Confira abaixo a nossa crítica de Assassino por Acaso, comédia romântica de Richard Linklater.
Nos últimos anos, dava para pensar que o cineasta Richard Linklater, de obras-primas como Antes do Amanhecer e Boyhood, estava enferrujado. Afinal, nos trouxe uma safra fraca, com A Melhor Escolha, Cadê Você, Bernadette? e Apollo 10 e Meio: Aventura na Era Espacial. Não são filmes ruins, mas falta magia. Agora, Linklater parece estar de volta à forma: Assassino por Acaso, filme que estreia nos cinemas nesta quarta-feira, 12, traz o melhor do cineasta texano.
Na história, Gary (Glen Powell, de Top Gun: Maverick) é um cara comum. Dá aula de filosofia e psicologia na faculdade, é dono de dois gatos e é amigo da ex-mulher. No tempo livre, como um bico, trabalho como infiltrado da polícia – mais especificamente, finge ser um assassino profissional. E é enquanto está desempenhando esse papel que se apaixona por Madison (Adria Arjona), mulher que deseja contratá-lo para matar o marido. Como lidar com isso?
Assassino por Acaso: uma história divertida
Assim, toda essa história de amor incompreendido e impossível entre Gary e Madison recai no absurdo. Com outro diretor, poderia ser uma comédia de espiões que não sabem como transitar entre diferentes personalidades – algo como no recente Plano em Família. Só que, por mais que seja divertido, Linklater sabe colher algo a mais na trama.

Assassino por Acaso não é apenas uma história divertida, mas também encontra espaço para discutir id, ego, superego, Freud e Jung. As digressões para mostrar momentos de Gary na sala de aula não são apenas cenas para tomar o tempo: trazem discussões sobre filosofia e psicologia que discutem meios de compreender como nos entendemos e encaramos uma persona. Aquela é a nossa personalidade final ou podemos nos transformar? Quem somos?
Em momento algum, Linklater tenta transformar seu filme em um grande tratado existencial ao melhor estilo de Bergman: por mais que tenha essas discussões sobre personalidade, tudo passa por uma lente leve e divertida do cineasta, que se inspirou em uma história real que leu no jornal Texas Monthly, em 2001. A trama ficou martelando na sua cabeça esse tempo todo, ganhando forma nesse filme que sabe se divertir com seus próprios absurdos.
Glen Powell e Adria Arjona brilham
Como cereja do bolo, ainda temos Glen Powell e Adria Arjona: lembrando um pouco a química de Ethan Hawke e Julie Delpy na trilogia do Antes, também de Linklater, os dois se encontram em cena com troca de olhares, gestos, sorrisos. A química encaixa e isso é substancial para entrarmos na proposta do filme. Pode parecer bobagem, mas Assassino por Acaso sem romance seria mais do mesmo – é aqui que Linklater sabe se expressar.

A partir dessa matéria de jornal, Linklater resgata uma história que não só trata de clichês do cinema de forma diferente, colocando a figura do assassino profissional quase como algo impossível, como também faz com que o espectador dê risada, se apaixone e pense sobre a nossa própria personalidade – e as máscaras que usamos no dia a dia – sem nunca pesar na discussão. É o melhor de Linklater, como não víamos desde Jovens, Loucos e Mais Rebeldes, de 2016. Vale a pena aproveitar essa (nova?) boa forma do diretor texano.