Se alguém disser que não estava com um pé atrás com Branca de Neve, live-action de 2025 da Disney, que atire a primeira pedra. O filme não só despertou certo desconforto quanto à adaptação, com materiais de divulgação que navegam pelo Vale da Estranheza, como havia espaço de sobra para questionar as escolhas técnicas e de elenco — indo desde a direção do pouco inventivo Marc Webb (de (500) Dias com Ela), passando pela escolha de Rachel Zegler (Amor, Sublime Amor) como protagonista e Gal Gadot (Mulher-Maravilha) como a madrasta.
Todas as desconfianças, infelizmente, estavam corretas. Branca de Neve, que estreia nesta quinta-feira, 20, é um desastre completo — talvez, um dos piores filmes de 2025. Adaptação da clássica animação de 1937, que basicamente marcou não apenas a entrada da Disney no mundo dos longas, como também comprovou que era possível fazer filmes de animação, o novo longa-metragem tenta modernizar o conto. Algumas coisas mudam na história, indo desde a origem do nome da Branca de Neve até a relação dela com o príncipe, que passa a ter uma história de verdade. Afinal, pra quem não se lembra, na animação ele é enigmático: aparece apenas no começo com One Song e no final, com o beijo.
O live-action, enquanto isso, deixa Branca de Neve mais dona de si. Há uma tentativa de modernidade na coisa toda, com ela dependendo menos dos outros e até mesmo com contexto político. A Rainha Má é mais do que uma madrasta raivosa, é alguém usurpando o poder.
‘Branca de Neve’: um filme frustrado
No entanto, nada disso valida a existência do novo filme ou faz com que a experiência seja interessante. Webb, por mais que se acha um diretor com dotes artísticos, é operacional. Aquele velho diretor de estúdio, que faz o que os produtores querem. Tudo em Branca de Neve é pasteurizado, banal, genérico. Ao contrário de Aladdin, que trouxe um arrebatamento visual, ou dos filmes da Alice de Tim Burton, que tinham algo de diferente no tom, o novo filme é formado apenas por tentativas — de ser mais moderno, de ser autêntico. Todas frustradas.
A escolha consciente de estar no Vale da Estranheza é curiosa e talvez a única que desperte alguma atenção. Isso, inclusive, justifica a escolha de colocar anões de CGI e não com atores reais. Os animais são caricatos, o mundo todo é uma representação de conto de fadas. Mas não há uma única escolha visual que suporte isso. A fotografia é esfumaçada, estranha. Os cenários são exageradamente digitais. E o figurino, que era uma das apostas mais certeiras de quem achava que o filme seria bom, beira o ridículo. É fantasia de Carnaval, não vestido de princesa.

Tudo isso causa um estranhamento. É como se não houvesse uma noção clara de como adaptar Branca de Neve para as telas em 2025 unindo várias necessidades: honrar a animação original e o legado de Walt Disney; modernizar a trama; e, claro, fazer US$ 1 bilhão de bilheteria.
Precisamos falar sobre Gal Gadot
Mas esses são problemas superficiais perto de outros desastres. O primeiro é algo que gritava desde os trailers de Branca de Neve: a atuação de Gal Gadot. Ela, que já se mostrou uma atriz medíocre até mesmo em filmes que exigiam pouco dela, como Velozes e Furiosos ou Mulher-Maravilha, é o elo fraco da coisa toda. Gadot faz caretas, exagera na teatralização, sempre com um problema que ela não consegue vencer: não sabe como modular sua voz em situação alguma. Tudo soa artificial. É como se ela estivesse lendo uma cartolina o tempo todo.
Zegler, enquanto isso, deve agradar aqueles fãs de musicais mais apaixonados pelo gênero — afinal, ela canta MUITO, e muito bem. Mas isso não salva uma falta de carisma exagerada, dando a impressão de que Zegler é apenas uma pessoa fantasiada de Branca de Neve — difícil, muito difícil vê-la como a princesa nesta adaptação. Falta força, originalidade, verdade. No Vale da Estranheza, Zegler é certinha demais.
E as músicas? Quase nada salva. As canções originais são esmagadas em arranjos confusos, atropelados. Enquanto isso, novas músicas, como Princess Problems, contam com boas letras — esta, por exemplo, era pra ser tão bem humorada quanto One Song. Só que também são suprimidas por todos esses problemas acima, desde a dificuldade em comandar toda a história até as atuações dignas de teatro de escola.
Um filme pra esquecer
Branca de Neve, de 2025, é um desastre. Difícil encontrar algo que se salve. Webb não sabe encontrar o tom da trama, o filme fica nesse Vale da Estranheza sem nunca aproveitar a bizarrice da coisa, o elenco não tem afinidade alguma, as músicas se perdem em arranjos infantis.
Tomara, pelo menos, que disso fique uma lição para a Disney: chega! Ninguém aguenta mais live-actions genéricos. Ainda temos Moana e Lilo & Stitch pela frente, mas fica a torcida de que seja apenas isso. Que novas ideias ganhem espaço e que filmes como esses, que são caça-níqueis que não trazem nada de bom para o público, se tornem um passado nada nostálgico.