ao Oscar por Ficção Americana e ao Emmy por Westworld, já havia participado do jogo como dublador (e captura de movimento) de Isaac e foi trazido de volta para a série, em uma escolha super acertada.
Em um flashback de 2018, ele abandona a FEDRA após testemunhar abusos intoleráveis, num gesto que mistura justiça e frieza. Já no presente, ele reaparece liderando a WLF com brutalidade calculada, em uma cena perturbadora de tortura com o prisioneiro Serafita, Malcom, vivido por Ryan Masson (A Última Parada do Arizona).
Herron evita o óbvio: a cena é filmada com distância e economia de cortes, apostando no desconforto do espectador diante da banalização da violência. Wright domina a cena com precisão, evitando exageros, transmitindo dor, pragmatismo e um senso distorcido de justiça. Masson, por sua vez, entrega uma atuação marcante mesmo em silêncio, evocando medo e resistência.
Mostrando que o poder corrompe, o roteiro sutilmente aborda as mudanças no caráter de Isaac: em 2018, ele se ofende que a FEDRA apelida pessoas comuns de “eleitores” com desprezo. Porém, onze anos depois, ele chama seus inimigos de “cicatrizes”.
Ellie mais adulta, Dina mais complexa: uma relação que cresce sob pressão
Em paralelo, Dina tem seu episódio mais forte até agora. A personagem de Isabela Merced revela estar grávida de Jesse (Young Mazino), se assume bi e admite seus sentimentos por Ellie. Tudo isso é feito sem melodrama, com atuações contidas e honestas. Ramsey e Merced demonstram química genuína, sustentando os momentos mais intensos do episódio tanto emocional quanto fisicamente. A atuação de Bella Ramsey ganha maturidade ao equilibrar o trauma e a descoberta do amor.
A série, aqui, vai além do “fan service”: entrega uma representação LGBTQ+ que é orgânica, sem panfletagem. As inseguranças de Dina diante de sua sexualidade, marcadas pela repressão familiar, são abordadas com empatia. E o gesto de Ellie se colocando em risco por ela mostra que, no fim, o amor é o maior motor das ações dessa história.
Faltando apenas três episódios para o fim da temporada, ainda há muito a ser explorado no conflito entre Wolves e Serafitas. A aposta em desenvolver com calma a relação entre Ellie e Dina, que agora ocupa o centro emocional da série, foi certeira — mas fica a expectativa de que o roteiro avance nos próximos capítulos. Além disso, pelo menos mais uma participação de Pedro Pascal já foi antecipada nos trailers. Por mais que série tenha avançado sem Joel, há terreno fértil para mais flashbacks e camadas ainda não reveladas. Não à toa, a 3ª temporada da série já foi confirmada.
Que horas sai o episódio 4 de The Last of Us e onde assistir online
Para quem quer saber que horas sai o episódio de The Last of Us, o capítulo 4 já está disponível na Max desde as 22h de domingo (horário de Brasília).
Onde assistir ao episódio 4 de The Last of Us
A série é exibida semanalmente aos domingos, às 22h, na HBO e no streaming Max (antiga HBO Max). Os episódios da 2ª temporada de The Last of Us são lançados sempre no mesmo horário.
Leia também: críticas anteriores de The Last of Us
1ª temporada
- 1×01 – The Last of Us tem tudo para ser a nova série evento da HBO
- 1×02 – episódio 2 da série tem cenas de terror e reviravolta “soco no estômago”
- 1×03 episódio 3 tem cenas inéditas, tom romântico e dramático
- 1×04 – episódio 4 é menos impactante, mas aprofunda a narrativa
- 1×05 – episódio 5 prova que a série não está para brincadeira
- 1×06 – episódio 6 tem encontro aguardado e “momento família”
- 1×07 – episódio 7 revela como Ellie foi mordida
- 1×08 – episódio 8 é o mais intenso e perturbador da temporada
- 1×09 – episódio 9 tem desfecho polêmico e chocante