Leia a crítica de Parthenope: Os amores de Nápoles, novo filme da A24 dirigido por Paolo Sorrentino.
Parthenope é estrelado por Celeste Dalla Porta
O que significa Partenope?
De onde vem o nome Parthenope (ou Partênope), com o qual é batizada a protagonista (a hipnótica Celeste Dalla Porta), nascida nas águas azuis de Nápoles no filme homônimo de Paolo Sorrentino (A Grande Beleza)? Trata-se do nome que a cidade italiana tinha na antiguidade, aparentemente derivado da sereia que, na mitologia grega, se jogou ao mar por não conseguir seduzir Ulisses com seu canto.
O nome da protagonista em Parthenope: Os amores de Nápoles — que está em cartaz nos cinemas brasileiros — tem, portanto, duas leituras: uma que a enraíza à idealizada e romântica cidade costeira italiana, e outra que a deifica por sua beleza, mas também antecipa um destino trágico. Ou será que ambas — mulher e cidade — compartilham esse destino?
Paolo Sorrentino e Daria D’Antonio transformam a beleza de Nápoles
Com seu estilo caracteristicamente opulento, que exalta tanto a beleza humana quanto a natural e material, Sorrentino mistura parte do coming-of-age para narrar a vida da mulher a partir de sua juventude universitária, em pleno 1968. Na década em que Fellini ou Antonioni enfrentavam a pós-modernidade com certo cinismo, Sorrentino é caracteristicamente irônico no pior dos casos, e indulgentemente nostálgico no melhor. Filtrada pela lente de sua fotógrafa napolitana Daria D’Antonio (A Mão de Deus), sua Nápoles parece de comercial de perfumes, povoada por modelos com trajes chiques, banhada por luz quente, e com o mar resplandecente.
Qual é a história de Parthenope?
Com 18 anos, a protagonista é bela e inteligente, com o poder de ter tudo, como lhe diz em um encontro fortuito seu escritor favorito, John Cheever (Gary Oldman em um papel minúsculo). Cada homem em sua vida – seu irmão, seu amigo de infância, seu pai, seu professor de antropologia, um amante casual – está destinado a amá-la de alguma forma, seja platonicamente ou romanticamente (sendo o irmão, preso no meio, a figura mais desconfortável). E cada um estará destinado a deixá-la.
Mas Parthenope, o filme, transcende as fronteiras do coming-of-age e se torna uma crônica: a da vida dessa mulher e, em menor medida, da cidade. Enquanto flerta com a ideia de ser atriz, uma estrela consagrada visita Nápoles e insulta seus habitantes, com ressentimento pelo seu passado. Quando se forma em antropologia, a Itália está imersa em protestos. Sua vida se torna uma busca por algum ideal: será que a vida se trata de cultivar o amor, o intelecto, o sexo, a fama? O amor romântico, enquanto isso, a elude.
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Novo filme da A24 tem roteiro poético, mas sem rumo
O problema com este filme, como costuma acontecer com a filmografia de Sorrentino, é que suas buscas acabam diluídas pela sua indulgência narrativa, nostálgica e estética, preciosista. A tragédia da beleza é que ela é efêmera, e algo assim acontece aqui: o encanto por suas imagens e melodias acaba se transformando em certo tédio pela falta de foco no relato. O diretor e roteirista amarra de maneira muito frouxa as vidas paralelas de Parthenope e Nápoles, conduzindo a audiência sem um rumo claro por mais de duas horas de filme.
O resultado é que, ao chegar à conclusão, o filme também não nos diz muito sobre a protagonista, que foi desenvolvida pouco além das dores do abandono por aqueles que a desejavam no passado. Sua tragédia é, também, a fugacidade de sua beleza, admirada por um desfile de Ulisses passageiros.
Como enuncia um dos múltiplos (mas poéticos, isso sim) aforismos do filme: “no final da vida, só resta a ironia”. E talvez também uma turba de napolitanos celebrando um campeonato de futebol, mas não muito mais de conexão entre essas duas ideias.
