“Um drama de padres”, “thriller de fofocas no Vaticano”, “12 Homens e uma Sentença para católicos” – muitas foram as tentativas de definir Conclave, filme que chegou aos cinemas em janeiro de 2025 e já disponível nos serviços de streaming. Contudo, nenhuma dessas descrições consegue capturar a verdadeira essência desta obra dirigida por Edward Berger, cineasta suíço que ganhou notoriedade após Nada de Novo no Front.
O filme apresenta uma premissa sólida: os bastidores de um conclave para escolher o próximo papa. O cardeal Lawrence (Ralph Fiennes, em interpretação magistral) é o responsável por conduzir a votação – processo que pode se estender por dias ou semanas. Entre os favoritos para assumir o papado estão os cardeais Tremblay (John Lithgow), Bellini (Stanley Tucci), Adeyemi (Lucian Msamati) e Tedesco (Sergio Castellitto).
Adaptado do livro de Robert Harris, o roteiro de Peter Straughan (conhecido por O Espião Que Sabia Demais) utiliza a atmosfera claustrofóbica do conclave para construir um thriller político que evoca filmes como Michael Clayton, Z e O Informante – todos explorando bastidores repletos de intrigas, politicagem, mentiras e revelações surpreendentes.
‘Conclave’, um filme com algo a dizer
Berger, no entanto, vai além das meras intrigas palacianas. O filme transcende o gênero thriller para fazer uma reflexão mais profunda, demonstrando como a Igreja não pode permanecer isolada do mundo exterior. Os cardeais se isolam em suas bolhas, claro. Mas a realidade insiste em penetrar esse ambiente fechado. Seja quebrando uma janela, arrombando uma porta ou chegando na forma de um novo membro do conclave. Alguns interpretam o filme como uma visão otimista sobre a modernização da Igreja, enquanto outros enxergam um questionamento sobre essa instituição nos novos tempos.

O aspecto mais fascinante de Conclave, porém, está na forma como Berger retrata o desenvolvimento do desejo pelo poder nos personagens. No início do filme, muitos rejeitam a possibilidade de se tornarem papa. Gradualmente, essa postura muda. Um dos momentos mais reveladores mostra um cardeal que, após negar por dias qualquer interesse no papado, responde instantaneamente qual seria seu nome papal quando questionado.
Essa narrativa inteligente sobre poder e corrupção é elevada por atuações memoráveis, começando com Fiennes em um dos papéis mais fortes de sua carreira. O elenco de apoio também brilha, com Lithgow, Tucci e Castellitto transformando cada cena em que surgem.
Embora Conclave tenha sido esnobado no Oscar 2025 – com Anora e O Brutalista tomando conta das principais categorias, apesar das controvérsias, e a disputa acirrada entre Fiennes, Adrien Brody e Timothée Chalamet pelo prêmio de Melhor Ator – o filme de Berger permanece como uma obra provocativa que deixou sua marca no público e na crítica.