Com roteiro de Manuela Dias, o remake de Vale Tudo (com Raquel, Maria de Fátima, Ivan e César) atualiza o clássico da Globo com protagonistas negras, dilemas éticos atemporais e uma crítica afiada às elites — como em Succession, The White Lotus e Triângulo da Tristeza.
Neste conteúdo, você descobrirá elementos importantes da trama que foi revista para que fossem mais alinhados nos dias atuais. Todos os capítulos estão disponíveis no canal de streaming Globoplay, e na tv aberta, o capítulo do dia vai ao ar a partir das 21h15 no canal Globo de segunda à sábado.
Um clássico da TV brasileira, agora em nova versão
Exibida originalmente em 1988, Vale Tudo marcou a teledramaturgia nacional ao questionar os limites éticos para se alcançar o sucesso. Ambientada em um Brasil que emergia da ditadura militar e vivia a construção de uma nova Constituição, a novela discutiu temas como corrupção, ambição, desigualdade e moralidade, eternizando a pergunta: vale tudo para vencer na vida?
Quase quatro décadas depois, a TV Globo lança, em 2025, uma nova versão da obra sob a autoria de Manuela Dias (Amor de Mãe), atualizando tramas e personagens sem perder a essência do original.
O que muda no remake de Vale Tudo (2025)

Protagonistas negras e novos conflitos sociais
A escalação de Taís Araújo como Raquel e Bella Campos como Maria de Fátima renova profundamente a narrativa. A vivência de uma mulher negra no papel da protagonista insere camadas inéditas na história, expondo com mais força o racismo estrutural, a desigualdade de oportunidades e os desafios de ascensão social no Brasil.
Atualização de temas sensíveis
Temas como redes sociais, trabalho infantil, alcoolismo e violência de gênero — anteriormente tratados de forma normalizada ou periférica — ganham novas abordagens, mais conscientes e compatíveis com os valores contemporâneos. Cenas como a contratação de crianças por Raquel, por exemplo, são ressignificadas dentro de um novo contexto.
Relações afetivas mais plurais
Maeve Jinkings interpreta Cecília casada com Laís (Lorena Lima). O casal adota uma filha, Sarita. Na versão original, essa relação era sugerida com discrição; no remake, ganha protagonismo e naturalidade, refletindo os avanços sociais e de representatividade das últimas décadas.
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Elenco do remake de Vale Tudo

O remake aposta em um elenco de peso, diverso e alinhado aos tempos atuais:
Taís Araújo como Raquel Accioli
A atriz Taís Araújo interpreta Raquel Accioli, uma mulher íntegra, batalhadora e símbolo da honestidade. Antes interpretado por Regina Duarte.
Bella Campos como Maria de Fátima
Filha ambiciosa, símbolo do “jeitinho brasileiro” e da sede por ascensão social. Em 1988 foi interpretada por Glória Pires.
Paolla Oliveira como Heleninha Roitman
Sofre com o alcoolismo, o autoritarismo da mãe Odete e a perversidade do ex-marido Marco Aurélio. Na primeira versão, muito bem representada pelo talento de Renata Sorrah.
Débora Bloch como Odete Roitman
A icônica vilã que despreza o povo e manipula a ética em nome do poder. Anteriormente interpretada brilhantemente por Beatriz Segall.
Malu Galli como Celina Roitman
Responsável pela criação dos sobrinhos, Afonso e Heleninha, Celina é uma mulher carismática e bem o contraste da irmã Odete. Nathalia Timberg foi a atriz que viveu a personagem Roitman na primeira versão.

Alexandre Nero como Marco Aurélio
Homem ambicioso e ressentido com as decorrências do vício da ex-mulher Heleninha Roitman. Na primeira versão vivido pelo ator Reginaldo Faria.
Cauã Reymond como César Ribeiro
Envolvido romanticamente com Maria de Fátima. Outro trambiqueiro que faz de tudo para se dar bem na vida e viver no bem bom. Em 1988 interpretado pelo ator galã Carlos Alberto Riccelli.
Renato Góes como Ivan Meirelles
Par romântico de Raquel, Ivan é um personagem dedicado, decidido e ambicioso. Sua honestidade é colocado à prova durante a trama. Antigamente interpretado por Antônio Fagundes.
Humberto Carrão como Afonso Roitman
Filho de Odete, vive um relacionamento com Solange. Afonso é um cara romântico, intelectual e simpático. Diferente de sua mãe Odete Roitman que despreza quem não é da sua classe social. O personagem foi vivido por Cássio Gabus Mendes na primeira versão da novela.
Alice Wegmann como Solange Duprat
Mulher decidida, independente e trabalhadora, Solange Duprat é diretora da agência Tomorrow e atual namorada de Afonso Roitman. Em 1988, vivida por Lídia Brondi.
Carolina Dieckmann como Leila
Ex-mulher de Ivan Meirelles e mãe de seu filho. Na primeira versão de 1988, foi interpretada por Cassia Kis.
Quem matou Odete Roitman em Vale Tudo?
A pergunta que parou o Brasil em 1989 volta com força total. Na versão original, o mistério sobre o assassinato de Odete Roitman mobilizou o país e se tornou um marco cultural. Na nova versão, Odete entra na trama a partir do capítulo 26, exibido em 26 de abril de 2025, data que também celebra os 60 anos da TV Globo.
O remake manterá o suspense, adaptando os motivos e os conflitos que cercam o assassinato, reacendendo a clássica dúvida: vale tudo mesmo para vencer? Até matar?
Um espelho do Brasil — e do mundo
O remake de Vale Tudo revisita um dilema ético profundamente brasileiro e se alinha a grandes produções internacionais que discutem o colapso moral da elite.
- Em Succession (Max), vemos uma dinastia em decadência disputando poder a qualquer custo.
- Em The White Lotus (Max), turistas ricos encaram suas neuroses e preconceitos em resorts de luxo.
- Em Triângulo da Tristeza (2022), a hierarquia social desaba em alto-mar, revelando o absurdo das relações entre classes.
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Essas obras dialogam com Vale Tudo ao expor, com ironia ou tragédia, o vazio moral por trás do privilégio. O remake de 2025 traz essa crítica com um diferencial: o olhar genuinamente brasileiro sobre um sistema que pune a honestidade e recompensa a esperteza.
O Brasil de 2025: crise, desigualdade e esperança
Ironicamente, se em 1988 a novela refletia o nascimento de uma nova Constituição e a esperança de dias melhores, a versão de 2025 chega em um momento de ameaça democrática, crise institucional e desigualdade persistente.
A pergunta permanece: vale a pena ser ético em um sistema que premia a corrupção? Vale Tudo continua sendo uma lente poderosa para observar quem somos — e quem escolhemos ser. É o Brasil mais uma vez mostrando sua cara.